Neste material você vai encontrar informações importantes para diferenciar a deriva de herbicida da mancha-branca como:
- Ocorrência;
- Paraquat: Reação fisiológica e mecanismo de ação na planta;
- Deriva de Paraquat;
- Informações para diagnose correta;
- Sintomas de fitotoxicidade.
Ocorrência
A partir da implantação do Sistema de plantio direto (SPD), a utilização de herbicidas dessecantes é cada vez maior, pois a eliminação das plantas daninhas, ou culturas de cobertura de solo, é feita com herbicidas de dessecação (MAGALHÃES et al. 1997). Os herbicidas utilizados como dessecantes são, usualmente, não-seletivos às culturas, e são aplicados às folhas das plantas em área total, podendo ser de ação sistêmicas ou de contato. Dentre os herbicidas mais utilizados nessa prática, destacam-se o glyphosate e o paraquat, sendo utilizados também o 2,4 D amina e diuron (MELHORANÇA, 2002).
Paraquat: Reação fisiológica e mecanismo de ação na planta
O Paraquat é um herbicida muito usado em diversas culturas como: fumo, algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, maça, soja, uva, abacaxi (MARTINS, 2013). Esse herbicida pertence ao grupo químico dos bipiridílios, é um sal solúvel em água que desseca rapidamente todo o tecido verde no qual entra em contato (PERON et al., 2003), através do processo de oxidação e redução (MELHORANÇA, 2002).
É uma molécula aceptora de elétrons, que leva plantas expostas a luz a sérios prejuízos fisiológicos através da depleção de NADPH e inibição da fixação de CO2, com consequente produção de superóxidos, que promovem a destruição de membranas (MARTINS, 2013). Tem forte ação de contato e é pouco translocável na planta, matando rapidamente os tecidos verdes.
Os íons destes herbicidas formam água oxigenada (H2O2) em quantidade fitotóxica que peroxida lipídios e danifica membranas do cloroplasto e células e produz a morte dos tecidos vegetais. Provocam a descoloração das folhas, indicando ruptura das membranas celulares, uma hora após aplicação, e murchamento e dessecação após 24 horas. São inativados ao entrar em contato com o solo (VIDAL, 1997).
Paraquat: Mecanismo de ação na planta
O local de ação do Paraquat é o cloroplasto. Este herbicida é conhecido por agir no sistema da membrana fotossintética, chamado Fotossistema I. Os elétrons livres do Fotossistema I reagem com o íon do Paraquat resultando na forma de radical livre. O oxigênio rapidamente reconverte esse radical livre e, nesse processo, produz superóxido. O superóxido é altamente reativo e ataca os ácidos graxos insaturados das membranas celulares, rompendo e desidratando tecidos (CENTRO…, 2016).
Deriva de Paraquat
Condições de baixa umidade relativa (menor que 50%) e temperatura alta (maior que 33 °C) favorecem a volatilização e a deriva desses compostos químicos na forma de vapor, pela ação de ventos, para longe do alvo (MELHORANÇA, 2002). Portanto, as condições inadequadas de aplicação não fazem com que o produto desapareça pela extinção da gota, mas poderá ser reidratado e depositado em outro local, podendo causar fitotoxidade. É comum se observar, a ocorrência de derivas nesse tipo de manejo cultural, as quais podem afetar uma lavoura vizinha (MAGALHÃES et al. 1997). Em milho, esse fato pode prejudicar o desenvolvimento da cultura e, conseqüentemente, a produção de grãos, uma vez que a área foliar verde é a principal fonte de fotoassimilados (MAGALHÃES & JONES 1990).
Sintomas de fitotoxicidade
Os sintomas da deriva de herbicidas à base de paraquat caracterizam-se por área cloróticas, esbranquiçadas, com aspecto seco e margens de cor marrom (Figura 1), idênticos aos sintomas causados por Phaeosphaeria maydis, agente causal da mancha-branca ou mancha de feosféria em milho. Assim, com frequência, as lesões produzidas pela deriva têm sido confundidas com a mancha de feosféria (Figura 2).
Por esse motivo, deve-se ficar atento aos possíveis erros de diagnose pela similaridade dos sintomas de fitotoxicidade com outras doenças ocorrentes nas culturas. Dessa forma, existem alguns parâmetros que facilitam a diagnose no campo:
Informações para diagnose correta:
1. Presença de um patógeno e seus sinais:
Doenças bióticas terão sua causa associada a algum patógeno. Nesse caso, um dos principais fatores para diagnose é a identificação de sinais. Sinais são estruturas de desenvolvimento ou reprodução do patógeno que permite identificá-lo. Por exemplo, em lesões mais evoluídas, a presença de picnídios (pontos pretos) no centro das lesões caracterizam-se como sinais de Phaeosphaeria maydis (Figura3). No caso de doenças de causa abiótica não existirão sinais a serem identificados. Não confundir sinais com sintomas. Sintomas estão ligados à planta e são alterações que refletem os danos de algum patógeno ou fator externo. Sinais estão ligados ao próprio patógeno.
