Confira as respostas do pesquisador para as perguntas feitas sobre herbologia durante as mesas redondas no 1º Seminário Phytus
1) Alguma novidade ou avanço de estudo no que diz respeito ao Eragrostis plana? Estudo de algum material seletivo?
Não há opção para controle químico seletivo em área total (somente com a aplicadora de herbicidas Campo Limpo, da Embrapa; vide Saraiva & Perez 2009). Além disso, pesquisa realizada pela Embrapa demonstrou que perfilhos que surgem a partir da planta-mãe são independentes e por este motivo aplicação de herbicidas sistêmicos tende a não controlar todos os perfilhos. Alguns pesquisadores estudaram o uso de 15 herbicidas na pré-emergência, mas sem sucesso (Goulart et al. 2009).
FONTES CITADAS:
Goulart ICGR, Merotto Junior A, Perez NB, Kalsing A (2009) Controle de capim-annoni-2 (Eragrostis plana) com herbicidas pré-emergentes em associação com diferentes métodos de manejo do campo nativo. Planta daninha (27) no1.
Saraiva KM, Perez NB (2009) Efeito da aplicação seletiva do herbicida glifosato em pastagem nativa do bioma Pampa infestada por capim-annoni-2. In.: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 46., Maringá.
2) Quais os principais casos de incompatibilidades existentes no campo com herbicidas?
Incompatibilidade entre os herbicidas paraquat e glifosato é um exemplo comum. Neste caso, o efeito rápido do paraquat diminui em muito a eficiência do glifosato. Além destes, temos a incompatibilidade de herbicidas graminicidas (inibidores da enzima ACCase) e latifolicidas (que controlam folhas largas), principalmente os inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS). Neste último caso, a eficiência dos graminicidas cai muito, e dizemos que as misturas são antagônicas.
3) Com relação aos herbicidas pré-emergentes, de modo geral, como esses produtos podem entrar num manejo agronômico para controle de plantas daninhas? Por que esses produtos são pouco recomendados para nossa região (Sul)?
Herbicidas pré-emergentes são peças essenciais dentro do manejo de plantas daninhas. Se bem usados, sua atividade residual permite o início da cultura em condições de ausência de invasoras (no “limpo”) até que a aplicação de pós-emergentes ocorra. Uma das dificuldades é o ajuste das doses, que podem variar de acordo com o tipo de solo, e também a seletividade que pode afetar o uso desses produtos no campo. Eles também necessitam de umidade para sua ativação. Todos estes fatores tornam complexo o uso de herbicidas pré-emergentes, e levam alguns produtores a optar pela não-utilização.
4) Quanto diminui a eficiência dos herbicidas quando acontece incompatibilidade no tanque? Quanto diminui a eficiência de cada um quando misturado folha estreita com folha larga?
Algumas vezes, a incompatibilidade de tanque leva à diminuição da absorção de algum dos produtos, causando queda na eficiência de até 80% deste produto. Isso já foi observado em mistura de bentazon sódico com setoxidim (inibidor da enzima ACcase) e alguns inibidores da enzima acetolactato sintase. Dependendo da mistura entre graminicidas, como o setoxidim, e inibidores da ALS, o controle de gramíneas pode ser completamente afetado, devido a menor absorção e translocação do graminicida.
5) O uso de adjuvante pode auxiliar na questão da resistência? Por melhorar a absorção e translocação? Há estudos sobre isso?
Como já é sabido, o uso de adjuvantes é essencial para garantir a eficiência de muitos herbicidas. Devido ao auxílio na absorção do produto, o uso de adjuvantes pode evitar que, dentro de uma espécie de planta daninha, certos biótipos ou populações com maior tolerância ao herbicida venham sobreviver à aplicação. A ausência de adjuvantes pode levar à queda na eficiência do herbicida, o que compromete a aplicação. Muitas vezes a sobrevivência de plantas daninhas é apontada como “resistência”, o que é incorreto, pois estas plantas derivaram de aplicações comprometidas (ausência de um adjuvante).
6) No caso da água aproveitada da chuva estancada em sistemas, tendo um pH adequado de 5,5 a 5,7 e sendo devidamente filtrada por filtros de partículas, deve-se ter preocupação com algum fator a mais quando se irá aplicar herbicidas?
