Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- O que é e como atua o intemperismo;
- Quais fatores influenciam o processo de formação do solo;
- Como o material de origem influencia a ocorrência de determinado de tipo de solo em uma região.
O solo é fundamental para a agricultura, pois é a base do nosso sistema produtivo. Quanto mais informações e conhecimento tivermos sobre ele, mais teremos ferramentas para manejá-lo de forma eficiente, rentável e consciente.
O solo é um recurso natural que se origina da alteração de rochas e sedimentos pela ação dos organismos vivos, do clima, em diversas situações da paisagem ao longo do tempo.
Intemperismo
O conjunto de processos que leva à degradação das rochas denomina-se intemperismo, e depende da natureza da rocha em questão, que pode ser mais ou menos resistente, e das condições do ambiente, como temperatura e umidade, por exemplo.
A rocha, quando é formada, encontra-se em uma situação de temperatura e pressão elevadas e constantes, sem luz, vento ou organismos vivos. Porém, uma vez exposta ao meio ambiente, as condições deixam de ser constantes, a temperatura e a pressão são menores, ainda que muito variáveis ao longo dos dias e épocas do ano. Sem contar com a presença dos organismos vivos, da luz, da umidade – que também varia – e do vento. Esses fatores, as chamadas intempéries, vão agindo sobre a rocha, promovendo sua degradação.
O intemperismo pode ser dividido em físico ou químico. O primeiro não afeta a composição ou a estrutura química da rocha, e dá-se de várias formas, como pelo crescimento das raízes e pela mudança de temperatura. A variação da temperatura pode levar a contrações e dilatações das rochas, gerando uma tensão, que pode provocar fadiga e a fratura do material, visto que cada mineral responde de uma maneira a esse processo, de acordo com o seu coeficiente de dilatação. O intemperismo físico contribui com o aumento da área superficial específica dos minerais, aumentando a possibilidade da ocorrência de qualquer fenômeno, já que a área do mineral se torna maior.
Por outro lado, o intemperismo químico leva à modificação na composição química da rocha, e ocorre quase que simultaneamente ao físico na natureza. As principais reações químicas que ocorrem são: a hidratação e a solução, comuns em solos jovens ou ambientes que possibilitem menor transformação; a complexação; a hidrólise; e a oxirredução, importantes em locais chuvosos.
Conforme aumentam essas últimas reações no solo, somadas à lixiviação, haverá o predomínio de argilominerais 2:1 (locais onde a precipitação é menor que a evaporação ou drenagem lenta), argilominerais 1:1 (com chuvas mais frequentes) ou argilominerais óxidos de ferro e de alumínio (quando os processos ocorreram intensamente ou por muito tempo), respectivamente.
Fatores que influenciam a formação do solo
Os fatores de formação do solo estabelecem as condições existentes no sistema durante a constituição do solo, sendo os principais: o material de origem, o relevo, o clima, os organismos e o tempo. Às vezes, um desses fatores se sobressai e é possível avaliar seus efeitos sobre o solo resultante, gerando topossequências (variações na topografia), climossequências (variações no clima) e litossequências (variações no material de origem).
O relevo tem importância tanto pela sua influência sobre o clima, quando observamos em grande escala, quanto sobre a redistribuição da água no sistema em pequena escala, o que tem relação com as reações químicas e afeta a intemperização do solo.
O clima tem seu efeito no intemperismo, ou seja, desde a decomposição das rochas, quando a temperatura, a precipitação e a evapotranspiração são as variáveis mais importantes. Por exemplo, alta temperatura e presença de umidade aceleram as reações químicas do solo. Somando calor e alta precipitação, comuns em clima tropical, temos solos bem desenvolvidos e em estado de evolução mais avançado que em regiões frias, pelo favorecimento do intemperismo da rocha e do solo.
Já a ação dos organismos vivos começa assim que a rocha é exposta à superfície, iniciando pelos microrganismos, geralmente as bactérias litotróficas. Conforme a rocha vai se modificando, vão se expandindo também as colônias iniciais e os organismos maiores vão tendo a chance de se instalar, como fungos, líquens, musgos, gramíneas, arbustos, árvores, dependendo das condições de clima e da disponibilidade de nutrientes. Mesmo depois de o sistema atingir um certo equilíbrio, os organismos vivos seguem tendo papel importante, desde a proteção que as plantas vivas ou mortas exercem sobre a superfície do solo, até a ação de alguns grupos da fauna sobre a química, a física e a morfologia do solo, como cupins, formigas e minhocas.