2. Aparecimento dos sintomas nas plantas:
De maneira geral, doenças bióticas começam com pequenos sintomas e órgãos específicos das plantas e vão evoluindo e tomando maiores proporções. Dessa forma, o aparecimento dos sintomas ocorre de forma gradual. Algumas doenças abióticas como deficiências nutricionais, danos por déficit hídrico, também podem apresentar esse comportamento, nos qual os sintomas começam leves e intensificam-se. Porém, quando consideramos uma fitotoxicidade, o aparecimento dos sintomas ocorre de forma repentina, horas ou dias após a exposição das plantas, como fitotoxicidades foliares causadoras de necroses, por exemplo.
3. Distribuição dos sintomas na área:
Os sintomas de fitotoxicidade tendem a ser distribuídos de forma uniforme, em toda a área que foi exposta ao produto. Muitas vezes podem ocorrer apenas em faixas da lavoura em função do transpasse de barra e maior dose acumulada do produto na planta ou na bordadura da lavoura, ocasionados pela deriva. Porém, sintomas de doenças causadas por alguns fungos podem gerar sintomas semelhantes, que na maioria das vezes ocorrem de maneira mais desuniforme, em manchas, reboleiras, em áreas mais baixas ou em pontos de acúmulo de água.
4. Distribuição dos sintomas na planta:
Os sintomas de fitotoxicidade podem aparecer com maior severidade nas partes mais expostas ao produto químico. Dessa forma, os sintomas de fitotoxicidade concentram-se mais na parte superior das plantas, diferentemente da maioria das doenças causadas por fungos e bactérias, que tem seu início no dossel inferior. Isso se justifica pela maior deposição de gotas e consequentemente maior concentração dos ativos expostos no dossel superior da planta.
5. Evolução dos sintomas nas plantas
Os sintomas de fitotoxicidade não evoluem nos tecidos e não existe contaminação. É comum de observar situações de campo em que, após a ocorrência de fitotoxicidade por uma aplicação, as plantas continuam crescendo e os novos tecidos não apresentam tais sintomas. Dessa forma, a camada de folhas danificadas fica abaixo das novas folhas que se expandem e podem ser facilmente identificadas na planta. Já, os sintomas de doenças causadas por organismos evoluem tanto na planta, quanto na área de cultivo, começando com pequenas áreas de tecido lesionada e seguem progredindo, podendo ser transmitida de uma planta para a outra. No caso de mancha de feosféria, os sintomas iniciais apresentam anasarca (encharcamento) evoluindo até o sintoma final, a mancha branca (Figura 4).
6. Associação com fatores externos:
Tipicamente a maioria das doenças causadas por organismos são associadas a períodos úmidos, de alta pluviosidade, dias nublados, molhamento foliar, solo bastante úmido. Ao contrário, fitotoxicidades estão associadas a condições adversas de ambiente, períodos secos, déficit hídrico, alta luminosidade, planta estressada, altas temperaturas.
Porém, uma exceção bastante importante é quanto à Macrophomina phaseolina, a qual também é favorecida por períodos secos e situações em que a planta esteja estressada. Nesse caso, devem ser usados outros parâmetros para diagnose dos sintomas.
Dessa forma, deve-se atentar para o reconhecimento das lesões características de deriva de herbicidas dessecantes e da mancha de feoféria (Phaeosphaeria maydis) as quais são frequentemente confundidas com várias outras sintomatologias e recorrentes nas lavouras de milho com lavouras de soja adjacentes.
Referências
CENTRO de informações sobre o Paraquat. Dados e fatos sobre o Paraquat. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2016
MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M. & DA SILVA, J. B. Alteração na fonte de fotoassimilados do milho, pelo efeito da deriva de herbicidas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FISIOLOGIA VEGETAL, VI, Belém, 1997. Anais. Belém, PA, 1997. P. 226.
MAGALHÃES, P. C.; & JONES, R. Aumento de fotoassimilados sobre os teores de carboidratos e nitrogênio em milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, V. 25, n. 12. P. 1755-1761, 1990a.
MELHORANÇA, A. L. Tecnologia de dessecação de plantas daninhas no sistema plantio direto. Embrapa Agropecuária Oeste. Circular Técnica, 2002.
VIDAL, R. A. Herbicidas: mecanismos de ação e resistência de plantas. Porto Alegre: Palotti, 1997.
PERON, A. P.; NEVES, G. Y. S.; VALÉRICO, N. C.; VICENTINI, V. E. P. Ação tóxica do herbicida paraquat sobre o homem. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 7, n. 3 set./dez. 2003.
MARTINS, Thaismara. Herbicida Paraquat: conceitos, modo de ação e doenças relacionadas. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 34, n. 2, p. 175-186, 2013.