Meu entendimento é de que não haveria problema na situação indicada, especialmente pelo fato de que o pH foi corrigido. Vale lembrar que alguns herbicidas podem requerer diferentes valores de pH. Deve-se atentar ao tanque de captação, para que não ocorra acúmulo de material particulado (barro e argila), pois podem diminuir a eficiência do glifosato e paraquat, por exemplo.
7) Qual o município de identificação do caruru-gigante no Mato Grosso?
As informações apontam que o foco inicial ocorreu em propriedades próximas a Sapezal, Tangará da Serra e Sorriso.
8) Sobre a soja resistente aos mimetizadores de auxina e os inibidor de GS, quais os riscos do uso em larga escala destes herbicidas?
Como se aplica a qualquer herbicida, o uso inadequado deste produtos pode levar ao aparecimento de biótipos resistentes. Tanto os mimetizadores de auxina, quanto os inibidores da glutamina sintetase, já são amplamente utilizados, porém o problema pode surgir quando o manejo de plantas daninhas se dá exclusivamente por aplicação deles. Neste caso, controlam- se somente plantas suscetíveis e ao longo do tempo, plantas resistentes tendem a tomar a área, então, é extremamente necessário alternar estes herbicidas com outros. Vale ressaltar que, mesmo após mais de 70 anos de uso, a resistência a 2,4-D é bastante rara,. Em termos de toxicologia, estes não oferecem risco maior do que outros herbicidas como o paraquat por exemplo.
9) Principalmente as auxinas sintéticas, as quais já é possível observar a remanescência de plantas de buva, quando aplicar em dessecação? Quais as estratégias para a vida útil destas tecnologias?
Auxinas sintéticas como o 2,4-D em geral oferecem excelente controle de buva (plantas daninhas do gênero Conyza), inclusive controlando biótipos resistentes ao glifosato. Usa-se dose cheia e deve-se respeitar intervalo de pelo menos 7 dias entre a aplicação de 2,4-D e semeadura de soja convencional. Ainda, a eficácia da aplicação de auxinas sintéticas sobre buva cai muito quando as plantas passam do estádio de 8 folhas verdadeiras. Por fim, estudos indicam que para proteção da tecnologia e controle efetivo da buva (>95%), deve-se adicionar três ou mais mecanismos de ação.
10) Que cultura de cobertura você recomendaria para ser usada no intervalo entre a colheita da soja e a semeadura do trigo? Por quê? Pensando somente em redução de plantas daninhas.
Espécies como o nabo-forrageiro, aveia e azevém podem ser utilizados neste esquema. Neste caso, operações como o rolamento das plantas e/ou dessecação devem ser realizados para que se faça semeadura do trigo, pois as plantas ainda não terão senescido. O uso de aveia preta não é recomendado como antecessora do trigo. Como rotação, recomenda-se trigo/soja + ervilhaca/milho ou sorgo, ou aveia preta + ervilhaca.
11) Qual o manejo mais eficiente para controle de Elephantopus mollis?
Esta espécie de planta daninha pode ser controlada por aplicações de herbicidas como o 2,4-D ou roçada, preferencialmente antes de sua perenização.
12) Existe probabilidade de surgirem biótipos resistentes ao Fotossistema 1?
Sim. Até o presente momento, já foram encontrados biótipos resistentes ao paraquat, por exemplo, em 27 espécies diferentes de plantas daninhas. Alguns destes biótipos são também resistentes ao glifosato.
13) O picão-preto seria a próxima planta daninha a apresentar resistência ao glifosato no Brasil?
Biótipos da espécie Bidens pilosa resistentes a glifosato já foram encontrados no México. Só o tempo dirá se resistência nesta espécie aparecerá no Brasil. Várias outras espécies de plantas daninhas estão sendo controladas basicamente por aplicações de glifosato e o risco de resistência a este i.a. existe. Vale lembrar que há duas espécies no gênero Bidens (Bidens pilosa e Bidens subalternans) as quais chamamos comumente de picão-preto.
14) Qual a real ameaça do caruru-gigante (Amaranthus palmeri)?
