Alface e cebola no sistema de consórcio
Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Características da cebola e da alface
- Produção consorciada
- Época de estabelecimento do consórcio
Cebola e alface
A cebola e a alface são hortaliças muito difundidas e de grande relevância econômica no Brasil e no mundo. Com elevado consumo in natura pela população brasileira, essas hortaliças destacam-se tanto em termos de produção e de comercialização, como em valor nutricional. A cebola ocupa o terceiro lugar entre as hortaliças com maior expressão e a alface é a folhosa mais consumida nacionalmente. Além de sua importância socioeconômica, elas também são responsáveis pela geração de inúmeros empregos e renda a pequenas propriedades rurais.
Alface e cebola, além de compartilharem a preferência dos brasileiros, são duas espécies que funcionam bem em sistema de consórcio.
O que é o cultivo consorciado?
Trata-se de uma prática agronômica que agrupa na mesma área o cultivo de duas ou mais espécies com ciclos e arquiteturas diferentes (Figura 1), buscando aumentar a produtividade e a qualidade, além da redução dos impactos ao meio ambiente com maior economia de recursos.
Em cultivo consorciado, as culturas não necessitam ser semeadas ou plantadas na mesma época, e também podem ser colhidas em momentos diferentes, porém, durante parte de seus ciclos, as culturas devem conviver e interagir.
Esta diversificação aumenta a estabilidade do sistema produtivo como um todo, pois:
- dificulta o surgimento de uma praga ou doença devastadora;
- favorece os inimigos naturais;
- a proteção do solo é maior;
- a incidência de plantas daninhas é menor;
- a produção de alimentos é diversificada e, com isso, o produtor pode atingir mais clientes consumidores com a sua produção;
- a produtividade por unidade de área é maior.
Ter sucesso com este sistema produtivo está diretamente relacionado à escolha das culturas e ao manejo deste consórcio. Por exemplo, é preciso conhecer a arquitetura das plantas, que quanto mais diferentes forem, melhor serão aproveitados o espaço e os fatores nutricionais. Outras informações também são relevantes, como a melhor época de estabelecimento desse consórcio. Para definir tal variável, é preciso que trabalhos de pesquisa sejam desenvolvidos, como o que será apresentado a seguir.
Estudo sobre o consórcio de cebola e alface
Este estudo foi desenvolvido em horta de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Estadual de Montes Claros, campus de Janaúba. Tal região encontra-se inserida no semiárido brasileiro, a uma altitude de 515 metros, com precipitação média anual de 740 mm, com solo predominante classificado em neossolo flúvico. A adubação da lavoura foi realizada de acordo com análise do solo.
A cultivar de cebola utilizada foi a Texas Early Grano de dias curtos, com ciclo de 100 a 120 dias, sendo classificada como cultivar superprecoce. Já para alface, utilizou-se a cultivar Grand Rapids tipo crespa, que foi previamente plantada em bandejas, sendo transplantada para os canteiros quando apresentou três folhas definitivas. Para a alface e a cebola, as populações recomendadas no cultivo foram de 250 mil plantas/ha e um milhão de plantas/ha, respectivamente.
A cebola foi plantada diretamente nos canteiros em consórcio com alface e em cultivo solteiro, sendo que o plantio da alface foi realizado aos 0, 20, 40 e 60 dias após o plantio direto da cebola. Os tratos fitossanitários foram realizados de acordo com as recomendações para as culturas da cebola e da alface, em manejo convencional.
Resultados
O estudo mostrou que não houve, para a cebola, diferença do consórcio em relação ao seu monocultivo. Já para a alface, a cultivada de forma solteira apresentou maior rendimento em relação ao cultivo consorciado.
Sobre a época de estabelecimento das espécies do consórcio, o estudo revelou que o plantio da alface na mesma época (época zero), ou 60 dias após o plantio da cebola, pode ser boa alternativa de consórcio, pois as análises de qualidade mostraram que foram estas épocas as que resultaram em melhor qualidade de bulbos, isso pela menor concorrência entre as espécies. Nesse período, as alfaces da primeira época já foram colhidas e, na última época, a cebola já se encontrava bem desenvolvida, competindo mais do que a alface pelos recursos ecológicos naturais.
Como conclusão, pode-se ver que o consórcio de cebola e alface é viável, desde que tenha a cultura da cebola como cultura principal, pois esta apresentou o mesmo rendimento nos dois sistemas testados (cultivo consorciado e monocultivo). E também é possível identificar a importância de estabelecer o melhor período de plantio, semeadura ou transplante das culturas em sistema de consórcio, já que os resultados de rendimento e aspectos agronômicos variam conforme estas datas são alteradas. No caso do consórcio de cebola e alface, a recomendação é realizar o transplantio da alface em conjunto com o plantio da cebola.
Esse artigo foi originalmente publicado na Revista do Grupo Cultivar