O intervalo da segunda para a terceira aplicação de fungicidas na cultura da soja é um momento bastante crucial do programa fungicida. Historicamente, esse momento coincide com o período de aumento significativo da pressão de doenças no campo, especialmente a ferrugem. Assim, a utilização de intervalos muito longos nessa fase pode comprometer significativamente o desempenho do programa como um todo.
Veja no vídeo abaixo o que a pesquisadora Dra. Mônica Debortoli realça sobre esse aspecto.
No II Seminário Phytus, ocorrido em Porto Alegre em julho de 2017, a Dra. Mônica apresentou dados referentes a utilização de 14 ou 21 dias entre a segunda e a terceira aplicação, período que coincidiu com a evolução da ferrugem no campo.
Foram obtidos dados em nove cultivares de soja, sendo que em todas houve ganho produtivo significativo através do uso do intervalo mais seguro de 14 dias em relação a 21 dias.
Ouça:
Fique atento!
Precisamos assumir que os residuais dos fungicidas não são os mesmos que eram tempos atrás quando foram lançados. A fisiologia da planta a partir do estádio reprodutivo também sofre mudanças que afetam o desempenho dos fungicidas e também contribui para menores residuais. Fatores como esses cria a necessidade de intervalos mais seguros entre as aplicações.
A partir do reprodutivo, a formação de flores e legumes surgem como novos drenos de energia, causando uma mudança no balanço energético da planta. Para isso a planta se torna altamente dependente do bom funcionamento do seu aparelho fotossintético e também das reservas já produzidas no período vegetativo. Folhas doentes, além de deixarem de ser efetivas na produção de energia, podem se tornar drenos devido ao gasto energético pela ativação incansável de defesas pela planta. Assim, ajustar as aplicações de forma a manter as plantas sadias por mais tempo é fundamental para otimizar esses processos, prolongar eficiência fotossintética e evitar a formação de drenos que roubam energia a planta.
A partir do reprodutivo, a colocação dos ativos fungicidas em quantidades adequadas sobre os tecidos começa a se tornar mais difícil, principalmente no dossel inferior. A taxa de penetração de gotas é bastante dificultada pela sobreposição de folhas e a taxa de absorção dos fungicidas pelas folhas pode ser dificultada também a medida que as plantas envelhecem.
A Esquema abaixo evidencia as diferenças de absorção entre folhas novas e folhas mais velhas. Em uma mesma planta, considerando a aplicação da mesma quantidade de produto sobre a 3° folha e sobre a 5° folha (sentido de baixo para cima), as folhas superiores, mais novas, tiveram maior absorção comparada as folhas inferiores (mais velhas), 4 h após a aplicação.
Ouça:
Acompanhe abaixo a opinião do pesquisador Ricardo Balardin sobre os fatores que afetam a absorção dos fungicidas:
Com base nas informações acima, conclui-se que, a partir do reprodutivo, utilizando produtos corretamente selecionados, com elevada eficácia sobre os alvos, intervalos entre aplicações não superiores a 15 dias são adequados para se alcançar eficiente controle de doenças na soja. Vale lembrar que ajustes poderão ser necessários no sentido de reduzir esse intervalo, a depender de condições climáticas, aumento na pressão de doenças, chuvas após a aplicação, dentre outros fatores.