Veja aqui a primeira parte da Série conservação e sustentabilidade do sistema produtivo
Uso sustentável do solo
A preocupação com o desenvolvimento sustentável tem crescido nos últimos anos, gerando vários estudos e debates. Isso porque o crescimento populacional ocorre em ritmo exponencial, o que gera mais pressão nos recursos naturais, como o solo. Tendo cada vez mais pessoas, há necessidade de aumentar a produção, com quantidades maiores de alimentos/animais/fibras, que precisam ser produzidos em espaços, que seguem diminuindo ano após ano, devido às perdas por manejo incorreto. Além disso, é importante frisar que na natureza todos os processos são interdependentes e, por isso, a degradação do solo está intimamente relacionada com outros problemas ambientais, como a poluição e o assoreamento de recursos hídricos, o que acaba gerando, como consequência, perda da biodiversidade e redução da qualidade de vida.
No entanto, os debates não devem ser fomentados para diminuir ou interromper o crescimento e o desenvolvimento produtivo do agronegócio, mas sim para indicar um caminho que garanta a manutenção dos recursos naturais, assegurando os seus ciclos de produção e regeneração (GOEDERT; OLIVEIRA, 2007).
Atualmente, o conceito de sustentabilidade tem sido amplamente debatido, sendo consideradas sempre questões biológicas, sociais, econômicas e ambientais. Isso porque o desenvolvimento sustentável busca a manutenção das altas produtividades sempre atreladas à manutenção da qualidade do solo e de suas funções ecológicas. Sendo assim, de forma geral, um sistema produtivo sustentável é aquele que garante manutenção dos recursos naturais e da produtividade; produção com o mínimo de impacto ao ambiente; retorno socioeconômico aos produtores; otimização da produção sem a utilização de grandes quantidades de insumos externos (como adubos nitrogenados, que causam elevada acidificação do solo, por exemplo); e ser capaz de atender à demanda por alimentos, renda e qualidade de vida da população (produtores rurais e sociedade como um todo) (BRASIL, 2000).
Sendo assim, é possível perceber que a sustentabilidade produtiva está intimamente relacionada com a resiliência e a qualidade do solo (Figura 1). A resiliência pode ser definida como a capacidade que o solo apresenta de se recuperar, enquanto a qualidade pode ser definida como a capacidade que o solo apresenta de desempenhar as suas funções de forma satisfatória, seja de sustentar a biodiversidade ou de contribuir para a saúde das plantas, animais e humana (GOEDERT; OLIVEIRA, 2007).
Figura 1. Relação entre produtividade, qualidade do solo e suas funções ecológicas. Fonte: Autora.
Para manter a resiliência, a qualidade do solo e as altas produtividades, é necessário buscar manejos adequados e práticas agrícolas de uso sustentável, visto que são práticas que buscam diminuir a erosão e a degradação, e visam à conservação desse recurso natural, mantendo as suas características.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Agricultura sustentável: Subsídios à elaboração da Agenda 21 brasileira. Brasília, 2000.
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SSSA – Soil Science Society of America. Glossary of Soil Science Terms. Amer Society of Agronomy, 1997.