Neste conteúdo, você vai aprender sobre:
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Os danos causados pela ação de nematoides
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Formas de controle
Ação maléfica dos nematoides sobre plantas
Os nematoides são organismos de corpo tubular e vermiforme, que habitam o solo e podem ser responsáveis por parasitismos em plantas (fitonematoides), causando grande parte das perdas em produtividade de muitas culturas (Figura 1). Áreas infestadas com fitonematoides são capazes de gerar prejuízos, principalmente em regiões tropicais e subtropicais do Brasil. Esses danos podem ser causados pela relação do ambiente favorável, presença de hospedeiro suscetível e um patógeno com potencial agressivo e virulento, que se insere em condições que o favoreçam, reproduzindo-se e causando danos que podem se aproximar de 80% da produção, tratando-se de regiões tropicais e subtropicais (GOMES, 2021).
Figura 1. Nematoides são organismos de corpo tubular e vermiforme, que habitam o solo e podem ser responsáveis por parasitismos em plantas, causando grande parte das perdas em produtividade de muitas culturas. Fonte: Elevagro.
Existem mais de 4.000 espécies de nematoides conhecidas caracterizadas por parasitar plantas. A incidência desses ataques pode variar conforme as condições ambientais, como a cultura, o grau de tolerância da cultivar, o tipo de solo e a temperatura, que influencia diretamente na eclosão de juvenis e nas modificações do ciclo de desenvolvimento e sobrevivência.
O ataque por nematoides pode ocasionar em perdas diretas na produtividade, ou indiretas, sendo as diretas ligadas à redução na produção de plantas pela diminuição de tamanho das mesmas, e potencial produtivo de biomassa e grãos. Já as perdas indiretas são relacionadas ao não aproveitamento dos recursos, como água da chuva ou irrigações, fertilizantes e nutrientes disponíveis no solo.
Alguns nematoides, ao afetar as plantas, provocam a deformação dos tecidos. Os nematoides-das-galhas, como Meloidogyne incognita, causam deformações características nas raízes, onde há um hipercrescimento das células, causando o seu engrossamento nas áreas afetadas. Já o nematoides-dos-cisto, Heterodera glycine, é caracterizado pela formação de cistos, que são as fêmeas contendo centenas de ovos que podem ser observados no sistema radicular.
Figura 2. A: raízes com cistos, B: raízes com galhas.
Fonte: Helder Dota.Disponível em: https://www.pioneersementes.com.br/blog/163/como-reduzir-a-populacao-de-nematoides-na-cultura-da-soja.
Os sintomas principais de infestação são o amarelecimento das plantas, diminuição no porte de parte aérea e sistema radicular, assim como a presença de deformidades radiculares. Os ataques ocorrem normalmente em reboleiras e a identificação e quantificação pode ser realizada por amostragem do solo.
Mas como controlar os nematoides?
Há pouco tempo atrás as alternativas para o controle de nematoides eram raras. Atualmente, com o avanço tecnológico da agricultura, temos várias estratégias efetivas. O controle de nematoides é realizado hoje principalmente por meio de produtos biológicos.
Nematicidas químicos são usualmente aplicados, podendo ser aplicados diretamente no sulco de semeadura ou junto ao tratamento de sementes.
Agentes biológicos estão cada vez mais sendo utilizados para o controle de nematoides, uma vez que apresentam custo reduzido comparados a nematicidas químicos, maior facilidade de aplicação, menor risco de contaminação e preservação da microbiota presente no ambiente. Os agentes biológicos com potencial nematotóxico possuem diferentes modos de ação, como por exemplo:
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antibiose;
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indução de resistência da planta;
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predação;
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micoparasitismo;
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produção de enzimas e toxinas;
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colonização sistêmica da rizosfera da planta hospedeira;
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competição por nutrientes e sítios de colonização;
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liberação de enzimas hidrolíticas, que atuam na degradação da parede celular.
Como agentes de controle biológico temos fungos nematófagos, como Pochonia chlamydosporia e Purpureocillium lilacinum, e a bactéria Pasteuria penetrans que é específica, parasitando somente o nematoide-do-cisto-da-soja. Que possuem grande papel nesse controle, uma vez que são de fácil obtenção e propagação em laboratório, eficiência no controle e facilidade na aplicação. Esses recursos vêm cada vez mais sendo estudados e testados no controle.
