Uma das principais ações dos micro-organismos nos solos é na ciclagem dos elementos. Entre os processos de ciclagem, os relacionados com o carbono ocupam uma posição central na geoquímica do solo (PRESCOTT; HARLEY; KLEIN, 1996). Isto se dá por vários motivos, porém podemos enumerar os seguintes:
(1) a importância do carbono para a nutrição de todos os seres vivos,
(2) a posição central que o ciclo do carbono ocupa, em relação com os outros ciclos biogeoquímicos.
Com base nestas informações, podemos perceber a importância ecológica de conhecermos a atuação dos micro-organismos no ciclo do carbono. Esta importância não é apenas científica; ela também é fundamental para fins práticos, uma vez que o ciclo do carbono está diretamente relacionado com a qualidade do solo e com a produtividade agrícola. Além disso, percebeu-se, recentemente, que, através do ciclo do carbono, os micro-organismos do solo podem influenciar as condições climáticas globais, pela sua atuação em um conjunto de processos que é conhecido pelo nome de sequestro do carbono.
Sequestro de carbono
O sequestro de carbono é um conjunto de processos pelos quais o CO2 é retirado da atmosfera e transferido para o solo e outros ambientes, em uma forma química de difícil mobilização. Os principais agentes de sequestro de carbono são os organismos autotróficos, que são capazes de sintetizar sua biomassa a partir do CO2. As plantas são os principais organismos autotróficos dos ambientes terrestres. Através da fotossíntese, elas conseguem absorver o CO2 e convertê-lo em biomassa vegetal que, quando elas morrem, é transferida para o solo.
Os micro-organismos podem atuar de maneira positiva ou negativa no sequestro de carbono. Durante a decomposição da matéria orgânica vegetal presente no solo, os micro-organismos liberam o CO2 novamente para a atmosfera, reduzindo, assim, o sequestro de carbono. Por outro lado, a microbiota do solo também pode fixar o CO2, de maneira similar às plantas. Apesar de a fixação do CO2 atmosférico realizado pelos micro-organismos de solo ser menor, em comparação com a realizada pelas plantas, observou-se que, sua contribuição para o sequestro de carbono é bastante significativa (AKYNYEDE et al., 2020).
Além de fixar o CO2, os micro-organismos também podem contribuir para a formação do húmus, durante o processamento da matéria orgânica do solo. Como o húmus é um tipo de matéria orgânica de maior complexidade, o carbono presente nele é de difícil mobilização. Portanto, a formação do húmus é outro processo que envolve micro-organismos e que contribui para o sequestro de carbono.
Sequestro de carbono e as práticas agrícolas
Quando mensuramos o sequestro de carbono em diferentes solos, percebemos que há grandes diferenças quando comparamos solos naturais e cultivados. Mas mesmo entre os solos cultivados, observam-se grandes diferenças dependendo do tipo de cultura e das práticas de manejo adotadas. Em suma, o uso dado ao solo exerce grandes influências sobre a sua capacidade de reter carbono.
De forma geral, práticas que reduzem a biomassa vegetal em um solo, como as queimadas e o desmatamento, tendem a reduzir o sequestro de carbono (LAL, 2004). As monoculturas são sistemas de cultivo que também tendem a reduzir o sequestro de carbono do solo, pela depleção da matéria orgânica. Por outro lado, os sistemas que proporcionam uma melhor qualidade do solo e maior teor de matéria orgânica, como, por exemplo, a rotação de culturas e o plantio direto, também podem ser benéficos para o sequestro de carbono (LAND et al., 2017).
Os solos possuem os maiores reservatórios terrestres de carbono (YU et al., 2020). Portanto, todas as práticas agrícolas que alteram a sua capacidade de reter este elemento podem ter consequências graves para o clima e para o meio ambiente em geral. Quando falamos em práticas agrícolas conservacionistas, e em uma agricultura sustentável, estamos essencialmente pensando em produzir o alimento de uma maneira que os efeitos prejudiciais ao meio ambiente sejam reduzidos ou completamente eliminados. Mesmo que isso não nos afete diretamente, o consumidor já percebeu a importância do desenvolvimento sustentável. Logo, ele passa a visar produtos que estão associados com práticas amigáveis ao meio ambiente. Isso já justifica a preocupação do produtor em entender o sequestro de carbono e adotar práticas que o favoreçam.
Além disso, também existe a possibilidade de um produtor reverter as quantidades de carbono não emitidas dos seus solos em créditos de carbono (SILVA; MACEDO, 2012). Isto pode representar um ganho financeiro direto para o produtor. Portanto, a necessidade de nos preocuparmos com o sequestro de carbono não deve ser deixada de lado. Para que possamos colher os benefícios, devemos incorporar a preocupação com o sequestro de carbono nas decisões relacionadas com as práticas de manejo que adotamos. Uma maior consciência da biologia do solo é fundamental para esta finalidade.
Veja AQUI, o vídeo de como os microrganismos atuam sobre o ciclo do carbono e a relação disso com as práticas agrícolas.
Referências:
AKINYEDE, R.; TAUBERT, M.; SCHRUMPF, M.; TRUMBORE, S.; KÜSEL, K. Rates of dark CO2 fixation are driven by microbial biomass in a temperate forest soil. Soil Biology and Biochemistry, v. 150, artigo 107950, 2020.
LAL, R. Agricultural activities and the global carbon cycle. Nutrient Cycling in Agroecosystems, v. 70, p. 103–116, 2004.
LAND, M.; NEAL ROBERT HADDAWAY, HEDLUND, K.; JØRGENSEN, H. B.; KÄTTERER, T.; ISBERG, P. E. How do selected crop rotations affect soil organic carbon in boreo-temperate systems? A systematic review protocol. Environmental Evidence, v. 6, artigo 9, 2017.
PRESCOTT, L. M.; HARLEY, J. P.; KLEIN, D. A. Microbiology. Chicago: Wm. C. Brown Publishers, 1996.
SILVA, L. F.; MACEDO, A. H. Um estudo exploratório sobre o crédito de carbono como forma de investimento. Rev. Elet. em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 8, n. 8, p. 1651-1669, 2012.
YUA, L.; LUO, S.; XUA, X.; GOU, Y.; WANGA, J. The soil carbon cycle determined by GeoChip 5.0 in sugarcane and soybean intercropping systems with reduced nitrogen input in South China. Applied Soil Ecology, v. 155, artigo 103653, 2020.