Assuntos abordados neste material
- O fungo Beauveria bassiana
- Como ocorre a infecção dos insetos;
- Fatores que afetam negativamente a eficiência;
- Condições para aplicação.
O fungo Beauveria bassiana
Beauveria bassiana é um fungo ascomiceto entomopatogênico, ou seja, fungo com capacidade de causar doenças em insetos. Representa um dos fungos mais estudados e comercializados no controle microbiano de pragas no mundo. Caracterizado por ser cosmopolita, capaz de explorar uma variedade de ambientes, e infectar uma ampla gama de insetos, mais de 700 espécies de artrópodes (Imoulan et al., 2017). A utilização de fungos entomopatogênicos no controle de pragas apresenta uma série de vantagens:
- Não acarretam problemas ambientais;
- Não apresentam riscos de intoxicação humana;
- Se bem manejados, podem atuar no campo por um longo período;
- Não deixam resíduos nos produtos comercializados.
No Brasil existem alguns produtos disponíveis no mercado de biodefensivos a base do fungo B. bassiana. Estes produtos são registrados para as seguintes pragas:
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- Bemisia tabaci raça B (Mosca-Branca);
- Cosmopolites sordidus (Broca-da-bananeira);
- Coccus viridis (Cochonilha-verde);
- DaIbuIus maidis (Cigarrinha-do-milho);
- Diabrotica speciosa (Vaquinha) (Figura 1);
- Euschistus heros (Percevejo-marrom);
- Diaphorina citri (Psilídeo-asiático-dos-citros);
- Gonipterus scutellatus (Gorgulho-do-eucalipto);
- Hedypathes betulinus (Broca-da-erva-mate);
- Hypothenemus hampei (Broca-do-café);
- Tetranychus urticae (Ácaro-rajado).
Como ocorre a infecção dos insetos
O inseto se contamina principalmente através da pulverização direta, ou do contato com superfícies de plantas pulverizadas com o fungo. Uma vez em contato com inseto o fungo pode colonizá-lo em até 72 horas, se as condições forem favoráveis.
Os fungos invadem os insetos preferencialmente pela cutícula, e podem atacar em todos os estádios de desenvolvimento dos artrópodes. A infecção pode acontecer também através da cutícula das partes bucais e dobras intersegmentares, que são regiões onde há maior umidade.
A infecção do inseto pelo fungo começa pela aderência do conídio na superfície da praga, que inicia germinação seguido pela formação do apressório e do tubo germinativo (Figura 2 – A). A cutícula é rompida através da combinação da pressão mecânica e secreção de enzimas (quitinases, proteases, lipases), que degradam a cutícula, considerada a principal barreira para fungos.
Após chegar na hemolinfa o fungo cresce na forma de blastosporos ou hifas unicelulares e coloniza o hospedeiro. No período de colonização irá secretar toxinas e se alimentar da hemolinfa. Durante este processo os fungos que são eficientes e matar o inseto irão superar as respostas imunes do inseto, produzir toxinas e privar o hospedeiro de se nutrir.
Após a morte do hospedeiro o fungo rompe novamente a cutícula e esporula na superfície do cadáver (Figura 1 – B). Os conídios na superfície dos insetos (Figura 3) servem como fonte de inóculo na área e contaminam outros insetos. Insetos infectados pelo fungo param de se alimentar, e tem seu comportamento afetado até a morte.
Além da capacidade de infectar e matar insetos, também é caracterizado por ser um fungo endofítico. Organismos endofíticos são capazes de colonizar e viver no interior das plantas sem causar danos ou sintomas. Estes organismos causam algumas modificações fisiológicas que podem atuar na proteção das plantas contra fitopatógenos, pragas e como promotor de crescimento.
Fatores que afetam negativamente a eficiência
É muito importante destacar que casos de ineficiência muitas vezes não estão relacionados ao fungo. Existem alguns fatores fundamentais para a eficiência destes organismos, que buscam melhor deposição, espalhamento, molhamento, adesão, retenção e toxicidade quando aplicados, visto que naturalmente seus conídios são hidrofóbicos.
- Formulação – A formulação do produto que irá ser comercializado deve buscar a estabilização do organismo, além da possibilidade de armazenamento prolongado;
- Transporte a armazenamento na propriedade – Por se tratar de um organismo vivo, precisa ser transportados e armazenado na propriedade em refrigeração (temperatura de aproximadamente 8°C). O Armazenamento em temperaturas maiores diminui o tempo de vida útil do fungo;
- Radiação Ultravioleta – É um dos principais fatores relacionados a ineficiência destes fungos, depois de aplicados no campo. Isso acontece devido a sensibilidade dos conídios a radiação UV, que reduz a virulência. Em especial o fungo B. bassiana, que por ser um organismo menos pigmentado tende a ser mais sensível;
- Temperatura – Este fator deve levar em consideração o isolado que se está utilizando no campo. Temperaturas abaixo ou acima das ideais inibem a germinação dos fungos.
- Umidade – A umidade afeta a germinação dos conídios, assim como seu crescimento e esporulação.
Condições para aplicação
Muitas vezes a ineficiência de fungos entomopatogênicos, aplicados no campo, podem estar relacionados com as condições de aplicação. Alguns pontos devem ser observados no momento da aplicação, e são fundamentais quando este tipo de controle é adotado. Desta forma, para que sempre se busque as melhores condições para o desenvolvimento do fungo no campo:
- Realização das aplicações nas horas mais frescas do dia – finais de tarde, dias nublados, dias com chuva mais finas;
- Temperaturas entre 20 e 30°C, são consideradas favoráveis ao desenvolvimento de B. bassiana. Estes valores são variáveis de acordo com o isolado;
- Umidade relativa acima de 70%.
Fungos entomopatogênicos no controle de pragas devem ser utilizados com muito cuidado, para que o resultado esperado seja alcançado. O uso de produtos biológico representa uma importante alternativa para pesticidas químicos.
Referências
IMOULAN, A. et al. Entomopathogenic fungus Beauveria: Host specificity, ecology and significance of morpho-molecular characterization in accurate taxonomic classification. Journal of Asia-Pacific Entomology, v. 20, n. 4, p. 1204-1212, 2017.
VALERO-JIMÉNEZ, C. A. et al. Genes involved in virulence of the entomopathogenic fungus Beauveria bassiana. Journal of Invertebrate Pathology, v. 133, p. 41-49, 2016.