A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE
A fertilidade do solo é associada com o crescimento e desenvolvimento das plantas e tem sido conceituada como a capacidade do solo em suprir nutrientes para as plantas. Ou seja, relaciona-se com a disponibilidade dos nutrientes, que pode ser considerada a quantidade de nutrientes que a planta pode absorver durante o seu ciclo de vida.
De forma geral, os resultados obtidos por meio da análise dos atributos do solo (químicos, físicos e biológicos) possibilita a avaliação correta da capacidade de um solo suprir água e nutrientes necessários ao desenvolvimento da planta e de quantificar a suplementação dos nutrientes pela fertilização do solo.
Para o agricultor, conhecer a capacidade do seu solo em fornecer água e nutrientes para as plantas é a garantia de alcançar elevada produtividade agrícola, com a adequada utilização dos fertilizantes, sem desperdício e sem agressão ao meio ambiente. Portanto, a análise de solo é uma ferramenta fundamental que permite a utilização de práticas confiáveis de manejo de corretivos e de fertilizantes no processo de produção agrícola com sustentabilidade ambiental. Contudo, apesar de buscar-se quantificar a disponibilidade de nutrientes, a análise do solo para avaliação da sua fertilidade pode ter um enfoque mais amplo, ultrapassando os limites da produção agrícola. Numa visão mais ampla, a análise do solo é fundamental para o futuro da produção agrícola global, no que se refere à identificação de novas áreas com potencial para serem incorporadas aos sistemas produtivos e/ou no aumento de produtividade de áreas já incluídas no processo produtivo.
Adicionalmente, a avaliação da fertilidade do solo tem caráter indispensável em trabalhos de recuperação de áreas degradadas pela atividade humana, como áreas utilizadas em mineração, construção de rodovias, aterros sanitários, entre outros. Nesses casos, a avaliação dos atributos do solo tem por objetivos aspectos como o estabelecimento da cobertura vegetal para proporcionar maior atividade microbiana, visando degradação de contaminantes orgânicos e fitorremediação, para mitigação de contaminantes inorgânicos e metais pesados.
O PROCESSO DE ANÁLISE
A análise de solo engloba quatro etapas principais: amostragem ou coleta do solo no campo, análise laboratorial, interpretação dos resultados e recomendação das práticas de manejo, todas relacionadas a uma condição real no campo. Das etapas mencionadas, a amostragem do solo é a primeira e a mais crítica das atividades de um programa que visa adequada utilização de fertilizantes e corretivos (recomendações de adubação e calagem), com base na análise do solo e na exigência da cultura. Para que os resultados da análise do solo tenham resultados confiáveis, é necessário que a amostragem do solo seja realizada de maneira correta, uma vez que a amostra de solo deve representar fielmente o terreno (gleba ou talhão) a ser analisado.
De todos os passos que envolvem a análise de solo, a amostragem é a mais crítica e que contribui com a maior fonte dos erros, originando resultados incorretos da real condição do campo. Se as técnicas de amostragem do solo não forem seguidas, os resultados das análises terão pouco valor, pois o objetivo dela é avaliar o estado atual da disponibilidade de nutrientes do solo e orientar a correta aplicação de corretivos e fertilizantes para as culturas. Geralmente, essa é a etapa de responsabilidade do produtor. Porém, devido a maior responsabilidade e complexidade dessa etapa, existem empresas especializadas nos procedimentos de amostragem, visando melhor representatividade dos solos a serem analisados, o que tem sido utilizado por alguns produtores que possuem essa consciência.
A conscientização sobre a importância de uma amostragem de solo realizada corretamente deve ser mais difundida entre os agricultores pelos extensionistas. Nunca é demais lembrar que, por melhor que sejam realizadas as análises de laboratório dos atributos do solo, elas não podem corrigir falhas na amostragem do solo (coleta das amostras) ou na sua representatividade.
COMO AMOSTRAR O SOLO
O primeiro passo da realização da amostragem do solo consiste em dividir a propriedade em glebas de solo homogêneas, nunca superiores a 10 hectares, e considerando os seguintes fatores:
a) Vegetação, compreendendo as culturas ou vegetação anteriores de formas naturais e implantadas.
b) Posição topográfica e relevo, delimitados pelas mudanças de declividade (morro, meia encosta, baixadas, etc.).
c) Características físicas do solo como cor, textura (argilosos, arenosos) e profundidade do perfil.
d) Histórico de utilização da área no que se refere ao emprego de corretivos e fertilizantes e culturas utilizadas (culturas anuais como milho, soja, algodão, etc.; culturas perenes como citros, café, etc.; pastagem; essências florestais). Culturas de variedades/cultivares ou idades diferentes e áreas ou manchas de solos de aspectos excepcionais devem ser amostradas separadamente.
