Neste material você vai conhecer aspectos importantes relacionados à ocorrência de El niño e La niña como:
- Introdução;
- Ocorrência de El Niño;
- Ocorrência de La Niña.
Introdução
Em anos considerados neutros não há ocorrência de alterações no padrão das chuvas, estando próximas da média histórica da região e bem distribuídas ao longo dos meses. Via de regra, não ocorrem dificuldades para a instalação da cultura dentro da época recomendada, beneficiando as práticas de manejo bem como desenvolvimento adequado da cultura do arroz. Entretanto, a neutralidade climática tem se mostrado menos presente quando considerada a ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña.
No decorrer dos anos, tem sido observada relação dos fenômenos climáticos ocorrentes El Niño e La Niña, com a disponibilidade de radiação, pluviosidade e temperatura, alterando todo o sistema climático. Desta forma, a produtividade do Rio Grande do Sul, Estado de maior produção, pode cair na ocorrência desses fenômenos. A redução da produtividade está intimamente ligada ao atraso na instalação da cultura, que desfavorece o desenvolvimento da planta de arroz e expõe as fazes críticas do ciclo aos eventos climáticos adversos bem como maior pressão de doença.
Ocorrência de El Niño
Na região Sul do Brasil, o fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) manifesta-se através da ocorrência de precipitação superior à média climatológica. Em cada episódio é observado aumento no volume de chuvas podendo aumentar até 150% na precipitação em relação ao índice médio normal, principalmente nos meses de primavera, fim do outono e começo de inverno, onde as temperaturas tendem a permanecer amenas na região Sul.
Em anos de El Niño, o excesso de chuvas na primavera dificulta o manejo da lavoura no período recomendado, prejudicando a semeadura do arroz. Além disso, grandes volumes de chuva podem causar enchentes, representando riscos de perdas significativas desde o estabelecimento até a colheita do arroz, como ocorrido na safra de 2009/2010 no Rio Grande do Sul (Figura 1).
A semeadura tardia leva ao encontro da fase reprodutiva da cultura com altas amplitudes térmicas e umidade relativa do ar elevadas, nebulosidade, precipitações freqüentes e baixa radiação, comuns a partir do mês de fevereiro e intensificadas com o fenômeno. Não somente temperaturas altas (>34ºC), mas também baixas (<17ºC) provocam danos ao desenvolvimento fisiológico do arroz. Temperaturas baixas são responsáveis por problemas na microsporogênese, durante a floração, causando esterilidade e diminuição da qualidade de engenho dos grãos, quando submetidos a estas oscilações.
Com este cenário, o desenvolvimento fisiológico do arroz é alterado combinando estádio de suscetibilidade da cultura com condições favoráveis à ocorrência e progresso de doenças (Figura 2).
É importante ter em mente que o uso de cultivares com ciclo médio ou tardio acabam por expor grande parte da fase reprodutiva da cultura a estas condições epidêmicas. Cultivares precoces podem ser uma alternativa de manejo quando o prognostico climático aponta para a ocorrência do fenômeno. Desta forma, a permanência da fase sensível da cultura no campo é menor desencontrando com o período de maior concentração de esporos de patógenos no ambiente. Para as regiões produtoras do Sul, as semeaduras realizadas em dezembro sobrepõem os períodos de emborrachamento e floração do arroz com temperaturas noturnas baixas, alta umidade relativa e nebulosidade. Isto acaba por aumentar a duração do molhamento foliar, condições estas que favorecem a infecção de diversos patógenos da cultura (Quadro 1).
Em safras sob regência do fenômeno, a antecipação da aplicação de fungicidas é fundamental para manutenção do residual e da eficiência de controle de doenças. Nestes casos, dependendo da época de semeadura e ciclo, uma segunda aplicação de fungicida garante uma lavoura mais limpa e melhor qualidade de grão.
Ocorrência de La Niña
De forma oposta ao El Niño, a La Niña promove alteração na dinâmica de ocorrência de chuvas na região Sul. Como conseqüência deste fenômeno, as frentes frias que atingem o centro-sul do Brasil têm sua passagem mais rápida que o normal e com mais força. Assim, ocorrem estiagens, com grande queda no índice pluviométrico, principalmente nos meses de setembro a fevereiro.
Uma lavoura de arroz bem sucedida passa necessariamente pela correta implantação, de sorte a expor as fases da cultura aos máximos períodos de incidência de radiação, baixas oscilações térmicas e irrigação adequadas. Em anos com ocorrência de La Niña, a escassez de precipitação causada pelo fenômeno pode favorecer o manejo nas várzeas dentro da época recomendada para cada região, alcançando maiores rendimentos como pode ser verificado na figura 1. Importante ressaltar que, nesta situação, a disponibilidade de água para irrigação pode ser um limitante da área semeada.
Partindo do pressuposto que o estabelecimento da cultura foi realizado de forma adequada, salvo algum evento extremo, os períodos críticos da cultura como, final do estádio vegetativo e início do reprodutivo se estabelecem com baixa pluviosidade, alta insolação, temperatura entre 20 a 33ºC, menores períodos de molhamento foliar e maior atividade fotossintética. Estas condições permitem um desenvolvimento fisiológico privilegiado para cultura podendo resultar em menor sensibilidade às doenças. Associado a isso, as condições ambientais ocorrentes desfavorecem o patógeno, reduzindo a pressão de inóculo tanto para a safra em questão como para a seguinte, o que pode ser observado na figura 2. Assim, a aplicação de fungicidas torna-se mais efetiva e o residual é prolongado, protegendo o potencial produtivo da cultura.
Das doze safras analisadas somente 25% não representaram ocorrências de El Niño ou La Niña. Tendo em vista estes aspectos, cabe ao produtor de arroz levar em consideração os prognósticos de ocorrência dos fenômenos para o planejamento da lavoura orizícola, reduzindo o efeito dos eventos adversos e garantindo a estabilidade da produção.