Enorme. Dada a agressividade desta invasora e seus caracteres morfológicos e reprodutivos, existe o potencial do caruru-gigante vir a se tornar endêmica e uma das piores plantas daninhas no Brasil. Estas características justificam a resposta em caráter emergencial, a qual o MAPA colocou em andamento após sua detecção.
15) A quais inibidores de ALS a buva possui resistência?
Antes de entrar em herbicidas específicos, deve-se mencionar que em geral os pesquisadores não testam todos os herbicidas do mercado dentro de um mecanismo de ação (no caso, inibidores da ALS), então, a resistência pode se estender a outros produtos não mencionados aqui. Vale ressaltar as principais espécies de buva no Brasil: Conyza sumatrensis, C. canadensis, e C. bonariensis. Em relação aos herbicidas, não há resistência a ALS no Brasil em Conyza bonariensis nem em C. canadensis, somente em Conyza sumatrensis. Nesta última, resistência a clorimuron-etil foi encontrada, mas pode haver resistência cruzada.
16) Se você tivesse que escolher uma espécie de erva daninha padrão para testes em câmara de vegetação, qual você sugeriria?
Uma única espécie não seria suficiente. Eu escolheria uma dicotiledônea da família das asteráceas e uma gramínea de fácil multiplicação. Poderiam ser, por exemplo, o picão-preto (Bidens spp.)e o capim-arroz (Echinochloa crus-galli). Além disso, a escolha depende da finalidade de uso.
17) Pensando no controle de buva, o herbicida metribuzin (FSII) teria efeito em pré- emergência e plantular de Conyza?
Sim. Em estudos realizados visando a obtenção de alternativas de controle em buva, concluiuse que, misturas de glifosato com os herbicidas metribuzin ou metsulfuron foram eficientes no controle de Conyza canadensis e C. bonariensis resistentes a glifosato. Espera-se assim que, o manejo em pré-emergência das duas espécies seja altamente eficiente com metribuzin, e que exista um efeito supressor mesmo em pós-emergência inicial.
18) O glifosato influencia na absorção de outros produtos por ser um ácido fraco, como Poast ou Select? E também Paraquat?
Isso porque algumas empresas recomendam a mistura para aumento da eficiência. Potencialmente, sim. Existem relatos na literatura de antagonismo moderado entre glifosato e uma gama de outros herbicidas, incluindo o 2,4-D e carfentrazone (sendo que nestes casos o glifosato foi afetado). Existe ainda um potencial antagonismo entre glifosato e outros herbicidas, também formulados como sais (como o bentazon).
19) DIM ou FOPE, qual produto para controle de “rabo de burro”? Aumento da dose ajuda?
Estudos da Embrapa indicaram que o controle do capim rabo-de-burro (Andropogon bicornis) com ambos, setoxidim e fluazifop, foi altamente eficiente, sugerindo que ambos FOPE e DIM são igualmente eficientes. Porém , ambos os graminicidas acima tiveram melhor eficiência do que diclofop, e são portanto preferencialmente utilizados. Se usados na época correta, esses herbicidas oferecem controle eficiente desta P.D..
20) Existem alguns resultados sobre a utilização de espécies alelopáticas sobre a supressão de plantas daninhas?
A pergunta infelizmente não especificou quais espécies ou cultura em questão. Existem na literatura vários relatos de supressão de daninhas e/ou culturas. Por exemplo, há supressão de eucalipto sobre trigo; de pó de folhas secas de manga sobre o brotamento de tubérculos de tiririca; dos resíduos de girassol sobre plantas daninhas de culturas sucessoras.
21) Poderia citar novamente os mecanismos de controle químico para buva, azevém resistente e picão-preto.
O controle destas espécies pode ser feito utilizando-se vários herbicidas. Como sugestões, indica-se para dessecação de buva resistente a glifosato: diquat, glufosinato e saflufenacil. Para a dessecação de azevém resistente indica-se a utilização de paraquat e glufosinato, mas preferencialmente via uso de graminicidas (inibidores da ACCase). Na cultura da soja, controle de buva e picão-preto pode ser realizado com várias opções, como flumixoazin, clomazone, e saflufenacil (este último aplicado em pré-emergência). Já o controle de azevém é feito, novamente, com uso de graminicidas.