Economia de milhões de hectares
Recentemente, a Embrapa mostrou que a adoção de tecnologias sustentáveis na agricultura pode economizar o uso de terras na ordem de milhões de hectares. Para a cultura da soja, por exemplo, o uso de tecnologias sustentáveis como integração lavoura-pecuária (ILP) ou lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio, o uso de bioinsumos no controle biológico de pragas, entre outras ações, é capaz de promover uma economia de 71 milhões de hectares de terras plantadas.
Esta economia de área cultivada ainda se aplica a outros setores do agro, como a produção de suínos e aves de corte, que com o progresso tecnológico ocorrido entre 1970 e 2000 gerou a redução de 1 a 1,55 milhão de hectares de área.
O estudo que apontou estes resultados foi liderado pela Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa e contou com a participação de mais de cinquenta pesquisadores e analistas, representando nove unidades de pesquisa da empresa. Para a obtenção dos dados, os pesquisadores desenvolveram estudos ao longo das últimas décadas, que resultaram na publicação “Tecnologias Poupa-Terra 2021”, recém-lançada pela Embrapa.
O que são as tecnologias poupa-terra?
Essas tecnologias podem ser adotadas por qualquer setor produtivo, sejam eles de baixo ou alto custo, e possibilitam maior sustentabilidade na produção total ou na mesma área. Com o seu uso, não há a necessidade de abertura de novas áreas para o agronegócio.
Como exemplos de tecnologias poupa-terra temos o plantio direto, o manejo e a conservação do solo e da água, o uso de produtos biológicos, os sistemas agropastoris, o melhoramento genético, entre outros.
Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, o uso dessas tecnologias pode ser feito por todos os produtores rurais, sendo aplicável para propriedades de todos os portes: pequeno, médio e grande, e em todos os biomas brasileiros.
Impacto das tecnologias poupa-terra na produção de soja
O efeito que o uso das tecnologias poupa-terra tem sobre a produção de soja é gigantesco, possibilitando resultados muito positivos, pois na safra de 2019/ 2020, foram produzidos 120,9 milhões de toneladas em 36,9 milhões de hectares. Como destaca Capdeville: “Se nos reportarmos à década de 1970, sem a tecnologia existente hoje para produção de soja no Brasil, para manter esses índices de produtividade, seria necessário expandir a área em 195 %, ou seja, praticamente o triplo do que temos hoje. Com a ciência e as tecnologias poupa-terra conseguimos preservar uma área de 71 milhões de hectares”.
Resultados na produção de frutas e algodão
Para a produção de frutas, os dados apontam que, para cada hectare cultivado com frutas, em média dois empregos são criados, totalizando cinco milhões de empregos. Sendo que o Brasil corresponde a 4,6 % da produção mundial de frutas, produzindo 42,4 milhões de toneladas em uma área de 2,5 milhões de hectares. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1990 até 2018, houve um aumento de produtividade de 64 % na produção nacional de frutas.
Neste setor, as principais tecnologias sustentáveis utilizadas são: melhoramento genético, produção integrada, gestão da cobertura do solo, manejo de água e nutrientes, controle de pragas e doenças e gestão pós-colheita.
Para o algodão, não é muito diferente, onde a área cultivada reduziu a menos da metade, com uma produção três vezes maior, passando de 1,2 milhão para 4,3 milhões de toneladas, enquanto a área foi reduzida de quatro milhões de hectares para 1,7 milhão entre os anos de 1976 e 2019.
Nesta cultura, as tecnologias poupa-terra responsáveis por estes resultados incluem o uso de cultivares melhoradas geneticamente, o plantio direto, que abrange técnicas sustentáveis de manejo do solo, e o cultivo do algodão em sistemas ILPF.
E na produção de aves e suínos?
Nestes setores, a adoção de novas tecnologias resultou em ótimos resultados em termos de conversão alimentar, que é a quantidade de ração que o animal consome para aumentar seu peso em um quilo, obtendo os melhores números no mundo. Para chegarmos neste patamar, várias tecnologias foram importantes, como melhoramento genético, nutrição, sanidade animal, manejo e ambiência.
Para a criação de aves, a conversão alimentar passou de 2,1 kg de ração em 1975, para 1,7 kg em 2020. Se considerarmos a produtividade nacional de milho e soja, se mantivéssemos os números de 1975, seriam necessários 1.551.056,40 ha de terra para entregar as mesmas 16,4 milhões de toneladas de peso vivo de frango produzidas em 2020, em função da maior quantidade de alimento demandada pela conversão alimentar de 2,1 kg de ração.
Na suinocultura, os resultados são tão positivos quanto os obtidos na avicultura. Em 1975, era preciso que o porco recebesse 3,5 kg de ração para aumentar seu peso em 1 kg. Já em 2020, a conversão alimentar é de 2,6 kg. Sem o progresso tecnológico, precisaríamos de 1.007.745,70 ha de terra para produzir as 5,3 milhões de toneladas de carne suína produzidas hoje.
A adoção de novas tecnologias citadas aqui e o uso responsável dos recursos naturais disponíveis garantem o aumento na produtividade e a sustentabilidade das atividades agropecuárias brasileiras.
Artigo publicado originalmente pela Revista Cultivar