Considerado um dos nematoides mais comuns nas análises de solo, Helicotylenchus dihystera tem sido motivo de preocupação nos últimos anos, devido ao seu aumento populacional nas análises nematologicas, e a falta de informações relacionadas a perdas econômicas. A partir disso, criam-se diversos questionamentos, como: devemos nos preocupar com esse nematoide? Quais os principais sintomas observados nas plantas? Qual é o potencial de dano desse nematoide?
Este gênero de nematoide possui mais de cem espécies. Entretanto, no Brasil destacam-se: Helicotylenchus multicinctus que ataca a cultura da bananeira, e Helicotylenchus dihystera, que ataca várias culturas, inclusive a da soja. Estes nematoides podem apresentar diferentes modos de parasitismo, dependendo da planta hospedeira e/ou do órgão vegetal atacado:
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Ectoparasita migrador
O corpo fica fora da raiz, usam o estilete para perfurar células da epiderme e adquirir seu alimento. -
Ectoparasita sedentário ou semiendoparasita
Se alimentam em um sítio específico ou célula da raiz por um período prolongado, se mantendo exterior à raiz. -
Endoparasita migrador
Penetram nas raízes e se alimentam por certo período de tempo, migram intracelularmente, podendo, inclusive, retornar ao solo e parasitar outro hospedeiro.
Diferentes modos de parasitismo do nematoides Helicotylenchus dihystera
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No processo de parasitismo de Helicotylenchus spp. há a formação de pequenas lesões com inúmeras pontuações superficiais sobre a região do tecido escolhido para alimentação, quase sempre, de coloração marrom à preta. Os sintomas visuais observados nas raízes das plantas passam por uma redução no seu crescimento e volume, apresentando um aspecto de escurecimento no tecido, que a nível de campo é bastante sutil na cultura da soja.
Sabemos que nematoides parasitos, dependem única e exclusivamente das plantas hospedeiras para a sua alimentação, desenvolvimento e reprodução, como é o caso de Helicotylenchus spp. Isso indica que as práticas de manejo que vem sendo adotadas estão favorecendo o crescimento populacional deste nematoide.
No tocante, para que consiga obter os nutrientes das plantas, ele precisa acessar as células do sistema radicular. Por esse motivo, utiliza um conjunto complexo de estruturas associados a dois mecanismos (Enzimático e Mecânico), causando abertura no tecido, permitindo assim o acesso as células. Após o parasitismo, estas aberturas ou “ferimentos” causados pelos nematoides ficam expostas a outros agentes patogênicos, como por exemplo fungos de solo. A ocorrência conjunta de nematoides e fungos podem agravar o estresse e os danos gerados nas plantas. Na forma de endoparasita, o nematoide causa destruição das células por meio da sua movimentação e/ou migração no interior da raiz.
Tais eventos reduzem a eficiência do sistema radicular, comprometendo a absorção de água e nutrientes pela planta. Neste ponto específico, pode-se entender que a densidade populacional será um fator chave para ocorrência de danos. Fatores como, sensibilidade da planta/cultivar (FR=Fator de reprodução) e condições climáticas, também podem contribuir para o agravamento do problema.
Na história da nematologia, temos o exemplo do nematoide das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus, que é o mais presente nas lavouras brasileiras, e que hoje é considerado o de maior importância econômica para cultura da soja. Este nematoide também era frequentemente encontrado nas análises anos atrás, e só foi considerado relevante quando sua presença começou a ser correlacionada com perdas de produtividade na cultura. Isso remete a dúvida se devemos nos preocupar com o nematoide H. dihystera? A resposta é sim. O seu aumento gradual nas análises de solo é indicativo de que o ambiente tem sido favorável para o seu crescimento e que medidas de manejo precisam ser adotadas.
Portanto, em áreas que apresentarem esse nematoide, é importante realizar o devido monitoramento, considerando o aspecto visual da lavoura e a correlação entre o histórico de produtividade da área com as atuais, verso densidade populacional do nematoide. Esses dois pontos poderão auxiliar o produtor na tomada de decisão, pois, estudos ainda são conduzidos para responder os questionamentos ligados a níveis populacionais de risco para cultura da soja, bem como a porcentagem de perdas econômicas decorrentes do parasitismo desse nematoide.