A soja (Glycine max L.) apresenta grande importância devido a uma gama de aptidões que essa leguminosa evidencia. Diante disso, seus grãos podem ser destinados à extração de óleo vegetal, ao consumo in natura, de grãos torrados e de brotos, à produção de leite e de carne de soja, iogurtes e sorvetes, sendo estes produtos destinados à alimentação humana. Ainda, a soja pode ser fornecida aos animais na forma de farelo, farinha e casca dos grãos. Devido ao panorama apresentado, o incremento da produção e da produtividade da soja revela-se fundamental para sanar as necessidades do mercado consumidor, devido ao crescimento populacional, e ao amparo no fornecimento de matéria-prima para as cadeias produtivas da bovinocultura leiteira e de corte, da suinocultura, da avicultura, entre outras. O aumento dos patamares produtivos da soja pode ser alcançado por meio da melhoria das técnicas de cultivo, do aumento da área semeada e pelo desenvolvimento de genótipos mais produtivos.
Dentre os objetivos de um programa de melhoramento genético da soja, destacam-se a obtenção de genótipos superiores em produtividade de grãos, a tolerância a doenças, insetos-praga, nematoides, estresses abióticos, incremento da qualidade nutricional e biofortificação dos grãos produzidos, genótipos mais adaptados e estáveis nas mais variadas regiões sojícolas.
Critérios para a escolha dos genitores
A escolha dos genitores apresenta-se crucial ao melhoramento da soja, pois a busca pelo incremento da variabilidade genética através de vários eventos meióticos e recombinações alélicas torna-se possível devido à complementaridade dos genótipos utilizados nas hibridações. Diante disso, o sucesso do programa de melhoramento é embasado na escolha eficiente do germoplasma utilizado, na eficiência em obter combinações transgressivas e na habilidade em identificar genótipos superiores. Estudos indicam que a seleção do germoplasma utilizado para compor blocos de cruzamento deve ser amparada por informações a priori sobre o genótipo, e pelo emprego eficaz de procedimentos científicos.
Dentre as várias decisões que o melhorista deve tomar no decorrer das gerações de melhoramento, a escolha do germoplasma caracteriza-se como a mais impactante no sucesso do programa, e as atenções devem ser redobradas na presença de combinações que refletem médias elevadas para os caracteres de interesse, e ainda evidenciam alta variabilidade genética. As informações referentes aos caracteres morfológicos e aos componentes do rendimento dos genitores apresentam-se imprescindíveis, contudo, ganhos satisfatórios em um menor espaço de tempo são obtidos quando se compreende a capacidade combinatória presente entre as diferentes constituições genéticas. Nesse contexto, existem várias ferramentas e estratégias que possibilitam evidenciar quais seriam os genitores mais adequados, tais como, o valor per se dos genitores, características fenotípicas adequadas, genealogia dos genitores, teste de geração precoce, capacidade combinatória, marcadores moleculares, metodologia de Jinks e Pooni e distância genética.
– Valor per se dos genitores: este critério é utilizado quando o cruzamento é efetuado entre genótipos elites, com médias elevadas, quando a fração genética é composta por maiores proporções aditivas, sendo embasada na experiência prática do melhorista. Pesquisas afirmam que os genitores devem ser dissimilares, com média elevada, e ainda evidenciar grande variabilidade genética para o caráter de interesse.
– Características fenotípicas adequadas: muitas vezes, a experiência do melhorista e as necessidades do agricultor culminam na definição de um ideótipo de planta que se apresenta adequado agronomicamente. Portanto, neste critério, busca-se a complementaridade entre os genótipos que serão cruzados, sendo eficiente para os caracteres que estejam correlacionados, pois ao reunir genitores com características desejáveis, teoricamente, estas estarão contidas nas progênies obtidas.
– Genealogia dos genitores: nesta situação utilizam-se genótipos que apresentam características marcantes, tais como, elevados rendimentos de grãos, estabilidade de produção, tolerância a estresses bióticos ou abióticos. Considera-se a origem do genótipo e a base genética constituinte.
– Teste de geração precoce: esta ferramenta permite revelar precocemente os melhores cruzamentos. Diante disso, se a geração F1 evidencia um baixo valor preditivo e a geração F2 expressa valor preditivo moderado, portanto, é na geração F3 que as progênies são avaliadas e demonstram resultados mais consistentes. Nestas condições, as progênies inferiores são descartadas, e as superiores são mantidas para as próximas gerações. Utiliza-se este método com a finalidade de incrementar o número de progênies superiores à média da população F2 de origem.
– Capacidade combinatória: as hibridações realizadas entre os potenciais genitores reorganizam a constituição genética das progênies formadas, e a escolha de quais genótipos podem ser utilizados é determinante para favorecer a obtenção de genótipos transgressivos em relação aos pais. Desta maneira, a capacidade geral de combinação refere-se à habilidade do genitor em combinar-se com uma série de outros genótipos, e baseia-se na fração aditiva. Em contrapartida, a capacidade específica de combinação refere-se ao cruzamento específico entre dois genitores e baseia-se nos efeitos não aditivos.
– Marcadores moleculares: podem ser utilizados para estimar as distâncias genéticas entre os genitores, não sendo acometidos pela influência dos efeitos do ambiente; podem determinar grupos de genótipos com constituição gênica distinta e predizer a constituição das progênies geradas A.
– Metodologia de Jinks e Pooni: apresenta-se aplicável nas gerações iniciais de melhoramento, possibilitando a seleção ou o descarte da população F2, sendo este desenvolvido com ênfase aos caracteres quantitativos, controlados por muitos genes, e altamente influenciados pelas condições do ambiente de cultivo. Seus resultados indicam a probabilidade de obter progênies superiores, oriundas de um determinado cruzamento, sendo baseado nas propriedades da distribuição normal.