Como uma regra geral, a homogeneidade é o principal fator que determina a área de abrangência da amostra. A amostra representativa de uma gleba é aquela que melhor reflete as condições de fertilidade da área amostrada. Para se conseguir uma amostra representativa, é necessário coletar várias subamostras (amostras simples) em diversos pontos e misturá-las, obtendo-se assim uma amostra composta, a qual vai representar aquela determinada gleba.
Estudos estatísticos indicam que 15 a 20 amostras simples, de mesmo volume, constituem um número adequado para representar a área a ser amostrada, independentemente de seu tamanho. Contudo, como mencionado, as glebas devem ser de até 10 hectares. Glebas maiores que 10 hectares, mesmo sendo consideradas homogêneas, devem ser divididas e amostradas separadamente. Tal técnica é adotada devido à variabilidade das propriedades químicas do solo poder variar em pequenas distâncias. Dessa maneira, uma propriedade rural pode resultar em várias amostras de solo.
Em cada gleba homogênea, a coleta das amostras simples deve ser realizada ao acaso, caminhando-se em ziguezague de maneira a abranger toda a área. Deve-se evitar a coleta das amostras simples próximas de casa; brejos; voçorocas; árvores; sulcos de erosão; nas curvas de nível; locais onde restos vegetais foram queimados; formigueiros; cupinzeiros; locais onde foi depositado calcário ou adubo; locais de repouso de animais, no caso de pastagens, em caminhos de pedestres; próximos de cercas ou em qualquer local que não represente a condição real da gleba. Alguns cuidados, como a limpeza da superfície do solo (retirada de resíduos vegetais) e dos equipamentos para amostragem (trado, pá, enxadão, etc.), devem ser tomados por ocasião da coleta das amostras simples. A terra de cada amostra simples deve ser transferida para um balde limpo, de preferência de plástico, sendo muito bem misturada para formar a amostra composta, que será encaminhada ao laboratório para análise. Sacos de adubo ou outras embalagens já utilizadas nunca deverão ser utilizados para acomodar as amostras para envio ao laboratório.
A amostra que chega ao laboratório para ser analisada representa uma pequena porção de solo como um todo. Supondo como exemplo, o volume de solo correspondente à camada arável (0-20 cm) de 10 hectares é de 20.000 m3, ou vinte milhões de litros de solo. Se for enviada ao laboratório uma amostra composta de 500 cm3 de terra, essa amostra representará uma parte de 40 milhões de partes. Se for considerado que em algumas analises é utilizado apenas 2,5 cm3 de terra, isso representará uma parte em 8 bilhões de partes da camada arável. Portanto, o resultado esperado dessa pequena porção de terra representa um volume de 8 bilhões de vezes maior. Desse exemplo, fica demonstrada que a amostragem do solo é uma etapa da avaliação da fertilidade do solo que deve ser rigorosamente executada, seguindo instruções baseadas em considerações de caráter científico.
LOCAL DA AMOSTRAGEM
A amostragem do solo pode ser feita com diversas ferramentas como enxadão, pá reta, sonda e vários tipos de trado (trado de rosca, trado calador, trado holandês). A profundidade de amostragem deve ser definida de acordo com a cultura que está sendo ou será cultivada na gleba, de maneira a amostrar a camada de solo que será explorada pelo maior volume sistema radicular da cultura.
Geralmente, esse volume está associado à profundidade de preparo do solo, em sistemas de cultivo convencional. Para cultivos de culturas anuais (milho, soja, feijão, etc.) e pastagens, é recomendada a amostragem na camada de 0-20 cm. Para pastagens já estabelecidas, a amostragem pode ser de 010 cm. Para culturas perenes (café, frutíferas e essências florestais, etc.), a amostragem deve ser realizada em camadas, como por exemplo, nas camadas de 0-20, de 20-40 e de 40-60 cm, constituindo amostras compostas por camada. Em áreas com suspeita de acidez em subsuperfície, é recomendado amostrar o perfil do solo até 60 cm de profundidade (0-20, 20-40, 40-60 cm), seja para culturas anuais ou perenes. O objetivo dessa amostragem é corrigir impedimento químico para o crescimento de raízes e evitar que a cultura corra risco de perda de produtividade na ocorrência de veranicos.