Para a formação de 1 centímetro de solo são necessários centenas de anos. Porém, o tempo, como fator de formação, refere-se ao período em que os fatores ativos (principalmente os organismos e o clima) atuam sobre o material de origem, dependendo do relevo existente; e não sobre a idade absoluta do solo, pois um solo velho de idade pode ser pouco desenvolvido pela escassa intemperização que sofreu ao longo do tempo. Então, um solo velho é aquele bem desenvolvido, onde os processos de formação ocorreram intensamente, e um solo novo é aquele menos desenvolvido, com lentidão nos processos de formação, mesmo que os dois possam ter a mesma idade em anos.
Material de origem e o tipo de solo
O material de origem é o material do qual o solo se origina, podendo ser orgânico ou mineral. O primeiro é associado a ambientes muito frios e mal drenados, com pouca ocorrência no Rio Grande do Sul. Já os solos de origem mineral são a grande maioria dos solos cultiváveis. É da rocha que advém os minerais do solo e dos solutos que estão na fase líquida, e quando em alta concentração, podem gerar minerais secundários.
A natureza da rocha, como a sua composição mineralógica, organização dos minerais na massa da rocha, dureza e impermeabilidade, somadas às condições do meio ambiente, as quais está exposta a rocha (intemperismo), ditam a intensidade da sua decomposição.
O clima tem papel importante na alteração da rocha, principalmente a temperatura e a umidade, já que minerais facilmente intemperizáveis podem ser encontrados praticamente intactos em ambientes desérticos. Entretanto, em alguns locais, o gelo e o vento também influenciam nesse processo de forma significativa. Ainda, as fendas e os poros, que facilitam a penetração da água e geram maior absorção de calor e consequente dilatação, aceleram o intemperismo.
Nesse sentido, podemos associar o solo observado atualmente com o passado geológico do local de ocorrência, já que algumas características do solo são herdadas do material que lhe deu origem. Na figura a seguir (Figura 1), podemos observar no mapa do Rio Grande do Sul a ocorrência dos materiais de origem em cada região do estado.
No Planalto do Rio Grande do Sul, na formação da Serra Geral, há a ocorrência de rochas magmáticas extrusivas ou vulcânicas, que advêm do extravasamento do magma da superfície da terra, que esfriou rapidamente, formando pequenos cristais, gerando solos constituídos de material mais fino quando intemperizado, como a argila. Essa predominância, principalmente do basalto, perpassa quase toda a parte norte do estado, exceto onde há algumas porções de diabásio e arenito. Nessa região, a diferença entre os solos está relacionada ao clima. Onde o clima é mais seco, os solos são menos desenvolvidos; e onde os solos são em sua maioria profundos, argilosos e bastante intemperizados, isso se dá por serem mais úmidos.
A Depressão Central margeia o Planalto e é dominada por formações sedimentares de grande variação de cor e textura, originando vários solos. É uma região mais antiga, o que explica a suavidade do relevo, onde os rios abrandaram os vales por onde passam, gerando planícies entulhadas de sedimentos, chamadas de várzeas.
Na Escudo Sul-rio-grandense ocorrem as rochas magmáticas intrusivas ou plutônicas e as metamórficas, que são formadas quando não há o extravasamento do magma e, portanto, lento resfriamento, gerando cristais maiores, que quando intemperizados resultam em materiais mais grossos como a areia. Estas rochas, como o granito, são extremamente duras e resistentes ao intemperismo, o que permite que essa região do Rio Grande do Sul ainda seja mais elevada na paisagem, mesmo sendo a região geológica mais antiga.
Por fim, a Planície Costeira é formada por sedimentos marinhos depositados pelas idas e vindas do mar, de menor importância agrícola.
Com posse destas informações, fica mais claro a ocorrência de determinado tipo e classe de solo em determinado ponto do Rio Grande do Sul, e entender a origem de algumas das suas características.
Os fatores de formação do solo dão a condição do sistema sob o qual atuam os processos de formação do solo, que serão detalhados na continuação “Qual a origem do solo do Rio Grande do Sul? – Parte 2”.
Referências
REICHERT, J. M. (ed.). Fundamentos da Ciência do Solo. Santa Maria: Departamento de Solos-UFSM, 2007. (Apostila).