Para se obter sucesso na lavoura de trigo é imprescindível a sanidade das sementes, devendo-se ter cuidado com os patógenos vinculados a essas, pois estes darão continuidade ao ciclo biológico.
As sementes podem abrigar e transportar microrganismos de todos os grupos taxonômicos, patogênicos ou não, por isso a detecção desses organismos torna-se uma das mais importantes ferramentas no manejo fitossanitário de doenças. Os resultados dos testes empregados para este fim podem indicar a ausência de patógenos, ou ainda, caso o patógeno esteja presente, o nível de inóculo nas sementes.
A incidência e a severidade dos patógenos variam com o tempo e em função de diversos fatores, como localização, temperatura e umidade. Assim, é importante o monitoramento contínuo, a fim de supervisionar qualitativa e quantitativamente a presença desses patógenos veiculados às sementes de trigo.
A adoção de medidas conjuntas, como rotação de culturas, eliminação de plantas voluntárias e de hospedeiros secundários, tratamento e utilização de sementes sadias, uso de cultivares resistentes, aplicação de fungicidas e de produtos alternativos, tornam mais eficiente o controle das doenças do trigo.
Dos fitopatógenos encontrados nas sementes de trigo, os fungos são os mais numerosos e os mais importantes que atacam os cereais de inverno, como: Alternaria, Bipolaris sorokiniana, Fusarium (fase anamórfica do fungo Gibberella zeae [fase teleomórfica], causador da Giberela) e Drechslera. Além destes fungos que acometem as plantas nas lavouras, é necessário observar os fungos de armazenamento, como Aspergillus, Verticillium e Penicillium, os quais causam perdas e deixam o cereal impróprio para o consumo humano ou animal.
Desta maneira, realizou-se no Laboratório de Biologia Vegetal do Centro de Ensino Superior Riograndense – CESURG, unidade de Sarandi/RS, um experimento utilizando sementes de trigo de duas cultivares, tratadas e não tratadas com thiran + carbendazin, na proporção mL.kg-1 em meios de cultura BDA (batata-dextrose-ágar) e AA (água-ágar).
As sementes de trigo foram separadas em lotes de 50 sementes de cada método e colocadas em gerbox. Após, os meios permaneceram em câmara de crescimento a uma temperatura de 20 oC (± 2 oC), por um período de 12 horas de luz e 12 horas de escuro durante 7 dias, induzindo a germinação das sementes e a esporulação dos patógenos. Posteriormente, as mesmas foram analisadas quanto à incidência de patógeno em cada meio de cultura.
Na primeira amostra de sementes não tratadas em meio BDA, ocorreu uma grande incidência de Pectobacterium, isso pode ser devido à não realização de um tratamento específico para bactérias em sementes. Os fungos de maior incidência foram Drechslera e Bipolaris, e de armazenamento Penicillium e Aspergillus, por carecer de tratamento fúngico e pelas sementes estarem armazenadas em sacos desde a safra anterior, muitas vezes em locais inadequados.
Na amostra 2 de semente não tratada em meio AA, observou-se uma menor incidência de Pectobacterium e também dos fungos, isso pode ser devido a esse meio ser mais utilizado para a germinação de esporos, funcionando como câmara úmida (ALFENAS et al., 2007), e também por ter menos nutrientes para o desenvolvimento de organismos.
Na amostra 3 de sementes tratadas em meio BDA, observou-se um aumento expressivo de Pectobacterium. Obteve-se menor incidência de fungos devido ao tratamento das sementes, porém houve novamente o aparecimento de Bipolaris. Segundo Reis e Forcelini (1993), a ponta preta da semente nem sempre se manifesta, tornando a semente aparentemente sadia, porém o fungo encontra-se no interior destas, dificultando a esterilização através do tratamento com fungicidas que estão apenas no tegumento da semente.
Na amostra 4, houve somente fungos do gênero Bipolaris e novamente a incidência de bactérias, porém em menor quantidade que no meio BDA devido às razões comentadas anteriormente.
A partir dos resultados obtidos no experimento, observou-se que a eficácia de controle inferior a 100 % não é suficiente, e as sementes infectadas semeadas não cortam o ciclo de vida do parasita.
Dessa forma, pode-se observar na pesquisa a grande incidência de patógenos em sementes não tratadas e sua significativa diminuição nas tratadas, demonstrando a importância do uso da quimioterapia, pois, ainda que não erradique as doenças, o que seria muito difícil, diminui a incidência. Se essas sementes fossem semeadas em lavouras, ter-se-ia um grande potencial de dano econômico na safra que está ocorrendo e também nos tratos culturais que ficam para as próximas.
Referências
ALFENAS, A. C.; MAFIA, R. G. Métodos em Fitopatologia. Viçosa: Ed. UFV, 2007.
REIS, E. M.; FORCELINI, C. A. Transmissão de Bipolaris sorokiniana de sementes para órgãos radiculares e aéreos do trigo. Fitopatologia Brasileira. Brasília, v. 18, p. 76-81, 1993.