Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Ecologia do percevejo-marrom
- Monitoramento e identificação
- Controle biológico
- Controle químico
Ecologia
O percevejo-marrom ou percevejo-marrom-da-soja (Euschistus heros) é um inseto-praga sugador comum em lavouras de soja (Glycine max) (Figura 1). No Brasil, populações deste inseto estão distribuídas em todas as regiões produtoras da oleaginosa e em países que fazem fronteira, como Argentina e Paraguai (SOARES et al., 2018).
A soja representa a principal cultura agrícola hospedeira deste inseto, que durante o desenvolvimento da cultura encontra condições ótimas para seu desenvolvimento. Durante o ciclo desse cultivo, esta espécie pode ter até quatro gerações. Após o cultivo de verão, este percevejo pode utilizar outras plantas como hospedeiras. Assim, na ausência da cultura da soja, o percevejo-marrom pode alimentar-se de outras espécies de plantas pertencentes a diferentes famílias botânicas, incluindo solanáceas e leguminosas. Essas outras espécies de plantas, como Amaranthus retroflexus (Amaranthaceae) e Vassobia breviflora (Solanaceae), são consideradas hospedeiras alternativas, que ajudam a manter as populações de E. heros nos períodos de entressafra (MEDEIROS; MEGIER, 2009). Por esse motivo, conhecer a composição vegetal em torno da área de cultivo pode ajudar a diminuir a infestação deste inseto.
Durante a estação de outono, o percevejo começa a procurar abrigos na serrapilheira (palhada das culturas sobre o solo). O percevejo permanece sob a palhada das culturas até a próxima estação de verão. Os locais de abrigo durante a entressafra são denominados de sítios de hibernação e durante esse período o percevejo pode alimentar-se de plantas hospedeiras alternativas ou sobreviver somente com as reservas de lipídios. Isso compõe outra forma de sobrevivência a condições adversas, como o frio observado no sul do Brasil.
Figura 1. A. Percevejo-marrom adulto capturado em pano de batida. B. Percevejo-marrom adulto em uma planta de soja. C. Percevejo-marrom no quinto ínstar. Fonte: Rodrigo F. Ramos.
Aspectos biológicos
Os adultos de E. heros são de coloração marrom ou marrom-escuro em todo o corpo e possuem aproximadamente 11 mm de comprimento. Os ovos desse percevejo são de coloração amarelada e são depositados em fileiras simples, com duas ou três linhas e aproximadamente 15 ovos por postura (Figura 2A). A deposição dos ovos geralmente ocorre sobre as folhas. Esse aspecto ajuda a identificar a ocorrência da praga na área de cultivo. Anteriormente ao momento da eclosão das ninfas, os ovos adquirem uma coloração rosa-vermelha (Figura 2B). A eclosão das ninfas ocorre em até seis dias de gestação nos ovos (Figura 2C). As ninfas recém eclodidas possuem corpo de coloração alaranjada e cabeça preta. Entre a eclosão dos ovos e a fase adulta, o percevejo-marrom passa por cinco ínstares, período que pode levar até 35 dias. Durante a fase adulta, o percevejo pode ter uma longevidade que varia de 80 a 120 dias.
Figura 2. A. Ovos de percevejo-marrom em uma folha de soja. B. Ovos de percevejo-marrom em uma folha de soja antes da eclosão. C. percevejo-marrom após a eclosão dos ovos (primeiro ínstar). Fonte: A e B: Rodrigo F. Ramos.; C: Pedro B. Parisi.
Os adultos de E. heros podem ser facilmente identificados pelas suas características morfológicas. Além da coloração do corpo ser marrom, os adultos desta espécie possuem dois prolongamentos laterais do pronoto (região do prototórax), em forma de espinhos (Figura 3). Uma outra característica típica dos adultos desta espécie é a presença de uma estrutura no formato de “meia-lua branca” no final do escutelo (Figura 3).
