Confira as respostas da pesquisadora para as perguntas feitas sobre fitopatologia durante as mesas redondas no 1º Seminário Phytus
1. Se o mancozebe é protetor e tem que estar na planta antes da presença do patógeno, essa moda de aplicar mancozebe somente na última entrada de fungicida cai por terra, pois ali dificilmente não terá inóculo, principalmente de ferrugem. Correto?
Sim, a maior eficácia dos fungicidas protetores, como o Mancozebe, ocorre quando aplicado antes da deposição do fungo na planta.
2. Qual a eficiência dos multissítios no controle de oídio?
Depende do multissítio, Mancozebe tem eficácia baixa, já Clorotalonil e Cúpricos tem eficácia mediana.
3. Até qual estádio da soja devemos ficar protegendo a planta com fungicidas?
Depende da cultivar e de seu hábito (determinado ou indeterminado), entretanto, temos que garantir que as folhas permaneçam sobre a planta pelo maior tempo possível para que haja maior translocação de fotoassimilados para os grãos.
4. Em relação aos grupos químicos de fungicidas, que produtos utilizar em aplicações erradicativas e aplicações finais com média 10 a 20% de severidade e estádio de enchimento de grão?
Importante ressaltar que nessa condição a performance de qualquer fungicida ficará comprometida. Evitar o uso de fungicidas a base de carboxamidas, em função da alta especificidade deste grupo químico sobre o patógeno. Nessa condição, buscar combinações que aumentem o espectro de controle.
5. A safra de soja 2015/2016 foi bastante chuvosa aqui no RS, por que não tivemos tantos problemas de mofo branco?
Tivemos problemas sim, a ponto desta doença, que normalmente ocorre em áreas de altitude acima de 600 m, ter sido diagnosticada causando danos em áreas de altitude em torno de 450 m.
6. Assumindo que a água é um dos principais fatores na produção de soja, por que nas áreas do CESB, as áreas de sequeiro produzem mais que as áreas irrigadas?
É importante considerar que as áreas de sequeiro vencedoras do CESB tem correção de perfil do solo, química e física, associada à rotação de culturas por pelo menos 10 anos, promovendo todo um condicionamento de solo, de forma a favorecer o desenvolvimento radicular das plantas de soja.
7. Qual a melhor maneira para o produtor monitorar os esporos da ferrugem durante o ano?
Acompanhar o surgimento dos focos informados no site do Consórcio Antiferrugem durante a safra.
8. Há uma tendência de o próximo ano ser mais seco, com isso teremos mais oídio, quais os cuidados que devemos ter e como manejar essa doença?
É possível que o oídio ocorra no RS na safra 2016/17. Para o manejo do oídio é importante que as aplicações sejam preventivas com produtos de eficácia alta para esse fungo, especialmente triazóis de amplo espectro.
9. Qual o efeito dos multissítios em DFCs em soja? Em quais fungos foram observados maior incremento de controle?
Os multissítios tem apresentado boa eficácia de controle sobre as DFCs em soja, os fungicidas multissítios a base de Mancozebe, Clorotalonil e Fluazinam apresentaram excelentes efeitos sobre Septoria sp. e Cercospora sp., fungos que predominaram nas ultimas safras no RS.
10. Como manejar uma alta severidade de ferrugem no fim do ciclo, em uma lavoura de plantio tardio, sem causar grandes problemas com fitotoxicidade?
Cabe ressaltar que nessa situação, o dano pela ferrugem asiática já está estabelecido. Entretanto, pode-se lançar mão de um manejo de inóculo de forma a minimizar a pressão de seleção sobre a população do fungo. Nesta situação, utilizar a combinação de grupos químicos visando incremento de espectro de controle, evitando o uso de produtos com alto nível de especificidade.
11. Qual o melhor momento para aplicação de carboxamida, primeira ou segunda aplicação?
Depende da condição de inóculo encontrado na área, as aplicações iniciais geralmente tem a menor presença de inóculo e, assim, as carboxamidas apresentam a maior performance.
12. Considerando a evolução da resistência da ferrugem a diferentes mecanismos de ação, como você vê a resistência a carboxamidas? É possível haver resistência a multissítios?
A resistência de Phakopsora pachyrhizi ainda não está comprovada, o fato é que temos o aparecimento de mutantes que sobrevivem à aplicação de estrobilurinas e se continuarmos com o posicionamento atrasado dos fungicidas, poderemos ter a resistência como uma realidade. Com relação às carboxamidas, existe um risco de surgimento de mutantes, em função da alta especificidade desse grupo químico. Para os multissítios é improvável que ocorra resistência, devido à dificuldade do fungo conseguir desenvolver resistência em vários sítios de ação do fungicida.
13. No futuro, será possível fungicidas à base de duas estrobilurinas no mesmo produto, a fim de melhorar o residual?
Não, a tendência do mercado é que se combinem vários grupos químicos em um mesmo fungicida e não ingredientes ativos de mesmo grupo químico.
