A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) pode ser definida como o conjunto de tecnologias e estratégias que permitem integrar os sistemas de produção agrícola, pecuária e florestal, tanto em dimensões espaciais como temporais.
Neste sistema, o objetivo é buscar a sinergia entre os componentes do agroecossistema pastoril, visando à sustentabilidade da propriedade rural, adequar e valorizar o capital natural. Para que seja alcançado o sucesso com a atividade, torna-se necessária a obtenção do equilíbrio dinâmico em todo o sistema, e que ocorra a interação árvores x espécies forrageiras cultivadas x animais.
Este sistema é formado por características simples, sendo comumente empregado em larga escala na região Centro-Oeste brasileira, onde o uso de árvores incrementa o sinergismo e a eficiência do programa e, ainda, aumenta a conversão e o acúmulo de carbono no sistema. Para que isso ocorra, é necessária a escolha da melhor espécie florestal e que esta tenha garantia de mercado, múltiplos usos, preste serviço ao sistema, sendo imprescindível compreender os tratos silviculturais, bem como, ser uma espécie aclimatada à região, possuir crescimento rápido e não prejudicar a pastagem em razão do sombreamento.
Tanto o sistema de integração lavoura-floresta (ILF) como o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) necessitam que as culturas e as pastagens sejam implantadas em faixas para facilitar o manejo e o fluxo de máquinas agrícolas. No entanto, o sistema de integração pecuária-floresta (IPF) permite que as árvores sejam dispersas ou isoladas na pastagem, com espaçamento regular, em bosques homogêneos ou mistos, permitindo também o cultivo em faixas. Do mesmo modo, possibilita o cultivo de árvores frutíferas, cercas vivas, árvores leguminosas (forrageiras), quebra-ventos ou fileiras de árvores.
A indicação de espaçamentos está diretamente ligada aos usos e destinos das árvores, sendo que fileiras únicas destinam as árvores para serrarias, fileiras mediamente adensadas ou muito adensadas destinam as árvores para a energia (carvão). Outros itens a serem considerados são:
- a disponibilidade da mão de obra;
- os custos de implantação, manutenção e colheita;
- mercado para o produto e
- volume produzido.
Desafios e benefícios do sistema
Os maiores desafios para implantar o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta são a necessidade de mão de obra qualificada, a carência de técnicos capacitados, o controle deficiente dos herbicidas que podem ser danosos às árvores, os cuidados especiais com as árvores (sombreamento) e animais.
Dentre os benefícios de implantar este sistema nas pastagens brasileiras, define-se que esta abordagem pode minimizar os danos causados ao ambiente devido ao desmatamento de grandes áreas, eliminação da flora nativa, implantação de monocultivos de pastagens e culturas comerciais, considerados sistemas extrativistas e não sustentáveis ao longo do tempo.
Atualmente, as áreas de pastagem crescem sem o adequado manejo do solo e água, o que normalmente resulta em degradação destas áreas. Estes sistemas pastoris, quando mal planejados, eliminam a vegetação natural, compactam, causam a erosão e a redução da fertilidade do solo, provocam baixos níveis produtivos e lucratividade da propriedade, redução da diversidade de espécies da fauna e flora. Algumas vantagens de utilizar este sistema podem ser identificadas por meio da rotação de culturas, da arborização da área da pastagem, agregando valor à área e recuperando a pastagem em áreas acidentadas.
A diferença entre ILF e ILPF
O sistema de integração lavoura-floresta (ILF) apresenta-se menos complexo, pois se utilizam espécies florestais que inviabilizam a entrada dos animais (ex.: seringueira). Já o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é mais complexo, porém mais rentável, devido à lavoura reduzir os custos de implantação da pecuária e do sistema florestal, pois promove outras opções de renda, proporciona maior conforto térmico aos animais, possibilita a conservação do solo e da água, melhora as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, os valores nutricionais da pastagem e a retenção de carbono pelas árvores.
Com a utilização deste sistema, o produtor poderá diversificar os produtos comerciais e a renda da propriedade rural, visto que para grandes extensões de área permite-se realizar a venda de créditos de carbono – destacando a importância da escolha da melhor raça do animal, espécie forrageira e arbórea, que é fundamental para que o sistema não apresente limitações e seja sustentável.
Benefícios das árvores para os solos
Com este sistema evidenciam-se muitos benefícios que as árvores exercem sobre os solos, dentre eles:
- produção de biomassa e adição de matéria orgânica;
- incremento da fixação de nitrogênio;
- melhora da porosidade e da distribuição de água pluviométrica e nutrientes;
- proteção contra erosão hídrica e eólica;
- redução da perda de solo e nutrientes para os perfis mais profundos do solo;
- absorção, reciclagem e liberação lenta de nutrientes para os cultivos;
- menor lixiviação;
- aumento do crescimento, proliferação e biomassa de raízes, substâncias promotoras de crescimento e associações microbianas.
Etapas do planejamento
O sistema pode ser subdividido em sistemas pastoris eventuais, nos quais o pasto se caracteriza como o subproduto, e o produto arbóreo é o principal. O sistema pastoril verdadeiro evidencia que o componente forrageiro e o arbóreo têm igual importância no sistema integrado.
Uma das etapas mais importantes é o planejamento, pois a implantação e o dimensionamento das árvores devem permitir o crescimento e o desenvolvimento das espécies forrageiras em sub-bosque. Da mesma forma, a competição por luz, água e nutrientes deve ser equilibrada.
O sistema radicular das árvores apresenta-se mais profundo e pode explorar camadas mais extremas do solo, enquanto as espécies forrageiras absorvem nutrientes e água mais superficialmente no solo.
A floresta deposita resíduos vegetais oriundos das árvores (folhas e galhos) sobre o solo, o que contribui para o incremento da ciclagem de nutrientes e a disponibilidade destes para as espécies forrageiras, minimizando a erosão do solo.
As áreas sombreadas promovem a redução dos estresses hídricos, e a evapotranspiração da planta forrageira minimiza os gastos de energia com a termorregulação e maximiza a taxa de acúmulo de fotoassimilados, mesmo em condições sombreadas.
Referências
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CARVALHO, I. R.; NARDINO, M.; SOUZA, V. Q. Melhoramento e Cultivo da Soja. Porto Alegre: Cidadela, 2017.