Introdução
O Brasil possui solos de origem tropical, com elevado nível de intemperismo e pobreza de nutrientes. O uso de tecnologias de manejo, muitas das vezes oriundas de regiões de climas temperados, dificulta e limita a produção. Tal fato é relevante quanto aos gastos com fertilizantes minerais importados, limitando o processo produtivo, uma vez que o país depende de mais de 30 milhões de toneladas a um custo que supera os 9 bilhões de dólares, encarecendo a produção e os custos dos alimentos (ANDA, 2022).
A busca pela sustentabilidade nos sistemas agrícolas tem feito com que pesquisas se desenvolvam na referida área e encontrem soluções para uma nova agricultura, moderna e produtiva. O uso de produtos de fontes naturais pode minimizar a demanda por fertilizantes inorgânicos nos sistemas produtivos, sendo um fato positivo, uma vez que a aquisição e preparo desses fertilizantes tem um alto custo. Dentro desta premissa, é necessário pesquisar o potencial de produtos capazes de garantir os processos agrícolas e ainda manter a qualidade alimentar dos produtos e subprodutos gerados, por meio de um manejo sustentável. Para isso, é importante considerar ações positivas para com a base da produção, que são os solos.
Deste modo, partindo do tripé da sustentabilidade – econômica, social e produtiva – surgem novas alternativas de produção de elementos nutricionais, como rochagem e obtenção de remineralizadores de solos. O uso de pó de rocha reduz custos e impactos ambientais causados pelos fertilizantes minerais, além de ser um produto multielementar e benéfico aos solos, garante melhores condições para crescimento das plantas, incrementa os atributos físico-químicos e nutricional dos solos. Alguns exemplos são as rochas graníticas (SILVA et al., 2013), de basalto (RAMOS et al. 2014), fonólito (TAVARES et al., 2018) e andesito (DALMORA et al. 2020).
Os remineralizadores de solos são materiais silicáticos naturais que passaram pela diminuição do tamanho das partículas no processo de produção (BRASIL, 2013). Essa redução não tem presença de produtos químicos, trata-se de aplicações físicas, como moagem e peneiramento das rochas até obter o produto em pó.
A partir da Lei N°. 12890/2013 (BRASIL, 2013), esses materiais passaram a ser tratados como passivo ambiental e necessitando-se então, ter um fim devido, e em 2016, por meio da Instrução Normativa N°. 05 (BRASIL, 2016), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), estabeleceu-se padrões, garantias e protocolos para avaliação da eficiência agronômica desses pós oriundos de rochas, permitindo seu registro como remineralizador, já que nem toda rocha tem esse potencial de remineralizar o solo.
Assim, a adição de pós de rochas aos solos mais pobres ou intemperizados é uma prática que visa a reestruturação de solos, da correção e da fertilidade, por meio da inserção de novos minerais.
Materiais e métodos
O experimento foi conduzido sob condições de campo, em uma área de canavial de sétimo corte, no município de Bebedouro, no Estado de São Paulo.
O solo do local foi caracterizado como Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico (PVAe), classificação EMBRAPA (2018), cuja análise dos atributos químicos e físicos apresentaram os seguintes valores: pHCaCl2=4,72; M.O.=10,72 g dm-3; P=9,95 mg dm-3; S=7,05 mg dm-3; Ca=18,13 mmolc dm-3; Mg=4,86 mmolc dm-3; K=2,12 mmolc dm-3; Al3+=1,06 mmolc dm-3; H+Al=18,60 mmolc dm-3; SB=25,11 mmolc dm-3; CTC=43,71 mmolc dm-3; V=57,44 %; m=4,00 %; Si=4,52 mg dm-3; B=0,33 mg dm-3; Cu=2,20 mg dm-3; Fe=19,00 mg dm-3; Mn=3,80 mg dm-3; Zn= 1,2 mg dm-3.
Para o mesmo, foi aplicado o pó de rocha basáltica (PRB) da COPLAN – Construtora Planalto Ltda., da pedreira localizada no município de Embaúba, no Estado de São Paulo. O delineamento experimental foi disposto em faixas (Split pots) com comprimento de 100,0 m por largura de 10,5 m (Figura 1), com 5 pontos de coleta por faixa, obtidos em 7 linhas de 20 m de comprimento x 10,50 m de largura, caracterizando as unidades experimentais (parcelas), coletadas na área útil de 45,0 m² (3 linhas de 10 m de comprimento x 4,5 m de largura), conforme Figura 1.
Figura 1. Croqui da área experimental útil. T1 – 1: ponto de coleta número 1, do tratamento sem pó de rocha basáltica Coplan (PRB); T2 – 1: ponto de coleta número 1, do tratamento com 2,5 t ha-1 de PRB e; T3 – 1: ponto de coleta número 1, do tratamento com 5,0 t ha-1 de PRB; T4 – 1: ponto de coleta número 1, do tratamento com 7,5 t ha-1 de PRB.
O pó de rocha de basalto (PRB) foi aplicado na soqueira de cana-de-açúcar, de sétimo corte, a lanço, 20 dias após o corte da safra 2018/19, em novembro de 2019, avaliando a produtividade por meio de dados biométricos de campo.
Os tratamentos com pó de rocha (PR) foram aplicados junto com a redução de adubação de cobertura em 20%, junto aos demais tratos padrões da propriedade (PP). O PP continha uso de vinhaça (192 m³ ha-1) aplicada 10 dias após do corte da soqueira, aplicação de adubo de cobertura 20-05-20 (N-P2O5-K2O) com 450 kg ha-1. Com a redução de adubação, os tratamentos com PR tiveram a aplicação de apenas 360 kg ha-1 do adubo de cobertura, destacando-se assim: T1- padrão da propriedade (PP); T2- PP + 2,5 t ha-1 de PR; T3- PP + 5,0 t ha-1 de PR e; T4- PP + 7,5 t ha-1 de PR, com cinco repetições. A aplicação do PR foi realizada por meio de distribuidor de corretivos e fertilizantes tratorizado, cobrindo a largura da faixa com 12 m. A regulagem da máquina foi dada para 2,5 t ha-1, utilizando-se de número de passadas para obter os demais tratamentos.
