Uma das premissas para o correto manejo do solo e da fertilidade, de forma que seja sustentável, é sempre respeitar a capacidade de oferta e as características intrínsecas e inerentes ao solo. A relação que existe entre a capacidade de oferta e o tipo de manejo é a base para a avaliação da aptidão dos solos (GOEDERT; OLIVEIRA, 2007). Sendo assim, fica evidente que o uso racional e sustentável envolve a inter-relação entre as diferentes práticas de manejo do solo e da cultura de interesse.
Figura 1. O uso racional envolve a inter-relação entre as diferentes práticas de manejo do solo e da cultura de interesse. Fonte: Autora.
Existem algumas práticas de manejo da fertilidade que podem contribuir para melhorar a qualidade do solo. Entre elas, podemos citar:
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calagem;
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incorporação do gesso agrícola;
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adubação química e
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manejo dos restos culturais.
De forma geral, a calagem é imprescindível para neutralização da acidez do solo, deixando-o equilibrado (pH ideal entre cinco e seis) e trazendo vários benefícios, tais como o aumento da capacidade de troca catiônica (CTC), a disponibilização dos nutrientes e o aumento da atividade da biota na camada mais superficial do solo. O gesso agrícola tem se mostrado uma prática importante como facilitadora do desenvolvimento do sistema radicular das culturas, contribuindo para a regularização da concentração de alumínio nas camadas mais subsuperficiais. No entanto, diferentemente do calcário, o gesso não corrige o pH do solo.
Essas práticas são necessárias porque os solos brasileiros tendem a ter baixa fertilidade natural devido ao alto nível de intemperismo. Sendo assim, é um fator que pode ser limitante da produção. Com isso, a neutralização do pH e do alumínio, contribuindo para a liberação dos nutrientes na solução do solo, é essencial ao bom desenvolvimento das culturas e, consequentemente, à boa produtividade e ao retorno econômico.
A utilização de adubos químicos é importante para repor os nutrientes retirados pela colheita e que não retornam ao sistema solo-planta pela decomposição dos resíduos vegetais no solo, sendo, por isso, uma prática que contribui para ajustar o desequilíbrio nutricional do solo. Porém, deve ser realizada de forma consciente. Por fim, a manutenção dos restos culturais (Figura 4) contribui para aumentar o teor de matéria orgânica no solo, o que traz inúmeros benefícios nas propriedades físicas (aumento da agregação), químicas (aumento da CTC) e biológicas (aumento e diversificação da biota do solo) (GOEDERT; OLIVEIRA, 2007).
É importante lembrar que todo o manejo do solo relacionado à parte química, como a realização da calagem, gessagem e adubação, deve ser realizado a partir dos dados obtidos em análise química prévia, visando determinar as condições em que o solo se encontra. Utilizar agroquímicos de forma indiscriminada e sem controle causa inúmeros malefícios ao solo, como, por exemplo, a salinização.
Figura 2. Manutenção e manejo da palhada no solo. Fonte: Larissa Araújo Tormen.
REFERÊNCIAS
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