Figura 3. Características morfológicas típicas de um percevejo-marrom adulto. Inseto capturado em uma batida de pano na cultura da soja. Fonte: Rodrigo F. Ramos.
Danos e monitoramento
O percevejo-marrom pode atacar ramos e hastes na cultura da soja, contudo, os maiores danos ocorrem nas vagens em formação. Os prejuízos provocados pela perfuração dos legumes resultam na má formação dos grãos e, consequentemente, acarretam a redução da produtividade da cultura. No monitoramento das plantas podemos observar, nas vagens atacadas, a presença de grãos chochos, enrugados ou até mesmo a ausência de formação do grão.
Diante do potencial de danos provocados pelo E. heros, o monitoramento das lavouras torna-se importante para o correto planejamento do controle das populações do inseto. O aumento das populações do percevejo-marrom é mais pronunciado após o início da floração da soja. Assim, a partir do estádio R1 (início da floração) o monitoramento da lavoura torna-se fundamental. Em geral, os danos nas vagens podem ocorrer a partir de R3 (vagens entre 0,5 e 2,0 cm), porém, os momentos críticos em que ocorrem os maiores danos são nos estádios R4 (vagens completamente desenvolvidas) e R5 (enchimento de grãos).
A avaliação do nível populacional de percevejo-marrom pode ser realizada semanalmente, nos momentos críticos, pelo uso do pano de batida (Figura 4), seguida da identificação dos indivíduos adultos e ninfas. A presença de dois adultos ou mais por metro linear durante a floração e formação de vagens indica a necessidade de controle do percevejo.
Figura 4. A. Batida de pano na cultura da soja. B. Percevejos capturados no pano de batida. Fonte: Rodrigo F. Ramos.
Controle biológico do percevejo-marrom
O controle deste percevejo pode ser realizado através do controle biológico ou químico. O controle biológico pode ocorrer por intermédio de vespas parasitoides de ovos, como a microvespa Telenomus podisi (Platygastridae) e a vespa parasitoide Trissolcus basalis (Platygastridae). As fêmeas dessas vespas ovopositam dentro dos ovos do percevejo, interrompendo o ciclo da praga. Pode ser observado o desenvolvimento dos ovos e das larvas das vespas dentro dos ovos dos percevejos (BUENO et al., 2020).
Outra alternativa é a utilização de fungos entomopatogênicos para o controle do percevejo-marrom. Os fungos entomopatogênicos produzem diversas enzimas, como quitinases, proteases, esterases e lipases, que degradam a cutícula do inseto e permitem que o fungo colonize o corpo do inseto, levando-o à morte (DALLA NORA et al., 2020). Atualmente, espécies de fungos como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae são utilizadas em formulações bioinseticidas e podem ser utilizadas no controle biológico do percevejo-marrom. Essas formulações são úteis no complemento do controle químico, por exemplo.
Controle químico do percevejo-marrom
O controle químico é o mais utilizado no manejo da praga. Os inseticidas utilizados no controle de percevejo compreendem os grupos químicos Piretroides (ex.: alfa-cipermetrina, lambda-cialotrina, bifentrina e fenpropatrina), Organosforados (ex.: fenitrotiona e acefato), Neonicotinoides (ex.: dinotefuram, acetamiprido, imidicloprid, thiametoxam), Fenil-Pirazol (ex.: Etiprole), Sulfoxaminas (Sulfoxaflor).
O controle pode ser realizado com aplicações isoladas ou combinadas de princípios ativos. Por exemplo, o uso de combinações de neonicotinoides + piretroides é considerado eficiente para o controle do percevejo-marrom, além de controlar outras espécies de percevejos sugadores da soja. Na Tabela 1 são apresentados os produtos e doses cadastrados no AGROFIT, que podem ser utilizados no controle do percevejo-marrom (Tabela 1).