O PR possuía soma de bases (CaO + MgO + K2O) de 16,35%, e o teor de K2O de 1,05%. A soma de bases é superior a 9% e o óxido de potássio é maior que 1%, conforme a Lei N.° 12.890/2013 e Instrução Normativa N°. 5.
Para análise da produtividade, foram utilizadas as avaliações em cada parcela experimental, obtendo-se das áreas úteis (Figura 1) os feixes (em cada ponto), contendo 10 canas, e confeccionando a avaliação biométrica a partir do peso dos feixes, com balança de precisão de duas casas decimais (kg), do diâmetro de colmo (cm), altura média do feixe (m) e, número de colmos por metro. Com esses dados, foram estimados os valores de toneladas de colmo por hectare (TCHfeixe), calculados conforme metodologia IAC (MIRANDA et al., 2008). Os valores da tonelada de POL (Porcentagem de Oligossacarídeos) por hectare (TPH) também foram determinados por meio das análises tecnológicas realizadas em usina parceira, após entrega dos feixes na unidade.
Resultados
Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (ANOVA), teste de Tukey para comparação de médias, ambos a 5% de probabilidade, seguidos de estudos de regressão polinomial respostas significativas e/ou efeito das doses para os valores de TCHfeixe e TPH.
Os tratamentos com PR apresentaram um efeito crescente, linear e significativo para as doses testadas, junto com a redução de adubação da cobertura em 20%, sendo que a dose de 7,5 t ha-1 se diferiu do padrão da propriedade (PP), mas não das demais doses de PR, quando para TCHfeixe, em valores médios. Os incrementos de produtividade foram de 105,83 para 148,17 t ha-1, do PP para a maior dose de PR, com aumento de 42,34 t ha-1 (28,57%), conforme visto na Figura 2 (A).
Figura 2. 2A: Valores médios de produtividade (TCHfeixe – t ha-1); 2B: POL (TPH – t ha-1) para a cultivar de cana-de-açúcar RB93-5744 mediante a aplicação das doses de pó de rocha basáltica (PR), no sétimo corte de soqueira.
Para os teores de TPH, os valores médios apresentaram um incremento crescente, linear e significativo, quando do uso das doses de PR, sendo que a dose de 7,5 t ha-1 se diferiu do padrão da propriedade (PP), mas não da dose de 5,0 t ha-1 de PR. Os incrementos de produtividade foram de 14,75 para 25,55 t ha-1, do PP para a maior dose de PR, com aumento de 10,80 t ha-1 (42,27%), conforme visto na Figura 2 (B).
Esses incrementos, de forma significativa, demonstram que seu uso do pó de rocha basáltica (PR) na agricultura, respeitando as condições adequadas para o produto, mediante legislação vigente, o caracteriza como um novo insumo para os processos produtivos, e que se enquadra na categoria remineralizadores de solos (BRASIL, 2016).
Conclusão
O uso do pó de rocha basáltica (PRB) para o cultivo da soqueira de sétimo corte da cultura da cana-de-açúcar apresentou acréscimos lineares, crescentes e significativos de 28,57% para a produtividade estimada (TCHfeixe), e de 42,27% para a TPH, sugerindo-se as doses de 5,0 e 7,5 t ha-1 de PR, quando comparado ao tratamento padrão da propriedade e, garantindo uma redução de 20% na adubação de cobertura/soqueira.
Referências
ASSOCIAÇÃO NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS – ANDA. Pesquisa setorial: Macro indicadores. Disponível em: <http://anda.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Principais_Indicadores__2020.pdf>. Acesso em jul. 2022.
BRASIL. (2013). Lei no. 12.890 – Altera a Lei n. 6.894 para incluir os remineralizadores como uma categoria de insumo destinado à agricultura. Brasília, DF: Diário Oficial da União – Palácio do Planalto. https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/112213899/lei-12890-13.
BRASIL. (2016). Instrução Normativa 5 – Regras sobre definições, classificação, especificações e garantias, tolerâncias, registro, embalagem, rotulagem e propaganda dos remineralizadores e substratos para plantas, destinados à agricultura. Brasília, DF: Diário Oficial da União – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=317444
DALMORA, A.C.; RAMOS, C.G.; OLIVEIRA, M.L.S.; OLIVEIRA, L.F.S.; SCHNEIDER, I.A.H.; KAUTZMANN, R.M. Journal of Cleaner Production 256 (2020a) 120432.
EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sistema brasileiro de classificação de solos. SANTOS, H. G. et al. (Coord.) 2.ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306p.
RAMOS, C. G., MELLO, A. G., KAUTZMANN, R. M., 2014. A preliminary study of volcanic rocks for stonemeal application. ENMM 1–2, 30–35.
SILVA, M. H. M.; SANTOS, C. C.; SANTANA, A. P.; ALVES, J. M. Uso da rochagem como fonte alternativa de nutrientes na produção de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) para a indústria de etanol. Anais…, XXXIV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. Florianópolis, SC. 2013. _p.
TAVARES, L. F.; CARVALHO, A. M. X.; CAMARGO, L. G. B.; PEREIRA, S. G. F.; CARDOSO, I. M. Nutrients release from powder phonolite mediated by bioweathering actions. International Journal of Recycling of Organic Waste in Agriculture (2018) 7:89–98 https://doi.org/10.1007/s40093-018-0194-x.