Plantas de cobertura no outono-inverno
Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Por que usar plantas de cobertura no outono-inverno
- Importância de diversificar o sistema produtivo
A soja é a principal cultura no período de primavera-verão no Centro-Oeste, enquanto que no outono-inverno, a cultura que impera é o milho. No estado do Mato Grosso, que lidera a área cultivada e a produção de soja nas estações mais quentes, cultiva-se além do milho, o algodão em sucessão à soja. Em toda Região Centro-Oeste, além do milho, também são cultivados sorgo, girassol, milheto, braquiária e feijão, mas o predomínio é a sequência de monocultivos de soja-milho. Esta sucessão, do ponto de vista agronômico, quando se pensa na sustentabilidade do sistema, não é a melhor alternativa.
É sabido que a soja e o milho são extremamente eficientes na produção de grãos, muito disso em função dos trabalhos de melhoramento genético. Porém, neste processo de melhoramento, a produção vegetativa das plantas ficou para trás, de forma que poucos resíduos vegetais permanecem na lavoura após a colheita dos grãos.
E ao pensarmos em sustentabilidade, alguns aspectos são extremamente importantes, como a rotação de cultura em uma mesma área, no mesmo período do ano; utilizar espécies diferentes, tanto na primavera-verão como outono-inverno; aportar material vegetal no sistema, tanto na superfície do solo como ao longo do perfil.
Adotar boas práticas na agricultura é uma das melhores estratégias para aumentar a resiliência do sistema produtivo e diminuir a exposição aos riscos climáticos e, também, para buscar preencher as lacunas de produção e produtividade.
Após a colheita, os resíduos vegetais produzidos pela planta ficam sobre a superfície, e no solo são as raízes que aportam resíduos ao longo do perfil. As raízes são como subsoladores/escarificadores, porém, não revolvem o solo. Com o aporte adequado de resíduos e sem revolvimento, o solo tem um papel na mitigação de CO2, um gás responsável pelo aquecimento global.
Em uma perspectiva de diversificação, uma alternativa é o cultivo de plantas de inverno, como o trigo (Figura 1) e a aveia. Essas culturas, dentro de um sistema de produção são importantes geradoras de renda e contribuem na produtividade da cultura principal, a de verão, e na redução de custos. Pensando no trigo, este é um dos únicos cereais importados para atender ao consumo interno, cerca de 50% do trigo consumido precisa ser comprado de outros países.
Vários estudos em diferentes regiões apontam que a melhor estratégia de manejo de plantas daninhas na cultura de verão é feita no período de outono-inverno, com resultado até para aquelas daninhas mais problemáticas e de controle difícil, como capim amargoso e buva. O cultivo de milho associado ao da braquiária, de trigo e de aveia, mostram-se ferramentas importantes quando se busca o manejo eficiente de plantas daninhas.
Outras espécies podem ser cultivadas no período de outono-inverno, seja em monocultivos ou em consórcios, como as crotalárias (Figura 2), o guandu, o estilosante, o milheto, o campim-sudão, o nabo forrageiro, dentre outras. Com a inserção destas espécies no sistema produtivo, temos como vantagem a redução nos custos de produção da cultura de verão, principalmente com a redução no uso de herbicidas e a redução das populações de nematoides, além da melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
O uso de plantas de cobertura no período mais frio do ano também constitui mais uma possível fonte de renda ao produtor rural, além da diversificação do sistema produtivo, tão afunilado na sucessão soja-milho. Estudos recentes desenvolvidos pela Embrapa Suínos e Aves, por exemplo, indicam a possibilidade de se utilizar na ração de aves e suínos, grãos de trigo e aveia, aumentando ainda mais as possibilidades de uso das plantas de outono/inverno.
Promover a diversificação e intensificar os sistemas de produção agrícola são a melhor alternativa para melhorar a produtividade física, o controle de plantas daninhas e nematoides, reduzindo assim os custos de produção e aumentando os lucros. Sob todos os aspectos, o cultivo de plantas no outono-inverno, de forma planejada e organizada, representa uma excelente alternativa para o agricultor da Região Central do Brasil.
Esse artigo foi originalmente publicado na Revista do Grupo Cultivar.