Tabela 1. Produtos registrados que podem ser utilizados no controle do percevejo-marrom-da-soja
Produto comercial * |
Dose do Produto p.c. |
Ingrediente Ativo |
Grupo Químico |
Acefato Fersol 750 SP |
0,6 a 0,75 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Acefato Nortox |
1,0 kg /ha |
acefato |
organofosforado |
Acrux 750 SP |
0,75 a 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Adante Xtra |
150 a 200 g/ha |
azoxistrobina + ciproconazol + tiametoxam |
estrobilurina** + triazol** + neonicotinoide |
Alika |
220 – 250 mL/ha |
cipermetrina + tiametoxam |
piretroide + neonicotinoide |
Ametista |
200 mL/ha |
bifentrina + cipermetrina |
piretroide + piretroide |
Arquero |
200 a 250 ml/ha |
acetamiprido + bifentrina |
neonicotinoide + piretroide |
Asataf 750 SP |
0,75 a 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Aslan SL |
0,4 – 0,5 L/ha |
acetamiprido + bifentrina |
neonicotinoide + piretroide |
Bazuka Duo |
1,0 L / ha |
bifentrina + metomil |
piretroide + metilcarbamato de oxima |
Bold |
500 a 900 ml/ha |
acetamiprido + fenpropatrina |
neonicotinoide + piretroide |
Cefanol |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Centauro |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Commanche 200 EC |
250 ml/ha |
cipermetrina |
piretroide |
Connect |
500 – 1000 ml/ha |
beta-ciflutrina + imidacloprido |
piretroide + neonicotinoide |
Curbix 200 SC |
0,75 – 1,0 L/ha |
Etiprole |
fenilpirazol |
Cypermethrin 200 EC |
250 ml/ha |
cipermetrina |
piretroide |
Daniato |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Deuter |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Dinno |
1000 g/ha |
Dinotefuram |
neonicotinoide |
Eforia |
200 mL/ha |
lambda-cialotrina + tiametoxam |
piretroide + neonicotinoide |
Engeo |
300- 400 mL/ha |
cipermetrina + tiametoxam |
piretroide + neonicotinoide |
Engeo Pleno S |
200 mL/ha |
lambda-cialotrina + tiametoxam |
piretroide + neonicotinoide |
Entigris |
320 a 350 g/ha |
alfa-cipermetrina + Dinotefuram |
piretroide + neonicotinoide |
Expedition |
200 – 300 mL/ha |
lambda-cialotrina + sulfoxaflor |
piretroide + sulfoxaminas |
Faith |
0,75 – 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Faith SD 750 SP |
0,75 – 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Faith SP |
0,75 – 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Fastac Duo |
300- 400 mL/ha |
acetamiprido + alfa-cipermetrina |
neonicotinoide + piretroide |
Fate 750 SP |
0,75 – 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Galil SC |
300 – 400 mL/ha |
bifentrina + imidacloprido |
piretroide + neonicotinoide |
Haffor |
200 – 300 mL/ha |
lambda-cialotrina + sulfoxaflor |
piretroide + sulfoxaminas |
Hero |
200 mL/ha |
bifentrina + zeta-cipermetrina |
piretroide + piretroide |
Imidacloprid Nortox |
250 ml/ha |
imidacloprido |
neonicotinoide |
Incrível |
300 – 500 mL/ha |
acetamiprido + alfa-cipermetrina |
neonicotinoide + piretroide |
Kaiso Sorbie |
40 a 60 g/ha |
lambda-cialotrina |
piretroide |
Kantor 1000 EC |
1,0 L /ha |
malationa |
organofosforado |
Legion |
250 -350 ml/ha |
Esfenvalerato + fenitrotiona |
piretroide + organofosforado |
Magnum |
700 a 800 g/ha |
acefato |
organofosforado |
Malathion CCAB 1000 EC |
1,0 L /ha |
malationa |
organofosforado |
Malathion 1000 EC |
1,0L/ha |
malationa |
organofosforado |
Mustang 350 EC |
200 mL/ha |
zeta-cipermetrina |