– Distância genética: estas técnicas biométricas podem utilizar caracteres morfológicos, fisiológicos, moleculares e bromatológicos, e serem interpretados de forma conjugada para gerar uma tendência única. Isso poderá auxiliar o melhorista na escolha eficiente dos genitores de forma multivariada. Maiores distâncias entre os genitores podem evidenciar elevada variabilidade genética, diferentes frequências alélicas, contudo, nem todos os alelos apresentam-se favoráveis. A seleção dos genitores por meio da distância genética é eficaz, quando conjugada a média do caráter de interesse.
Referências
ALMEIDA, L. A. et al. Melhoramento da soja para regiões de baixa latitude. In: QUEIRÓZ, M. A. de; GOEDERT, C. O.; RAMOS, S. R. R. (org.). Recursos genéticos e melhoramento de plantas para o Nordeste brasileiro. Petrolina: Embrapa Semi-Árido, 1999. p. 73-88.
ALMEIDA, L. A.; KIIHL, R. A. S.; ABDELNOOR, R. V. Melhoramento da soja. In: SIMPÓSIO SOBRE ATUALIZAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS, 1997, Lavras. Anais […]. Lavras: UFLA, 1997. p. 09-55.
ANGELIS, R. C. de. Importância de alimentos vegetais na proteção da saúde: fisiologia da nutrição protetora e preventiva de enfermidades degenerativas. São Paulo: Atheneu, 2001.
BELLAVER, C. Ingredientes de origem animal destinados à fabricação de rações. In: SIMPÓSIO SOBRE INGREDIENTES NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL, 2001, Campinas. Anais […]. Campinas: CBNA, 2001. p. 167-190.
BESPALHOK, J. C. F.; GUERRA, E. P.; OLIVEIRA, R. Capítulo 3 – Uso e conservação de germoplasma. In: BESPALHOK, J. C. F.; GUERRA, E. P.; OLIVEIRA, R. Melhoramento de Plantas. Curitiba: UFPR, 2007a. p. 21-28. Disponível em: http://www.bespa.agrarias.ufpr.br/paginas/livro/capitulo%203.pdf
BESPALHOK, J. C. F.; GUERRA, E. P.; OLIVEIRA, R. Capítulo 4 – Sistemas reprodutivos de plantas cultivadas. In: BESPALHOK, J. C. F.; GUERRA, E. P.; OLIVEIRA, R. Melhoramento de Plantas. Curitiba: UFPR, 2007b. p. 11-18. Disponível em: http://www.bespa.agrarias.ufpr.br/paginas/livro/capitulo%204.pdf
BLACK, R. J. Complexo soja: fundamentos, situação atual e perspectivas. In: CÂMARA, G. M. S. (ed.). Soja: tecnologia da produção II. Piracicaba: ESALQ, LPV, 2000. p. 1-18.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia produtiva da soja. Brasília: IICA: MAPA/SPA, 2006. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/pap
CÂMARA, G. M. de S. Introdução ao agronegócio soja. In: CARRÃO-PANIZZI, M. C.; MANDARINO, J. M. G. Soja: Potencial de uso na dieta brasileira. Londrina: Embrapa-CNPSo, 1998. (Embrapa-CNPSo. Documentos, 113).
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Perspectiva Agropecuária 2015/16 – Produtos. Verão 127. Brasília, v. 3, p. 1-130, set. 2015.
COSTA, J. A. Cultura da Soja. Porto Alegre: Evangraf, 1996.
FLOSS, E. L. Fisiologia das plantas cultivadas: o estudo que está por trás do que se vê. 2. ed. rev. ampl. Passo Fundo: UPF, 2004.
GUERREIRO, L. Dossiê Técnico: Produtos de Soja. Rio de Janeiro: REDETEC, 2006. In: Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas – SBRT. Disponível em: http://www.respostatecnica.org.br/dossie-tecnico/downloadsDT/Mjg=
HIRAKURI, M. H.; LAZZAROTTO, J. J. O agronegócio da soja nos contextos mundial e brasileiro. Londrina: Embrapa, 2014. (Embrapa Londrina. Documentos, 349).
INSTITUTO MATO-GROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA (IMEA). Boletim da soja, n. 381, 27 de novembro de 2015.
MISSÃO, M. R. Soja: origem, classificação, utilização e uma visão abrangente do mercado. Maringá Management: Revista de Ciências Empresariais, v. 3, n. 1, p. 7-15, jan./jun. 2008.
MUNDSTOCK, C. M.; THOMAS, A. L. Soja: fatores que afetam o crescimento e o rendimento de grãos. Porto Alegre: Departamento de Plantas de Lavoura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Evangraf, 2005.
OLTRAMARI, S. Formação e organização da cadeia da soja orgânica no Sudoeste do Paraná. 2003.175 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2003.
SILVA, J. S. Secagem e armazenagem de produtos agrícolas. 2. ed. Viçosa: Aprenda Fácil, 2008.
SMIDERLE, O. J. S. Cultivo de Soja no Cerrado de Roraima. Boa Vista, RR: Embrapa Roraima, 2009.
STRAUB, S. C. K.; PFEIL, B. E.; DOYLE, J. J. Testing the polyploid past of soybean using a low-copy nuclear gene–Is Glycine (Fabaceae: Papilionoideae) an auto-or allopolyploid? Molecular phylogenetics and evolution, v. 39, n. 2, p. 580-584, 2006.
THIAGO, L. R. L de S; SILVA, J. M. da. Soja na alimentação de bovinos. Embrapa Gado de Corte, 2003. (Circular técnica, 31).