O cultivo de soja tem apresentando resultados positivos no sistema de cultivo em áreas baixas no Rio Grande do Sul. Porém, o cultivo de soja nessas áreas, tradicionalmente cultivadas com o arroz, representa grandes desafios aos produtores. O sistema de cultivo com sulco/camalhão tem sido uma técnica empregada na busca de soluções para alguns limitantes de produtividade nessas áreas.
De onde vem essa técnica?
A técnica sulco/camalhão é muito utilizada na Europa, principalmente nos países baixos como a Holanda, onde boa parte da agricultura é praticada em terras abaixo do nível do mar. Porém, o cultivo em áreas do Rio Grande do Sul tem sido copiado dos moldes dos americanos. Nos Estados Unidos, nos Estados de Arkansas, Louisiana e Mississippi, importante região produtora daquele país, cultiva-se milho e soja no sistema sulco/camalhões, em áreas de várzeas sistematizadas com declive. Muitos produtores gaúchos visitaram áreas dos EUA e têm copiado essa técnica que tem sido empregada com sucesso por lá.
Que problemas essa técnica ajuda a solucionar?
Os principais fatores limitantes de produtividade da soja em áreas de várzea são a deficiente drenagem natural do solo e a ocorrência de frequentes períodos de estiagem, acarretando alternância entre o excesso e o déficit de umidade no solo. O sistema sulco/camalhões melhora a drenagem superficial da lavoura e, ao mesmo tempo, permite irrigação suplementar por sulcos. Especialmente em função da capacidade de irrigar, esse sistema sulco/camalhão tem sido testado também em áreas mais altas de coxilha na metade sul do estado do RS.
Para que áreas é indicado essa técnica?
É indicado para solos planos, com declividades uniformes, requerendo, geralmente, a sistematização do terreno. O sistema tem sido testado em áreas sistematizadas com e sem declive, para o cultivo de soja e também milho. No caso da drenagem essa será mais eficiente em terrenos com declividade. Segundo a Embrapa, mesmo em áreas sem declive esse sistema tem sido eficientemente implantado contribuindo para a drenagem superficial do solo e para a irrigação suplementar, a qual é realizada com um misto dos métodos de sulcos e inundação intermitente (banhos rápidos). No caso de áreas sistematizadas sem declive (cota zero), os sulco/camalhões deverão ser mais largos e mais altos para garantir boa drenagem.
Comprimento do sulco e declividade?
O comprimento do sulco é um ponto importante principalmente para uma irrigação eficiente. O tempo que a água levará para atingir o final dos sulcos não deverá ser muito longo, pois em tempos muito longos poderá ocorrer excesso de umidade nas cabeceiras, principalmente se ocorrerem chuvas na sequência. Comprimentos de sulcos de até 400 m parecem ser os mais indicados, devendo ser menores em solos mais arenosos.
É importante que o terreno tenha uma declividade constante e uniforme, o que muitas vezes requer que seja feito uma sistematização com declive. Segundo a Embrapa, a declividade do terreno deve variar de 0,10% a 0,50%, sendo que valores intermediários entre 0,15% e 0,30% são os mais indicados. Em terrenos com declividades resultantes superiores a 0,5%, deve-se procurar construir os sulco/camalhões em um ângulo tal que proporcione declividades menores.
Qual o tamanho dos camalhões?
Algumas fazendas têm utilizado camalhões de 0,90 cm no qual são utilizadas duas linhas de soja espaçadas geralmente por 0,45 m ou uma linha de milho. Também pode utilizar camalhões mais largos de 1,60 m no qual pode-se cultivar duas linhas de milho ou três de soja.
A largura do sulco, que é a distância da base entre um camalhão e outro, é de aproximadamente 0,15 m. Assim, o espaçamento entre as linhas laterais de soja de um camalhão para o outro ficará em torno de 0,60 m.
Quanto a profundidade do camalhão, geralmente após a construção ele apresentará entre 15 a 20 cm. Após a ocorrência de chuvas é normal que ele baixe um pouco pela acomodação do solo.
Quais são os implementos necessários?
O sulco/camalhão deve ser instalado na direção que melhor se adapte à relação comprimento/declive do terreno. A confecção dos sulcos/camalhões tem sido feito utilizando camalhoeiras equipadas com sulcadores tipo “pés-de-pato”, para camalhões de até 1,00m de largura ou com sistemas de discos, para camalhões de até 1,60 m de largura. A operação de semeadura é feita posteriormente.
Fotos: Antônio Rampelotto
Diversos trabalhos realizados por produtores, Embrapa, Universidades, empresas, tem evidenciado que se trata de uma técnica promissora. Os trabalhos evidenciam que a adoção do sistema sulco/camalhões pode beneficiar a produção de soja em áreas de rotação com o arroz irrigado reduzindo os efeitos adversos dos fatores limitantes de produtividade.
Referências
Souza, CAS, et al. Sistema sulco/camalhão para irrigação e drenagem em áreas de várzea. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS. Comunicado Técnico, 165, 2007.