piretroide |
Natera |
150-200 g/ha |
ciproconazol + tiametoxam |
triazol** + neonicotinoide |
Orthene Gold |
1,0 kg /ha |
acefato |
organofosforado |
Orthene Plus |
700-1000 g/ha |
acefato |
organofosforado |
Orthene 750 BR |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Perito 970 SG |
700-1000 g/ha |
acefato |
organofosforado |
Pirephos EC |
250 a 350 mL/ha |
Esfenvalerato + fenitrotiona |
piretroide + organofosforado |
Platinum Neo |
200 mL/ha |
lambda-cialotrina + tiametoxam |
piretroide + neonicotinoide |
Prez |
100-120 g/ha |
acetamiprido + bifentrina |
neonicotinoide + piretroide |
Primum |
1,0 (L/ha) |
malationa |
organofosforado |
Pyrinex 480 EC |
1,5 L/ha |
clorpirifós |
organofosforado |
Racio |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Rapel |
0,3 – 0,4 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Sortic |
200 a 300 mL/ha |
lambda-cialotrina + sulfoxaflor |
piretroide + sulfoxaminas |
Sperto |
250 a 300 g/ha |
acetamiprido + bifentrina |
neonicotinoide + piretroide |
Starkle |
1000 g/ha |
Dinotefuram |
neonicotinoide |
Sumithion 500 EC |
1,0 – 1,5 L/ha |
fenitrotiona |
organofosforado |
Take 750 SP |
0,75 – 1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Talisman |
1.000 mL/ha |
bifentrina + carbossulfano |
piretroide + metilcarbamato de benzofuranila |
Topstar |
1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Tora |
1,0 L/ha |
malationa |
organofosforado |
Trishul 750 SP |
0,75-1,0 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
UPL 138 FP Brasil |
100-120 g/ha |
acetamiprido + bifentrina |
neonicotinoide + piretroide |
Urge 750 SP |
0,3-0,4 kg/ha |
acefato |
organofosforado |
Verdadero 600 WG |
150 a 200 g/ha |
ciproconazol + tiametoxam |
triazol** + neonicotinoide |
Vivantha/Franco/Koyam |
70 g/ha |
tiametoxam |
neonicotinoide |
Wild |
1,5 L/ha |
clorpirifós |
organofosforado |
Wilphos |
1,5 L/ha |
clorpirifós |
organofosforado |
Zeus |
500 a 1000 mL/ha |
Dinotefuram + lambda-cialotrina |
neonicotinoide + piretroide |
* Consulta realizada no AGROFIT (http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). ** Produtos com fungicidas na formulação.
REFERÊNCIAS
AGROFIT. Sistemas de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons.
BUENO, A. F. et al. Release of the egg parasitoid Telenomus podisi to manage the Neotropical Brown Stink Bug, Euschistus heros, in soybean production. Crop Protection, v. 137, 105310, 2020.
DALLA NORA, D. et al. Isolation and evaluation of entomopathogenic fungi against the neotropical brown stink bug Euschistus heros (F.) (Hemiptera: Pentatomidae) under laboratory conditions. Biocontrol Science and Technology, v. 31, 2021.
MEDEIROS, L.; MEGIER, G. A. Ocorrência e Desempenho de Euschistus heros (F.) (Heteroptera: Pentatomidae) em Plantas Hospedeiras Alternativas no Rio Grande do Sul. Neotropical Entomology, v. 38, n. 4, p. 459-463, 2009.
SOARES, P. L. et al. The reunion of two lineages of the Neotropical brown stink bug on soybean lands in the heart of Brazil. Scientific Reports, v. 8, p. 2496, 2018.
Autores:
Me. Rodrigo F. Ramos, engenheiro agrônomo, mestre em Ciência do Solo
Me. Jonas Dahmer, engenheiro agrônomo, mestre em Engenharia Agrícola
Me. Daiane Dalla Nora, engenheira agrônoma, mestre em Ciência do Solo
Me. Lisiane Sobucki, engenheira agrônoma, mestre em Ciência do Solo
Pedro B. Parisi, engenheiro agrônomo