Mastite e seus impactos na produção
A mastite bovina é a principal doença infecciosa que afeta a pecuária leiteira no mundo todo. Os principais custos com os rebanhos são, principalmente, com as despesas veterinárias, incluindo o uso de medicamentos que resultam em queda drástica na produção leiteira e, quando não tratada, o animal pode chegar ao óbito. Além disso, geram prejuízos econômicos aos produtores devido à queda de qualidade do leite, impactando significativamente na gestão da fazenda.
A mastite é caracterizada por uma resposta inflamatória da glândula mamária do animal e pode ser caracterizada por duas formas:
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Clínica: gera alterações visíveis no produto, como a presença de coágulos e alteração de cor.
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Subclínica: não apresenta alterações perceptíveis no leite.
A doença pode ser causada por traumas físicos na região mamária, alergia, condição metabólica do animal ou por agentes infecciosos, sendo a forma infecciosa a mais prevalente e, os danos aos tecidos mamários podem levar a diminuição da produção do leite em até 70%. Dentre os patógenos predominantemente associados à doença, se destacam os Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Escherichia coli e Listeria monocytogenes.
Imagem 1: Ilustração representativa sobre mastite subclínica e clínica. Imagem retirada do trabalho de Santos e Fonseca 2019. Disponível em: https://blog.prodap.com.br/mastite-clinica-o-que-e-causas-como-tratar-e-principais-indicadores/
Terapêutica
A principal forma de tratamento da doença passa pela aplicação de antibióticos intramamários, que geralmente varia entre 4 a 5 dias para infecções menos severas. Independente do agravamento ou não da doença, é necessário o uso de antimicrobianos. No entanto, o uso de antibióticos pode contribuir na seleção de bactérias resistentes que, em breve, não serão mais susceptíveis a essas drogas. Além disso, existe uma preocupação global sobre a seleção e disseminação de patógenos multirresistentes através da cadeia produtiva animal. Neste contexto, métodos alternativos para controlar e tratar a mastite bovina têm sido aceitos e acolhidos pela comunidade científica.
Dentre os métodos terapêuticos para o tratamento da doença, as bacteriocinas surgem como uma alternativa muito promissora, são peptídeos sintetizados pelos ribossomos e apresentam atividade bactericida ou bacteriostática contra células-alvo. Diversos estudos têm se esforçado para investigar e testar a atividade desses peptídeos antimicrobianos frente aos principais patógenos causadores de mastite.
Novas perspectivas
Em um estudo realizado por Oliveira e colaboradores (2021), os autores demonstraram que a bacteriocina produzida pela bactéria Bacillus velezensis obtidas de silagem apresentou forte atividade contra Listeria monocytogenes. Além disso, a molécula se manteve estável frente às adversidades (temperatura e ao pH).
Godoy-Santos e colaboradores (2019) relataram que a Bovicina HC5, uma bacteriocina (bovicina HC5) obtida de uma bactéria ruminal Streptococcus equinus apresentou resultados eficazes contra os principais patógenos causadores de mastite. Apesar dos resultados de ambos os trabalhos, aparentemente, serem considerados iniciais, ao mesmo tempo, são muito promissores, pois demonstram que esses peptídeos antimicrobianos apresentam condições de complementar ou até substituir o uso de antibióticos na terapia e profilaxia da doença.
Imagem 2: Atividade da bacteriocina sobre a bactéria Listeria monocytogenes. Os halos representam a zona de inibição do patógeno sob diferentes temperaturas (A) e pH (B). Imagem obtida do estudo de Oliveira et al., 2021
A utilização de bacteriocinas ou agentes produtores dos peptídeos na pecuária é um campo com enormes possibilidades, tanto para a pesquisa, quanto para sua comercialização. À medida que mais países desenvolvem políticas de restrição de antibióticos, a necessidade de alternativas antimicrobianas será a principal força motriz para continuar identificando novas bacteriocinas e testando suas atividades. Além disso, novos estudos que buscam uma investigação da ação sinérgica desses antimicrobianos tem o intuito de potencializar seu espectro de ação.
Referências
Jamali H, Barkema HW, Jacques M, Lavallee-Bourget EM, Malouin F, Saini V, Stryhn H, Dufour S (2018) Invited review: incidence, risk factors, and effects of clinical mastitis recurrence in dairy cows. J Dairy Sci 101:4729–4746.
Klaas IC, Zadoks RN (2018) An update on environmental mastitis: challenging perceptions. Transbound Emerg Dis 65:166–185.
Oliveira, Laura Bonato Alves, et al. “Inhibition of Listeria monocytogenes by bacteriocin-producing Bacillus velezensis isolated from silage.” Research, Society and Development 10.9 (2021): e2610917783-e2610917783.
SANTOS, M. V., TOMAZI, T., GONÇALVES, J.L. Novas estratégias para o tratamento da mastite bovina In: IX Congresso Brasileiro Buiatria. 04 a 07/10/2011, Goiânia-GO. Vet. e Zootec. 2011 dez.18 (4 Supl. 3) -. v.18. p.131 – 137, 2011.
Todorov, Svetoslav Dimitrov, et al. “Characterisation of an antiviral pediocin-like bacteriocin produced by Enterococcus faecium.” Food Microbiology 27.7 (2010): 869-879.
Godoy-Santos, Fernanda, et al. “Efficacy of a ruminal bacteriocin against pure and mixed cultures of bovine mastitis pathogens.” Indian journal of microbiology 59.3 (2019): 304-312