Você sabe qual a finalidade do tratamento de sementes?
Além de controlar doenças e minimizar o ataque de pragas, o tratamento de sementes também ajuda a reduzir o uso de defensivos ao longo dos ciclos dos cultivos. Portanto, conhecer essas medidas protetivas colabora tanto com a produtividade e rentabilidade como também com a proteção do meio ambiente.
A seguir, entenda mais sobre o tratamento de sementes: como funciona, os principais tipos de tratamentos e dicas para colocar em prática com eficácia!
O que é o tratamento de sementes?
De acordo com a legislação brasileira, tratamento de sementes é o processo de revestimento que emprega a aplicação de agrotóxicos, corantes e outros aditivos, sem que ocorra aumento significativo do tamanho, peso ou alteração de formato das sementes.
Tecnologias aplicadas à semente, como inoculantes, agentes de proteção a herbicidas, micronutrientes, reguladores de crescimento, revestimentos de sementes, corantes, entre outros, também são considerados tratamento de sementes. Após receberem tratamentos, as sementes devem ser destinadas exclusivamente para semeadura e não para fins de alimentação humana ou animal.
O tratamento de sementes faz uso de processos e/ou substâncias que preservam ou aperfeiçoam o desempenho das sementes, permitindo que as culturas expressem todo o seu potencial genético. Pode conter a aplicação de defensivos (fungicidas, inseticidas), produtos biológicos, inoculantes, estimulantes (enraizadores), micronutrientes (cobalto, molibdênio, zinco), entre outros.
Assim, uma vez semeadas a campo, as sementes ficam expostas a vários fatores bióticos (pragas e doenças) e abióticos que podem impactar seu desempenho fisiológico, afetando a germinação e uniformidade da emergência das plântulas.
Dessa forma, com o objetivo de proteger as sementes e as plântulas na fase inicial do crescimento contra o ataque de pragas e doenças, a aplicação de produtos fitossanitários nas sementes, como fungicidas e inseticidas, se tornou prática rotineira entre os produtores.
Qual é a importância do tratamento de sementes?
A possibilidade de controlar doenças e minimizar o ataque de pragas antes da implantação de uma lavoura ou na semeadura fez com que o tratamento de sementes seja considerado na agricultura moderna uma das medidas mais recomendadas.
Além disso, essa prática também se fez importante ao atuar com a intenção de se obter menor uso de defensivos químicos ao longo do ciclo dos cultivos e, consequentemente, minimizar problemas de poluição do meio ambiente — item que preocupa muitos consumidores atuais.
A importância do tratamento de sementes é ainda mais relevante dentro do sistema produtivo para cultivos de grande importância econômica, como a soja, o milho, o algodão, entre outros.
Hoje, semelhante à tecnologia de semeadura de híbridos de milho, há variedades de soja com recomendações de menor população de plantas por hectare, onde deve ser garantido um stand final de oito plantas por metro linear para que todo o potencial genético e produtivo da cultura seja expresso.
Conforme cresce a percepção do valor da semente e a importância de proteger ou melhorar o seu desempenho, aumenta a gama de produtos disponíveis para o seu tratamento. E essas opções possuem diferentes finalidades, como proteção (fungicidas ou inseticidas) ou nutrição (micronutrientes), com o objetivo principal de melhorar o desempenho da semente, tanto no aspecto fisiológico como econômico.
Quais são os tipos de tratamentos de sementes?
Existem dois tipos de tratamentos de sementes: o On Farm, realizado pelo próprio agricultor, e o TIS (Tratamento de Sementes Industrial, ou Tratamento Industrial de Sementes), que é realizado pelas empresas que comercializam sementes.
Tratamento convencional (On Farm)
O tratamento On Farm é aquele realizado dentro da propriedade pelo agricultor ou pela sua equipe. Uma das justificativas utilizadas por produtores para realizar o tratamento de sementes em sua propriedade é de que o custo do tratamento industrial é muito superior.
