Dentre os principais usos da soja no âmbito agropecuário, destaca-se a sua importância na alimentação animal, principalmente como matéria-prima para a fabricação de rações e concentrados. Desta maneira, os esforços de programas de melhoramento para qualificar os aspectos bromatológicos que definem a aptidão nutricional dos grãos da soja são justificáveis.
Proteína bruta
A fração proteica contida nos alimentos é primordial às dietas dos animais. As proteínas vegetais são importantes fontes de aminoácidos para o crescimento e o desenvolvimento dos animais, uma vez que evidenciam função estrutural, energética, genética, regulatória, e atuam no mecanismo de defesa no organismo animal. Os principais aminoácidos contidos na proteína oriunda de grãos da soja são: histidina, isoleucina, leucina, lisina, treonina, triptofano, valina, aminoácidos sulforados (metionina + cistina), e aminoácidos aromáticos (fenilanina + tirosina).
O conteúdo de proteína presente em grãos da soja está situado em torno de 40,5% da massa seca total do grão. Estudos revelam amplitude de 42 a 47% de proteína bruta. Genótipos da soja cultivados em diferentes ambientes do Rio Grande do Sul obtiveram 35% em média de proteína bruta contidas nos grãos. Estes resultados e sua grande importância justificam o direcionamento de programas de melhoramento genético visando obter genótipos qualitativamente superiores.
Extrato etéreo ou lipídios totais
O extrato etéreo é composto por substâncias como gorduras, óleos, pigmentos e outros. Embora sua concentração nos grãos da soja seja relativamente pequena, em torno de 3 % da matéria seca total do grão, estudos apontaram amplitude de 3 a 4% deste caráter. Logo, sua determinação torna-se importante, pois é possível obter genótipos enriquecidos com elevada concentração de lipídios nos grãos, podendo ser estes destinados à extração de óleos vegetais, e o farelo direcionado à fabricação de concentrados mais energéticos aos animais.
Fibra bruta
A fibra constitui a fração da dieta de difícil digestão e apresenta baixo valor nutritivo, no entanto, favorece os movimentos peristálticos intestinais do animal. As fibras auxiliam na regulação da taxa e do tempo de passagem no trato digestivo. O conteúdo médio de fibra bruta nos grãos da soja situa-se em torno de 7 a 10.
Fibras em detergente neutro
As FDN são o componente bromatológico que mais representa fidedignamente os constituintes da célula vegetal, e revela baixa degradação por conter uma fração dos constituintes da parede celular. O conteúdo de FDN encontrado nos grãos da soja corresponde a até 17,2 % da massa seca total dos grãos.
Fibras em detergente ácido
As FDA são constituídas de polissacarídeos estruturais e reúnem as fibras de digestão lenta, assim, o incremento desta fração aumenta a dificuldade de digestão e minimiza a velocidade de passagem pelo sistema digestivo do ruminante. Esse caráter revela magnitude em torno de 14,7% da massa seca total dos grãos da soja.
Energia bruta
A energia bruta é oriunda da oxidação total da matéria orgânica dos alimentos e apresenta a denominação da magnitude de calorias totais fornecida pelo alimento. Os grãos da soja apresentam em torno de 5051,4 calorias por grama de matéria seca de grãos.
Lignina
A lignina é um polissacarídeo presente na parede celular das plantas. Juntamente à celulose e à hemicelulose, apresenta função estrutural em células adultas. A lignina confere maior rigidez à célula e aos tecidos, mas dificulta a digestibilidade do concentrado pelo trato digestivo dos ruminantes. Os teores de lignina encontrados nos grãos da soja situam-se em torno de 2,3 % da massa seca total dos grãos.
Material mineral ou fração inorgânica
Os minerais possuem função estrutural, fisiológica, catalítica e reguladora no metabolismo animal. A fração mineral corresponde à totalidade de elementos contidos nos grãos, e pode ser relacionada com o conteúdo de cinzas; neste contexto, o percentual de material mineral encontrado nos grãos da soja está em torno de 5,2 %.
Neste conteúdo foram caracterizados vários aspectos inerentes ao emprego de uma planta modelo da soja, justificando a sua utilização com sucesso em programas de melhoramento da cultura. O ideótipo da soja pode ser utilizado em pesquisas no intuito de nortear os melhoristas, principalmente pela seleção indireta de caracteres de baixa herdabilidade, com grande efeito, do ambiente, como é o caso da produtividade de grãos. Isso pode resultar na redução do tempo necessário para o lançamento de genótipos da soja, bem como, aumentar a eficiência do uso de recursos nos programas de melhoramento de plantas.
Referências
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