Os fatores que influenciam na qualidade nutricional da pastagem
Neste material você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Desempenho animal e qualidade da forragem
- Quais fatores afetam a qualidade nutricional da pastagem
A qualidade nutricional da espécie forrageira está intimamente relacionada com o desempenho animal. Quando a fonte de forragem e a capacidade de aproveitamento do animal tornam-se limitantes para seu desempenho, a qualidade da forragem pode ser representada pela quantidade de forragem ingerida e por sua eficiência. O desempenho animal pode ser afetado por fatores intrínsecos da forragem (químicos, físicos e estruturais), quantidade de forragem disponível, potencial do animal (idade, sexo, raça e estado fisiológico), doenças e parasitas, clima, temperatura do ambiente, umidade relativa do ar, precipitação e radiação solar.
O valor nutricional da forragem pode ser influenciado principalmente pela dinâmica metabólica da espécie forrageira, de modo que plantas com metabolismo C4 se baseiam na renovação da enzima PEP carboxilase e revelam menor proporção proteica em seus tecidos – a qual pode ser incrementada pela adubação nitrogenada. Entretanto, as plantas com metabolismo C3 baseiam seu aparato metabólico na renovação da enzima Rubisco e evidenciam camadas do mesófilo com células de paredes finas, sacarídeos e proteínas que podem ser degradadas no rúmen dos animais.
O estádio fenológico influencia diretamente na deposição de carboidratos estruturais (nós e entrenós) das plantas forrageiras. No período vegetativo, 60 % do conteúdo celular é constituído por amidos, proteínas, lipídios, açúcares, minerais, bem como 40 % refere-se à parede celular composta por celulose, hemicelulose e lignina. No período reprodutivo, as proporções são inversas e há uma redução desses teores ao decorrer dos estádios fenológicos de desenvolvimento. As dinâmicas metabólicas das plantas em conjunto com a forma como a forragem é manejada podem determinar a qualidade nutricional da forragem. Plantas com menores quantidades de resíduo resultam em melhor qualidade nutricional, pois renovam seus tecidos e incrementam o potencial de rebrote.
Proteínas
O suprimento das necessidades nutricionais dos animais depende da proteína oriunda da dieta, pois estas atuam na microbiota ruminal ou na fermentação no rúmen. Nas plantas forrageiras, a magnitude da proteína verdadeira depende do estádio fenológico de desenvolvimento, podendo corresponder a 70 %. Para fenos essa proporção é de apenas 60 % e na silagem é muito pequena; em contrapartida, a fração de proteína oriunda do nitrogênio não proteico corresponde a 30 %, a fração proteica insolúvel corresponde a 5 % do total e geralmente está associada à lignina presente na parede celular.
Carboidratos
Caracterizam-se como os principais constituintes das plantas e correspondem a 60 a 80 % da matéria seca. Desta forma, são considerados os nutrientes mais importantes para a produtividade das espécies forrageiras. Atuam na transferência e no armazenamento de energia e são componentes da parede celular das plantas.
Os carboidratos são classificados em estruturais, que correspondem a 30 a 80 % do total, representam a parede celular, a pectina, a hemicelulose, a celulose e a lignina (polímero fenólico que se associa aos carboidratos não estruturais); podem atuar na delimitação celular e na sustentação das plantas, sendo que nas plantas C4 apresentam-se mais evidentes devido a sua anatomia. Os carboidratos não estruturais correspondem ao conteúdo celular, à glicose, à frutose, ao amido, à sacarose e aos demais dissacarídeos, sendo estes acumulados em tecidos de reserva. Apresentam-se solúveis e nas plantas com metabolismo C3 tendem a acumular mais sacarose e frutose; em plantas C4 preconiza-se o acúmulo de amido e sacarose.
Lipídeos
Apresentam grande importância para as espécies forrageiras (triglicerídeos e glicolipídios), ceras, pigmentos, ácidos orgânicos e óleos essenciais. Estes elementos encontram-se em menores quantidades nas plantas, mas agem especificamente na proteção e na palatabilidade da forragem. São fontes de energia aos animais e evidenciam-se em maiores concentrações nas folhas de espécies forrageiras C3; contudo, menores concentrações são obtidas nas hastes ou colmos das espécies forrageiras C4.
Minerais
Não são considerados fontes de energia para os animais, mas reúnem 17 elementos essenciais ao organismo animal. A composição varia conforme o estádio fenológico de desenvolvimento da planta, tipo de solo, adubação, espécie forrageira, características do genótipo, estação, ano agrícola, número e intensidade de desfolha. A menor concentração de minerais na planta pode ser decorrente da carência de elementos no solo e da baixa eficiência no armazenamento destes elementos nos tecidos da planta.
Valor nutritivo da forragem e produção animal
O valor nutritivo da forragem é dependente da fração predominante nas plantas forrageiras, tais como folhas, colmos ou hastes e inflorescências. Desta maneira, as folhas são responsáveis pelo maior acúmulo de proteína bruta e menor fração de fibras; os colmos ou hastes e bainhas foliares evidenciam maior fração fibrosa e menor digestibilidade.
A seletividade do animal pode modificar a conformação estrutural do dossel de plantas; o manejo de fertilizantes e o pastoreio modificam a fração bromatológica da forragem. Diante disto, os elementos mais afetados pelo manejo de fertilizantes (nitrogênio) são a proteína bruta e a digestibilidade, sendo possível reduzir proporcionalmente a fração de fibra em detergente neutro (FDN) e ácido (FDA).
Longevidade da pastagem
A longevidade ou persistência da pastagem apresenta-se imprescindível para o sucesso da atividade agropecuária, pois mantém aptas e produtivas as áreas já implantadas, possibilita minimizar os efeitos do desmatamento e a abertura de novas áreas para o cultivo de pastagens, minimiza os custos de produção, garante o retorno financeiro ao agropecuarista e minimiza a degradabilidade das pastagens consolidadas (ex.: campo nativo).
Condições de manejo que proporcionam o crescimento e o desenvolvimento das pastagens de modo sustentável determinam o tempo de uso destas, ou seja, a preservação do ponto de crescimento ou meristema apical, a emissão de afilhos, a manutenção do vigor e a produtividade ao longo do tempo e espaço, a obtenção de um rebrote, a adequada taxa de lotação, o número e o nível da intensidade de desfolha, que são técnicas que proporcionam a maior longevidade da pastagem, pois busca-se equilibrar os fatores ambientais, as técnicas de manejo e o sistema de criação animal, mantendo as pastagens sustentáveis ao longo do tempo.
REFERÊNCIAS
SILVA, J. A. G.; CARVALHO, I. R.; MAGANO, D. A. A cultura da aveia: da semente ao sabor de uma espécie multifuncional. Curitiba, PR: CRV, 2020. v. 1000.
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CARVALHO, I. R.; NARDINO, M.; SOUZA, V. Q. Melhoramento e cultivo da soja. Porto Alegre: Cidadela, 2017. v. 100.