Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Comercialização
- Análise de cenários
- Estratégias para tomada de decisão
Ao entrarmos no ano de 2020, nem o produtor rural mais otimista imaginaria que atingiríamos valores tão altos nos preços da saca da soja e do arroz. Ambas commodities bateram a marca dos três dígitos, animando as projeções para as próximas safras. Nesse sentido, o “vislumbre” de preços de venda tão convidativos não pode ofuscar a importância de se continuar realizando uma gestão eficiente, no sentido de negociar com os fornecedores os preços dos insumos, continuar realizando a gestão de fluxo de caixa, e fazendo projeções para os próximos meses do negócio (ou para as próximas safras).
Sobre as próximas safras, algumas projeções indicam que, no caso da soja, para a safra 2020/21 cerca de 30% da produção já está vendida (SANTIN et al., 2020). Diante desse cenário, vale a pena ou não comercializar (mesmo antes do plantio) parte da produção futura, visando a aproveitar a disparada dos preços?
A resposta para essa pergunta é complexa e depende da realidade de cada negócio rural. Se proteger (fazer hedge) por meio da venda futura é um mecanismo importante para minimizar impactos referentes a uma possível queda nos preços.
Mas quando vender soja?
Não darei uma resposta para essa pergunta, até porque, creio que não tenho tal capacidade. Porém, destaco uma ferramenta que pode contribuir à tomada de decisão. Ela chama-se análise de cenários.
Na análise de cenários, destaco dois fatores que devem ser observados com atenção: a produtividade por hectare e o preço da saca. Faça cenários pessimistas, prováveis e otimistas, como a ilustração a seguir (Figura 1). Nos cenários pessimistas, podem ser analisadas uma situação de déficit hídrico (baixa produtividade) e uma grande queda no preço da saca. No cenário provável, os preços podem se manter constantes aos de hoje, e a produtividade pode ser estimada como a de um ano normal (um ano em que não faltou chuva, por exemplo). E, no cenário otimista, podem ser estimadas uma situação de safra com produtividade acima da média (ou até uma super safra) e outra de aumento no preço de venda da saca. Com isso, poderão ser analisados nove diferentes cenários.
Figura 1. Relação entre os cenários pessimistas, prováveis e otimistas. Fonte: Autor (2020).
Com a análise de cada cenário estimado, o produtor terá melhores subsídios para definir qual percentual lhe é conveniente vender via “contrato futuro”. Por exemplo, digamos que um produtor, por ventura, decida vender 50% da sua produção hoje, para aproveitar um contrato de venda futura de 130 reais/saca. Se ele não analisou com eficiência os possíveis cenários, e na colheita, sua produtividade foi extremamente baixa, devido a um verão marcado por secas em janeiro e fevereiro, de forma que não conseguiu a totalidade da produção que já estava vendida, provavelmente ele terá dificuldades ao longo do ano para cumprir com suas obrigações financeiras.
Se no cenário mais pessimista de todos (produtividade baixa e preço baixo), o negócio rural ainda apresentar um fluxo de caixa adequado para os próximos meses (para o pagamento das obrigações financeiras e para investimentos), o produtor poderia, talvez, vender um maior montante hoje para aproveitar o atual preço da soja.
Por falar em investimentos, a análise de cenários também é importante no sentido de apresentar estimativas visando à capacidade de pagamento de implementos agrícolas, financiamentos e assim por diante.
Portanto, a análise de cenários constitui uma essencial ferramenta de tomada de decisão, que pode ser adotada pelos agricultores em diversas situações, visando a boas decisões e lucratividade.
Referência
SANTIN, W.; SILVA, E.; SALOMÃO, R.; TAGUCHI, V. Brasil começa safra 2020/21 com projeção de novo recorde em colheita e rentabilidade. Globo Rural, 20 set. 2020. Disponível em: https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2020/09/brasil-comeca-safra-202021-com-projecao-de-novo-recorde-em-colheita-e-rentabilidade.html. Acesso em: 25 set. 2020.