14. Como minimizar fitotoxicidade dos adjuvantes utilizados junto com os fungicidas?
O que causa fitotoxicidade é a utilização do triazol, e não o adjuvante. A melhor forma de minimizar a fitotoxicidade é realizar a aplicação em momentos em que a planta esteja em condição de melhor hidratação, preferencialmente no inicio da manhã ou a noite.
15. Na aplicação de protetores como mancozebe, qual seria a percentagem de perda após uma chuva ou irrigação de 30-50mm?
Se a chuva ou irrigação ocorrer a partir de 4 horas após a aplicação, o impacto sobre a persistência do fungicida na folha será quase que insignificante.
16. A aplicação de fungicida juntamente com o glifosato, no fechamento de linha, diminui a ação do fungicida? Mantém-se o adjuvante neste caso de mistura?
Em todos os ensaios em que avaliamos a associação de glifosato a fungicidas, não observamos efeito negativo pela associação, tanto na eficácia do herbicida como do fungicida. O fungicida necessita do adjuvante para pleno funcionamento, não é recomendável a retirada.
17. Para se chegar a uma produtividade igual ou pelo menos próxima a que ganhou o desafio CESB no Paraná, precisamos de raízes como bem falou a Dr. Debortoli. Hoje um dos maiores problemas é a compactação. O que precisamos fazer para acabar ou minimizar este problema? Além do uso de plantas com sistema radicular agressivo como o nabo, escarificar de tempos em tempos seria uma solução?
Neste caso, há necessidade da adoção de uma série de medidas como: rotação de culturas de forma a incrementar matéria orgânica no solo, utilização de plantas de cobertura como o nabo também é benéfica, correção química do solo em profundidade associada a estratégias de correção física por meio de escarificação.
18. Existe alguma interferência na utilização de doses elevadas ou doses menores daquelas recomendadas para fungicidas? Qual o impacto das aplicações de alta ou baixa dosagem de fungicidas?
Tanto a dose alta como baixa, diferente da dose recomendada, oferecem um risco à longevidade das moléculas no mercado. Nos estudos de eficácia, é determinada a dose de funcionamento do fungicida, assim o aumento da dose do fungicida não resulta em aumento de eficácia de controle. Para as subdoses, o risco é maior, pois quando uma população é submetida a uma subdosagem, a chance de indivíduos menos sensíveis sobreviverem é muito maior, expondo o fungicida e exercendo pressão de seleção sobre a população do fungo.
19. Qual o posicionamento e quais os modos de ação de fungicidas possibilitam melhores eficiências no controle de doenças em soja?
Considerando a epidemia do fungo, o que determina a eficácia de um fungicida não é o modo de ação do mesmo, mas sim, o momento em que o mesmo é aplicado. O posicionamento de todo e qualquer fungicida, sítio especifico ou multissítio, deve ser preventivo. Mesmo que a planta possa absorver e o fungicida possa atuar sobre o fungo quando da deposição sobre os tecidos, se o fungo já estiver estabelecido nos tecidos, qualquer fungicida terá problemas de funcionamento,.
20. Com relação à antracnose e septoriose no começo do ciclo, se o TS protege a plântula até o 12º dia, em condições favoráveis, em uma aplicação preventiva estaríamos aplicando logo no 20º dia?
Visando a não entrada de doenças na lavoura e o manejo preventivo de doenças de começo de ciclo. Dependendo da condição climática é isso mesmo, pois se a primeira aplicação for realizada com 35 dias após a emergência, temos pelo menos 20 dias de planta totalmente desprotegida. Além disso, é importante considerar que o inóculo desses patógenos é oriundo das sementes e da palhada.
21. Qual a importância da rotação dos princípios ativos para a ferrugem?
Além da rotação de ingredientes ativos e grupos químicos, a associação a multissítios é fundamental para a longevidade dos produtos a nível de mercado.
22. Qual o tempo de segurança entre uma aplicação de fungicida e chuva?
Para fungicidas sistêmicos entre 1 e 2 horas, para produtos multissítios ao redor de 4 horas, considerando aplicações realizadas durante o dia. Se a aplicação for realizada à noite e ocorrer chuva antes do amanhecer, a aplicação deve ser refeita.
23. Produtos a base de cobre, por exemplo, óxido de cobre, hidróxido de cobre, posso usá-los para controle de DFCs?
Pode, entretanto, temos verificado um desempenho inferior quando comparado a outros produtos multissítios.
24. O crescimento e/ou desenvolvimento micelial de um fungo (ferrugem asiática) na condição de estiagem é maior, menor ou igual a uma condição hídrica ótima? E essa condição de estresse hídrico pode aumentar o residual das minhas aplicações de fungicidas, considerando que a pressão de doença será menor?
O desenvolvimento micelial será muito semelhante ao de uma condição hídrica normal. O que ficará alterado é a severidade da epidemia, pois a chuva atua como agente dispersante. A pressão de ferrugem não será menor, será mais lenta, devido à falta de chuva. Os residuais só podem ser maiores se as aplicações forem realizadas preventivamente.