Além disso, mesmo que o preço seja similar ao do tratamento industrial, a grande maioria das empresas que comercializam esse tipo de tratamento não ofertam os produtos que esses produtores utilizam ou que são de sua preferência, levando-os a optar pelo tratamento em sua própria propriedade.
É importante salientar que os produtos utilizados no tratamento On Farm devem estar registrados para a cultura em questão e que se deve utilizar as doses indicadas pelos fabricantes, além dos equipamentos de proteção individual para garantir a segurança do aplicador, do meio ambiente e de animais.
Tratamento Industrial de Sementes (TIS)
O tratamento industrial de sementes é uma inovação tecnológica que atende aos agricultores na obtenção de alta produtividade, mitigando impactos negativos à saúde e ao meio ambiente.
O tratamento de sementes industrial é geralmente realizado pela empresa beneficiadora, detentora de técnicas profissionais, produtos, máquinas e equipamentos específicos para esse tratamento. Assim, a dose e a qualidade do recobrimento são consideradas de forma criteriosa, e o uso de polímeros se torna indispensável para a adesão dos produtos às sementes.
Essa prática também contribui para o aumento na taxa de uso de sementes certificadas. Isso porque, em geral, os produtores rurais que consomem sementes não fiscalizadas ou que salvam suas sementes não possuem maquinários de tratamento industrial com maior volume e com assertividade de dose e segurança na aplicação desses produtos.
Para ser considerado TIS, é indispensável a utilização de polímeros para a adesão dos produtos às sementes. O TIS é realizado por profissionais especializados, sob normas de segurança e visando preservar a qualidade física e fisiológica das sementes, bem como assegurar a saúde dos operadores e a preservação do meio ambiente.
5 dicas para fazer um tratamento de sementes eficaz
Agora que você conhece quais são os tipos de tratamento de sementes, que tal descobrir formas de colocar em prática e garantir sucesso em sua produção?
1. Utilize Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
Uma importante dica para o tratamento de sementes, seja ele On Farm ou TSI, é que o tratamento deve sempre ser realizado com a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para garantir a segurança do aplicador.
2. Utilize apenas produtos registrados
Devem ser utilizados apenas produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura em questão. Além disso, nunca deixe de seguir as doses e orientações de bula recomendadas pelos fabricantes.
3. Assegure a compatibilidade dos produtos
Busque garantir sempre a compatibilidade entre os produtos utilizados no tratamento. Esse aspecto é importante para obter uma mistura homogênea a ser aplicada nas sementes, assim como para evitar a perda de eficiência dos produtos usados. Por fim, essa prática também contribui com a prevenção de problemas de fitotoxicidade nas sementes e plântulas.
4. Controle do volume de calda
Uma atenção especial deve ser dada ao volume de calda utilizado no momento do tratamento. Evitar o molhamento excessivo das sementes é essencial, pois isso pode causar perdas de qualidade fisiológica.
5. Atenção ao momento do tratamento
Realizar o tratamento de sementes o mais próximo possível do período de semeadura é fundamental. Isso ajuda a evitar a fitotoxicidade dos produtos nas sementes e, no caso da adição de produtos biológicos, previne a mortalidade dos agentes biológicos adicionados.
O tratamento de sementes está em evolução e em adoção crescente. Outros estudos sobre o assunto, como a compatibilidade de produtos, em especial quanto aos produtos biológicos (bioinsumos), também estão cada vez mais presentes no desenvolvimento da nossa agricultura.
Autores: Cobausc Lima dos Santos (cobau@terra.com.br), Juliana Rodrigues Trinca (jtrinca@terra.com.br); Benhur Schwartz Barbosa; Emanuela Garbin Martinazzo Aumonde; Tiago Zanatta Aumonde; Tiago Pedó.
Referências
ABRASS – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE SEMENTES DE SOJA. O setor de sementes de soja. 2015. Disponível em: https://abrass.org.br/.
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