Neste material são abordados os seguintes tópicos:
- Características gerais;
- Biologia e ciclo do patógeno;
- Danos;
- Fatores importantes para ocorrência do patógeno;
- Principais manejos utilizados;
Características Gerais
A cultura da macieira (Malus domestica) é uma frutífera importante para a região sul do Brasil. Sendo a sarna, causada pelo fungo Venturia inaequalis, a principal doença da cultura da macieira, principalmente em regiões com clima temperado e úmido, favoráveis para a sua ocorrência. No Brasil, é encontrada em todas as regiões produtoras de maçã.
Danos
A sarna é uma doença policíclica, os sintomas podem ser observados em folhas (Figura 1) e frutos. Os danos causados nos frutos fazem com que o valor comercial para o consumo in natura diminua. Além disso, causa abortamento de botões florais e flores, queda prematura dos frutos e desfolhamento das plantas, além de afetar o vigor. Nas folhas, as lesões podem ser observadas pelo surgimento de manchas de coloração verde-oliva, nos dois lados. Nos frutos, pode causar deformações, queda prematura e lesões circulares. Depois de colhidas, os sintomas continuam a se desenvolver. Além disso, os locais das lesões nos frutos também podem ser porta de entrada para lagartas e outros patógenos que atacam a cultura.
Ciclo e epidemiologia
Através da compreensão do ciclo do patógeno é possível compreender sua dinâmica na área a fim de escolher os melhores momentos para realização do manejo (Figura 2).
O ciclo é constituído por duas fases, uma saprófita (sexuada), que acontece durante o período de dormência, o fungo fica nos restos culturais durante este período. Outra fase (assexual) acontece durante o período vegetativo da macieira (Figura 2). O período crítico de incidência acontece durante o período de brotação. Desta forma, o fungo está presente na área durante todo o ano. Durante a primavera, os ascósporos são ejetados e alcançam as brotações novas das plantas, principalmente em períodos úmidos. Temperaturas abaixo de 10°C são desfavoráveis a essa liberação. A severidade da doença varia de acordo com as condições climáticas.
A ocorrência da sarna da macieira depende de três fatores:
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Hospedeiro
- Período crítico para controle inicia na brotação;
- No florescimento a planta é altamente suscetível e coincide com o período de alta liberação de ascósporos;
- Quanto menor a idade das folhas mais suscetíveis elas são aos patógenos; com o aumento da idade das folhas elas ficam menos suscetíveis ao patógeno.
Inóculo
- A maturação dos ascósporos pode ocorrer nos meses de julho e agosto, a determinação deste período é importante, pois auxiliar no planejamento das aplicações (Julho-Agosto);
- As folhas infectadas que caem nos meses de maio e junho liberam maior quantidade de ascósporos, o que ajuda na manutenção do patógeno na área;
- As folhas que caem prematuramente, nos meses de de janeiro ou fevereiro não chegam a liberar ascósporos.
Condições ambientais favoráveis
- Germinação e infecção são dependentes do período de molhamento foliar, o que depende do número de esporos disponíveis, ou seja, quando mais esporos o ambiente tiver menor o período de molhamento foliar necessário para ocorrer infecção;
- Temperaturas entre 16°C e 24°C favorecem a infecção;
- Existe uma tabela muito conhecida, chamada tabela de Mills, que ajuda a identificar períodos de maior probabilidade de infecção por V. inaequalis. Essa tabela relaciona o grau de infecção com o tempo de molhamento das folhas e temperatura.
Controle da sarna da macieira
O manejo deve ser baseado em um conjunto de estratégias integradas. Vamos elencar algumas práticas que auxiliam na diminuição da ocorrência do patógeno na área. Na escolha de período de aplicações é muito importante conhecer os processos que influenciam a doença: ambiente x patógeno x hospedeiro, o que possibilita o manejo com menos aplicações.
- Monitoramentos das condições climáticas: O acompanhamento das condições climáticas é fundamental no manejo da sarna, pois possibilita a determinação de períodos favoráveis para a ocorrência do patógeno. Sistemas de alerta podem ser muito úteis nesse período.
- Rotação de ingredientes ativos: O uso do mesmo princípio ativo pode selecionar organismos resistentes, o que diminui a eficiência dos produtos. Desta forma, é muito importante a rotação de diferentes grupos.
- Primeira aplicação: A determinação do início do controle químico é fundamental no manejo da sarna. Normalmente as aplicações começam a partir do mês de agosto.
- Fungicidas protetores: Fungicidas protetores são importantes no manejo de resistência da sarna. Também são considerados boas opções para aplicações antes de períodos chuvosos, protegendos as plantas.
- Manutenção do controle da doença até a queda das folhas: É importante manter as aplicações de fungicidas até o início do período de queda, pois possibilita que diminua a quantidade de inóculo para o próximo ciclo.
- Destruição de restos culturais: Em áreas muito infestadas recomenda-se a destruição dos restos culturais, além de controlar outros patógenos e pragas, interrompe o ciclo da sarna.
- Uso de cultivares resistentes: Existem algumas cultivares resistentes à sarna disponíveis no mercado. As cultivares mais consumidas no Brasil são suscetíveis (Gala e Fuji) ao patógeno.
Para evitar os problemas de resistência do fungo, Venturia inaequalis, nos pomares de macieira é importante fazer o tratamento com ureia a 5% para redução do inóculo inicial do patógeno, utilizar o quebra-vento e equipamentos de pulverização adequados e calibrados, fazer uso de variedades tolerantes ou resistentes e aplicar fungicidas na dose recomendada e no momento certo. Além de fazer a poda e assegurar a nutrição equilibrada da planta.
Referência
AGRIOS, G.N. Plant pathology. 5a Ed., Academic Press. 2005.