Nos últimos dias o inverno vem se fazendo presente, com temperaturas baixas e ocorrência de geadas em várias partes do Brasil. Neste frio, cenários incríveis de campos absolutamente brancos foram vistos e admirados por muitos. No entanto, para o setor agropecuário o anúncio da possibilidade de ocorrência de geadas traz consigo o receio dos danos e das perdas produtivas que o frio extremo pode causar às culturas.
Muito além da região Sul, diversos outros estados relataram a ocorrência de frio intenso e geadas. Com isso, pesquisadores do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, indicam a seguir os possíveis impactos causados pelas baixas temperaturas para diversas culturas.
CITROS
O frio e a ocorrência de geadas nas regiões produtoras de citros, no estado de São Paulo, preocupam os pesquisadores quanto à produção de laranjas nesta temporada e com o vigor das plantas para a próxima safra da fruta. Ainda consideram a incerteza trazida pela falta de chuvas em 2021.
Nos pomares onde a geada se fez presente, o medo se dá em relação ao impacto no vigor do citros, que está próximo da época de indução floral e as árvores já sentiram a redução na ocorrência de chuvas há dois anos. É válido destacar que não se pode dizer ao certo o tamanho do dano, pois ainda é muito cedo, principalmente quando consideramos a próxima safra.
O que se pode dizer com mais certeza, é que na safra atual, deve haver uma redução na qualidade das laranjas que ainda estão por serem colhidas. Isto se deve ao fato de que os pomares que tiveram a incidência de geadas no fim de junho/início de julho, possuem frutas que já estão com o interior seco e cristalizado. Para a próxima safra, o dano maior deve estar nas árvores mais novas que estão na fase de brotação, como aquelas afetadas pelo greening.
CAFÉ
Para os cafezais o impacto foi maior nas regiões produtoras de café arábica, no Noroeste do Paraná, no Sul de Minas e em algumas localidades da Mogiana Paulista. No entanto, os danos ainda não foram todos contabilizados. Assim como para o citros, o maior medo está no impacto das geadas sobre a produção da próxima safra (2022/23).
O que os pesquisadores já sabem é que o potencial produtivo foi afetado e não será mais o mesmo. Por mais que o impacto exato seja divulgado ainda nas próximas semanas, este cenário temeroso já elevou os preços do café arábica, levando o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 a passar dos R$ 1.000/saca de 60 kg.
MILHO
Assim como para o café, o receio com o clima e a ocorrência de geadas também afetou os preços do milho, já que as geadas e a previsão climática anunciando a ocorrência de frentes frias podem comprometer o potencial produtivo das lavouras.
Como a colheita da atual safra ainda não encerrou e está atrasada em comparação com o ano de 2020, a atenção dos produtores está voltada ao processo de colheita, para então contabilizar as possíveis perdas na cultura do milho.
TRIGO
Mesmo o trigo sendo menos vulnerável às baixas temperaturas do que outras culturas, a ocorrência de frio extremo também pode causar danos a esta cultura. Ainda não há estimativas precisas quanto aos danos causados pelas geadas já ocorridas, mas os pesquisadores já se mostram preocupados com as lavouras de trigo. Essa preocupação se soma às perdas do milho e a alta do dólar e eleva a cotação do cereal no mercado.
CANA-DE-AÇÚCAR E ETANOL
O clima seco ocorrido no ano de 2020 já havia comprometido a produtividade da cana-de-açúcar e uma queda de produção já era esperada na região Centro-Sul. Entretanto, em função das geadas, essa redução pode ser ainda maior, impactando também sobre o ciclo da cultura, de forma que algumas usinas já estimam que a moagem termine já no final de outubro.
O clima adverso que vem sendo observado preocupa também quanto à produção de etanol e no posicionamento das usinas no mercado. A extensão dos danos nos canaviais devido às recentes ondas de frio e ocorrência de geadas ainda não foi totalmente contabilizada, porém uma diminuição na produção ainda maior do que a anunciada no início do ano-safra já é esperada. As previsões de manutenção do frio e de falta de chuvas vem causando apreensão no mercado sucroenergético.