Outros tipos de agentes biológicos também vêm apresentando sucesso no controle de fitonematoides, como é o caso das bactérias do gênero Bacillus sp., que estão sendo empregadas em cultivos de modo a diminuir os efeitos nocivos causados nas plantas, uma vez que eles promovem crescimento de plantas, indução sistêmica de resistência e apresentam uma vasta produção de compostos antimicrobianos e competidores, relacionados a espaço e nutrientes.
Outras medidas de controle importantes
Maneiras de evitar a contaminação de novas áreas por nematoides também devem ser adotadas, evitando principalmente a transferência de solo de um local para outro, utilizando métodos como deixar os talhões ou áreas mais afetadas por último na realização de práticas como semeadura, colheita e movimentações do solo por implementos agrícola. Após a realização de manejos nas áreas, realizar a desinfecção das máquinas e equipamentos.
Realizar a rotação de culturas, incluir culturas resistentes a nematoides nos cultivos das áreas afetadas e utilizar produtos nematicidas (nematicidas químicos e biológicos), como já citado, são estratégias que devem ser usadas de forma complementar e integrada.
Uma prática realizada para reduzir a incidência da severidade de ataque por nematoides nas áreas afetadas que vem sendo adotada é a realização de biofumigação de compostos de plantas, com a incorporação de biomassa com potencial nematostático ou nematotóxico no solo, por meio de revolvimento, buscando de forma mais econômica e menos danosa ao sistema uma maneira de frear as perdas produtivas ocasionadas pelo ataque dos fitonematoides. Na biofumigação são incorporadas partes de plantas, principalmente utilizando espécies de brássicas ricas em enxofre e compostos ricos em nitrogênio, para que no momento de decomposição haja a liberação de gases nocivos aos nematoides no solo. Entretanto, esta é uma prática viável para pequenas áreas.
Estudos apontam que a biofumigação com biomassa de materiais apresenta grande potencial de redução de nematoides e redução de até 60% de galhas nos cultivos, diminuindo as perdas na safra seguinte. A seguir, veja alguns exemplos de materiais que podem ser usados na biofumigação:
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repolho
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torta de mamona
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taioba
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mostarda
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crotalária
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feijão-de-porco
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sementes de mamão
Assim como o uso de culturas resistentes ou com baixo fator de reprodução de nematoides também é uma excelente forma de reduzir os danos e diminuir a população de fitonematoides no solo, por meio de inanição ou diminuição da taxa de reprodução, ou não eclosão dos ovos. Porém, para que esta estratégia dê resultados positivos, é preciso conhecer o nematoide problema na área, pois uma mesma cultura pode reduzir a reprodução de uma espécie de nematoide e multiplicar outra.
Veja algumas exemplos:
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Milheto: não hospedeira de Heterodera glycines e Rotylenchulus reniformis e é hospedeiro de Meloidogyne incognita. Porém, é preciso estar atento, pois o fator de reprodução é variável de acordo com a cultivar
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Crotalária spectabilis: reduz a população de Meloidogyne javanica, M. incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis.
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Braquiária: reduz a população de Meloidogyne javanica, M. incognita, e Heterodera glycines, mas aumenta a de Pratylenchus brachyurus.
Referências
CORTE, G. D.; PINTO, F. F.; STEFANELLO, M. T.; GULART, C.; RAMOS, J. P.;
BALARDIN, R. S. Tecnologia de aplicação de agrotóxicos no controle de fitonematoides em soja. Ciência Rural, v. 44, n. 9, p. 1534-1540, 2014.
SILVA, G. A. Métodos alternativos de controle de fitonematoides. RAPP, v. 19, 2011.
SOARES, P. L. M.; NASCIMENTO, D. D.; VIDAL, R. L.; FERREIRA, R. J. Controle biológico: prática fundamental para o manejo sustentável de nematoides. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Jaboticabal, SP.
GOMES, V. A. Taioba (xanthosoma sagittifolium) no manejo de nematoide-das-galhas. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Botucatu, SP, 2021.