O agronegócio não parou. Esta é uma das frases mais ditas e ouvidas por quem vive o dia a dia do setor nestes tempos de pandemia. E, de fato, foi o que aconteceu, com os elos de toda a cadeia produtiva do agro trabalhando de maneira plena – do campo à mesa e aos portos. Salvo raras as exceções negativas, o agronegócio continuou garantindo a segurança alimentar doméstica e gerando contínuos excedentes exportáveis.
A alta dos preços dos alimentos está atrelada a fundamentos de mercado, a começar pelo dólar valorizado, que encarece os custos de produção; cotações internacionais em trajetória ascendente, devido à retomada da economia, com arrefecimento gradual da pandemia; e intempéries climáticas, secas e, mais recentemente, geadas, que promoveram quebras de safras importantes, como milho e café.
Meio ambiente e o agronegócio
Nesse cenário, a questão ambiental assumiu de vez o posto de temática-chave para a sobrevivência competitiva do agronegócio brasileiro. O setor deve, cada vez mais e de modo absolutamente enfático, tomar para si o discurso e a ação do desenvolvimento sustentável. Caso contrário, consequências mercadológicas em nível global serão inevitáveis. Neste ponto, vale ressaltar duas declarações: a do ministro do STF, Luís Roberto Barroso, ao afirmar que “o desmatamento da Amazônia é um assunto que estigmatiza o Brasil”. E outra, da ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, quando disse que “a Amazônia coloca e tira o Brasil do mundo”.
Infraestrutura para o escoamento da produção
No âmbito da infraestrutura logística – que cabe ressaltar, apresentou alguns sinais de melhora nos últimos tempos –, os desafios não diminuíram. Do ponto de vista positivo, algumas obras rodoviárias foram inauguradas, ou, ao menos, trechos delas; outras rotas foram pavimentadas, em muitos casos pela ação direta de produtores com injeção de capital; e, sobretudo, o escoamento da produção pelos portos do Arco Norte avançou, desafogando um pouco os terminais do Sudeste.
Atualmente, segundo dados da Conab, cerca de 34% da soja vendida ao mercado externo passou a ser embarcada pelos portos do Arco Norte. Do total de milho exportado, 31% passou a sair, principalmente pelos terminais de Barcarena/PA, Miritituba (Santarém)/PA, Itacoatiara/AM e Itaqui/MA.
Em 2010, os portos da região Norte responderam por 14,4% das exportações agregadas de soja e milho
Custo da logística
Contudo, apesar da maior participação dos portos do Arco Norte, a matriz de transporte do país ainda é desbalanceada, com o modelo rodoviário se mantendo como principal, o que acarreta em mais custos, e na ponta final encarece o nosso produto agrícola para o consumidor interno e o importador. O transporte por rodovias é recomendado para curtas distâncias, com o hidroviário e o ferroviário sendo os mais indicados para longos trajetos. Mas, no Brasil, construiu-se um modelo exatamente inverso.
Ademais, mais recentemente, a falta de contêineres em nível global também vem aumentando o custo logístico e, consequentemente, claro, prejudicando o transporte de mercadorias. Um passo antes, a tabela do frete, que interfere nas regras do livre mercado, é outro gargalo logístico que permanece. Soma-se a isso a crise hídrica que praticamente inviabiliza o transporte da produção agrícola pelas [poucas] hidrovias existentes.
No Congresso, tramita um Projeto de Lei para regulamentar o transporte por cabotagem, o que pode criar uma nova alternativa. A questão central é que a produção agrícola está anos luz à frente da infraestrutura logística para entrega de insumos nas fazendas e escoamento das safras.
Com o Estado engessado pelas despesas obrigatórias, não sobra quase nada para investimentos. No caso da infraestrutura logística, a saída são as concessões para iniciativa privada, que possam viabilizar ferrovias, hidrovias, rodovias, armazéns e silos. Todavia, a “insegurança jurídica” – para resumir em uma única expressão as dificuldades do Brasil hoje para atrair investimentos – torna a travessia ainda mais difícil. Coragem.