A resistência das plantas daninhas aos herbicidas constitui um dos principais problemas enfrentados por agricultores no Brasil e no Mundo. Até o momento, já foram confirmados mais de 500 casos de resistência a herbicidas, sendo 50 casos no Brasil. O rápido avanço e disseminação de populações resistentes têm levado produtores em diversas regiões a incluírem novas ferramentas para o manejo de plantas daninhas, dentre elas se encontra a aplicação de herbicidas pré-emergentes.
Uma das principais premissas do uso de pré-emergentes está a rotação de produtos com mecanismos de ação diferentes visando controlar as plantas daninhas resistentes ou prevenir a sua seleção. Assim, em áreas já infestadas com biótipos resistentes, a utilização de herbicidas pré-emergentes pode atrasar a emergência destes biótipos, facilitar o controle de plantas daninhas de difícil controle e diminuir os custos da aplicação em pós-emergência.
Áreas de soja e milho no Brasil
Aproximadamente 93% da área plantada de milho, soja e algodão no Brasil é ocupada por variedades transgênicas resistentes ao glifosato [inibidor da enzima enol-piruvil shiquimato fosfato sintase (EPSPs)], sendo este herbicida o maior responsável pelo controle químico de plantas daninhas nessas áreas. Na soja e no milho, além do glifosato, são usados mais uns três mecanismos de ação (inibidores das enzimas ALS, inibidores da ACCase e inibidores do fotossistema II). Nos herbicidas pré-emergentes existe a possibilidade de encontrarmos diferentes mecanismo de ação para incluir nesse manejo. Assim, o manejo químico se torna mais robusto, com maior espectro de ação e de menor risco em relação à seleção de biótipos resistentes. Podemos incluir nesta equação mecanismos como os inibidores da síntese de carotenoides (clomazona, isoxaflutole, entre outros), inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia longa (s-metolacloro, alacloro, entre outros) e inibidores da divisão celular (trifluralina e pendimetalina).
Exemplo prático:
Herbicidas pré-emergentes como o s-metolacloro, diclosulam, flumioxazina e clomazona tem se tornando parte fundamental de programas de manejo de plantas daninhas de difícil controle como o capim-amargoso (Digitaria insularis) resistente ao glifosato.
O capim-amargoso vinha sendo manejado basicamente através da aplicação de herbicidas graminicidas (inibidores da enzima ACCase), havendo, portanto, grande pressão de seleção de populações resistentes por estes serem as ferramentas únicas de controle. Inclusive, já foi confirmada a presença de capim-amargoso resistente a graminicidas no Brasil, porém esta população em questão é ainda suscetível ao glifosato (de Melo et al. 2017). Neste cenário, a inclusão de herbicidas pré-emergentes (possuidores de mecanismos de ação distintos aos graminicidas) adiciona robustez ao sistema de manejo de capim-amargoso e de diversas outras espécies importantes de plantas daninhas, diminuindo a pressão de seleção para evolução de resistência e tornando o controle mais eficiente.