Também, é recomendável coletar amostras até 60 cm de profundidade em áreas desconhecidas, visando análises de teores de argila e demais atributos do solo, para identificar o tipo de solo. Em sistema de plantio direto, é recomendado amostrar-se as camadas de 0-10 e 0-20 cm. Em casos em que são realizadas adubações superficiais em culturas perenes, recomenda-se coletar as amostras simples na camada de 0-10 cm, sob a projeção da copa, onde, usualmente, são aplicados os fertilizantes e há maior influência da queda dos resíduos vegetais na superfície do solo. Em caso de dúvidas, é recomendado consultar um Engenheiro Agrônomo ou técnico agrícola.
ENVIO DA AMOSTRA AO LABORATÓRIO
Como mencionado anteriormente, as amostras simples devem ser muito bem misturadas e homogeneizadas em recipiente limpo e, preferencialmente de plástico, obtendo-se daí a amostra composta. Dela, separa-se uma porção (subamostra) com volume de aproximadamente 500 cm3, a qual será enviada para o laboratório. Esse volume é suficiente para a realização de todas as análises de solo no laboratório. Caso a amostra esteja muito úmida, recomenda-se deixar a amostra secar ao ar e na sombra.
O saco de plástico contendo a amostra deve ser devidamente etiquetado, contendo informações úteis à sua completa rastreabilidade, como nome da propriedade, numeração do talhão, profundidade amostrada, etc.
A escolha do laboratório de análises de solo deve ser levada em consideração na obtenção de resultados com qualidade. Laboratórios idôneos e que investem em tecnologias e capacitação de pessoal são fundamentais para o sucesso do processo como um todo.
FREQUÊNCIA E ÉPOCA DE AMOSTRAGEM
A frequência da amostragem do solo para avaliação da fertilidade pode variar de um a quatro anos, dependendo da intensidade de adubações, do número de culturas anuais consecutivas, do tipo de exploração da área e do tipo de solo (textura). Recomenda-se maior frequência em áreas com exploração com culturas anuais e solos arenosos e que recebem maiores aplicações de fertilizantes e corretivos.
Quanto à época de coleta das amostras de solo, elas podem ser realizadas em qualquer época do ano. É conveniente que a amostragem seja realizada com a maior antecedência possível, para garantir que os resultados estejam prontos para que se possa planejar a compra de calcário ou adubos para a próxima safra. Contudo, é recomendado, no mínimo, três meses antes das operações de semeadura ou plantio, ou no final do período chuvoso (maio a junho), quando ainda o solo apresenta alguma umidade, o que facilita a amostragem.
Em pastagens estabelecidas, recomenda-se a amostragem de dois a três meses antes do máximo crescimento vegetativo, enquanto que para culturas perenes, recomenda-se realizar a amostragem logo após a colheita. Assim, há tempo suficiente para se realizar a adubação antes da ocorrência do próximo florescimento.
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
Como mencionado anteriormente, a avaliação da fertilidade do solo é uma das ferramentas disponíveis, de fácil acesso aos produtores rurais e que pode proporcionar aumentos de produtividade e redução de custos. O aumento de produtividade é conseguido pelo fato de que a cultura terá os nutrientes na forma e quantidades necessárias, e a diminuição do custo, pela aquisição das quantidades de fertilizantes sem excesso ou falta. Dessa maneira, espera-se um aumento da receita da propriedade com a diminuição das despesas. Em média, o custo do fertilizante chega a ser de 30% do custo total de produção de uma determinada cultura. O custo de uma análise de solo visando avaliação da fertilidade de uma gleba uniforme de até 10 hectares é centenas de vezes menores que o custo de uma tonelada de fertilizante. Dessa maneira, reduções nos custos com fertilizantes, em decorrência de uma adequada avaliação do solo, faz com que o custo de uma análise de solo se torne irrisório no custo final do produto produzido. Se realizada adequadamente e em tempo hábil, de maneira que os resultados venham a expressar a realidade das condições de fertilidade do solo de uma determinada gleba, a análise do solo permite tomada de decisões fazendo com que a fertilidade do solo não seja um fator limitante à produtividade das culturas naquele e demais anos agrícolas.