Parte 2 – Processos de formação do solo
Na Parte 1 você conheceu um pouco mais sobre como atuam os principais fatores de formação do solo, como o intemperismo atua e como o material de origem tem relação com a formação do solo, relacionando com sua ocorrência na paisagem.
Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Processos gerais de formação do solo;
- Processos específicos de formação do solo.
Processos de formação do solo
Os processos de formação do solo dão a intensidade e a direção das transformações que resultam no solo como o conhecemos hoje. Esses processos são regulados pelos fatores de formação detalhados na Parte 1: material de origem, clima, relevo, organismos e tempo, e levam a impressão de determinadas feições ao solo, que são visíveis ao observarmos um perfil de solo. Mediante a observação dessas feições, e dos processos de formação que as geraram, é possível compreender e desenhar a história desse solo, como se formou, e também com classificá-lo. Bem como, usar tais informações para identificar a melhor vocação de uso e os cuidados necessários no seu manejo, visando a sua conservação.
Os processos de formação do solo são divididos em gerais ou específicos, e serão detalhados a seguir.
Processos gerais de formação do solo
Os processos gerais são a adição, a remoção, a transformação e a translocação, que ocorrem em maior ou menor grau em todos os solos.
A adição é a soma de qualquer material exterior ao perfil ou horizonte do solo, o que pode ser material orgânico, sedimentos, cinzas vulcânicas e material antropogênico: adubos, agrotóxicos, resíduos, aterro etc.
A remoção consiste na retirada de material para fora do perfil naturalmente: lixiviação, erosão, fluxo lateral e percolação; ou acelerado pela ação antrópica: erosão acelerada, colheita, queima, nivelamento ou sistematização do solo; é o processo contrário ao da adição.
Já a transformação é quando ocorre a mudança química ou mineralógica dos materiais do perfil, como a transformação do material orgânico em matéria orgânica, dos minerais primários em secundários, e outras transformações químicas como a precipitação e a dissolução química.
Enquanto a translocação se refere ao processo por meio do qual o material passa de um horizonte para outro, sem deixar o perfil, como a eluviação/iluviação de coloides orgânicos e inorgânicos, o movimento vertical de íons e a ação transportadora de organismos da fauna do solo, como cupins, minhocas e formigas.
Processos específicos de formação do solo
<
Quando diferentes processos gerais ocorrem juntos, em intensidade variada, temos solos com determinadas características, de acordo com cada associação de processos. São vários os processos específicos de formação do solo, como: latolização, podzolização, gleização, laterização, salinização, entre outros, sendo os principais processos para o estado do Rio Grande do Sul a latolização, a podzolização e a gleização, que serão detalhados a seguir.
Latolização
Este processo específico de formação é caracterizado pelo intemperismo químico, principalmente por hidrólise, oxidação e lixiviação, que ocorreram por muito tempo ou de forma muito intensa, levando à dessilicação média a forte, com a formação do horizonte B latossólico (Bw).
Dessa forma, esse processo é típico para a Latossolos, que é uma classe de solo de grande importância na produção agrícola no Rio Grande do Sul. Os fatores de formação comuns desse solo são: material de origem capaz de formar argila, como o basalto (rochas magmáticas extrusivas), clima chuvoso e com temperaturas altas, relevo plano e boa drenagem interna, organismos aeróbicos e longo tempo de ação do intemperismo.
Sendo assim, é comum encontrar neste solo óxidos de ferro e alumínio, e a caulinita, de acordo com a intensidade da dessilicação. Outra característica é a pobreza de bases e de sílica. Assim, estes solos apresentam baixo pH, alto teor de Al trocável, baixa saturação por bases e capacidade de troca de cátions, ou seja, são quimicamente pobres.
Em contrapartida, é um perfil de solo geralmente profundo, homogêneo e de rara ocorrência de gradiente textural, sem impedimentos ao crescimento das raízes, bem drenado e aerado, promovendo bom armazenamento de água e fácil de mecanizar.
Com isso, podemos inferir que os solos que sofrem tal processo de formação tendem a ter baixa fertilidade natural, compensada por ótimas características físicas.
Podzolização
Este processo específico de formação, assim como a lessiviagem ou argiluviação, é caracterizado pela transferência vertical de coloides, no primeiro caso de coloides inorgânicos associados a compostos orgânicos, e no segundo caso, de argila.
Essa translocação ocorre geralmente em três etapas: dispersão, transporte e deposição, podendo formar o horizonte B textural (Bt), caracterizado pelo gradiente de textura. O material sai do horizonte superficial, geralmente o A ou E, chamado de eluvial, e é translocado para o horizonte B textural, chamado de iluvial, com possível presença de cerosidade (recobrimento dos agregados com filmes de argila), de forma que o conteúdo de argila no horizonte B textural é sempre maior do que no A ou E. Os solos formados por tal processo de formação podem ser de várias classes, como Argissolos, Luvissolos e Planossolos (horizonte Plânico é um tipo especial de horizonte B textural).
Os fatores comuns em tal processo de formação do solo são: material de origem capaz de formar argila, altos índices de precipitação e temperatura, relevo ondulado, organismos aeróbicos, e tempo de intemperização médio a longo. A principal diferença destes processos de formação para o anterior são o relevo e o tempo de formação, que é mais acidentado e apresenta menor tempo de formação neste processo.
Como o grau de dessilicação pode ser muito variado, a mineralogia destes solos também é variada, e consequentemente, a parte química também. Porém, a presença de gradiente textural é a regra.
Somando todas estas características à presença de um horizonte superficial mais arenoso, esses solos são muito suscetíveis à degradação estrutural e à erosão, necessitando de cuidados especiais para promover sua conservação.
Dessa forma, os solos constituídos por tais processos de formação apresentam um impedimento ao crescimento das raízes (gradiente textural), fertilidade natural e drenagem variada, podendo ocorrer fluxos laterais, necessitando de cuidados com a erosão.
Gleização
Processo de formação comum em ambientes onde ocorre a redução e em que há a saturação por água na maior parte do tempo. Nessa condição, predominam os organismos anaeróbicos, que apresentam menor eficiência na decomposição dos materiais orgânicos em comparação aos aeróbicos, além de utilizarem outros elementos como aceptores finais de elétrons na cadeia respiratória.
Esse cenário leva ao aumento da concentração de agentes complexantes orgânicos e de elétrons no meio, levando a redução do nitrogênio e depois do ferro e do manganês. Com isso, há o transporte destes elementos para fora do perfil de solo, tornando sua coloração acinzentada pela falta de matéria orgânica e pelos óxidos que são os principais responsáveis pela cor do solo. Dessa forma, os solos deficientes em drenagem apresentam coloração acinzentada.
Com o processo de gleização há a formação do horizonte glei (Bg) ou plíntico (Bf), característicos de Gleissolos e Plinitossolos, com uso comum para o cultivo de arroz irrigado nas várzeas do Rio Grande do Sul.
Considerações finais
Depois de entendermos um pouco mais sobre os fatores de formação e os processos de formação do solo, podemos relacionar a classe de solo que hoje identificamos em um ponto da paisagem, com sua origem, sua história. E com isso também prever o futuro e quais as suas limitações e vocações de uso.
As propriedades e/ou principais características do solo indicam quais foram os fatores de formação mais determinantes e por quais processos de formação ele passou ao longo do tempo. O que também nos impele a tomar mais cuidado com nossos solos, sabendo agora quanto tempo foi necessário à sua formação e quantos elementos fizeram parte da sua gênese.