A soja constitui a principal commodity do agronegócio brasileiro. Embora ganhos expressivos na produtividade tenham sido obtidos ao longo das safras, a soja apresenta um potencial produtivo bem acima dos valores obtidos atualmente. Dados do CESB revelam que os campeões de produtividade têm alcançado quase o dobro da produtividade média brasileira, atualmente em torno de 60 sc/ha.
Diversos fatores, incluindo fatores bióticos (pragas, plantas daninhas e doenças) e abióticos (deficiência ou excesso hídrico, nutrição mineral) tem limitado o aumento na produtividade da soja. Entre os fatores abióticos, as doenças estão entre os principais, destacando-se as doenças foliares, que podem causar reduções de mais de 80% na produtividade.
A aplicação de fungicidas constitui a principal medida de controle de doenças foliares. Contudo, o sucesso do controle químico depende da escolha dos produtos adequados para cada aplicação, do número de intervalo entre aplicações, da tecnologia de aplicação, entre outros fatores. É importante ressaltar que a resposta das cultivares à aplicação de fungicidas não linear, existindo cultivares mais responsivas do que outras. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo determinar a resposta de cultivares à aplicação de fungicidas.
Os experimentos foram conduzidos na área experimental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Santa Helena na safra 2020/2021. A semeadura foi realizada na segunda quinzena de outubro. A população final foi de aproximadamente 250 mil plantas ha-1, com espaçamento entre linhas de 0,45 m. A adubação de base consistiu na aplicação de 300 kg ha-1 de adubo NPK (02-20-18). O controle de plantas daninhas em pós-emergência foi realizado com o herbicida glifosato (Shadow, 2 L ha-1) e o de pragas com os inseticidas lambda-cialotrina + tiamethoxam (Platinum Neo, 0,15 L ha-1).
Em ambas as safras, os experimentos consistiram numa variação do número de aplicações de fungicida (zero, duas ou quatro aplicações) nas seguintes cultivares de soja: NA 5909 RG, BMX Lótus IPRO, 96R10 IPRO, 96Y90, TMG 7063 IPRO, BMX Garra IPRO, BMX Potência RR, BMX Fibra IPRO, 95R95 IPRO, M6210 IPRO, BS 2606 IPRO, M6410 IPRO, Syn 1258 RR, 96R29 IPRO, Syn 1059 RR, DM 6563 IPRO, BMX Delta IPRO, Syn 15630 IPRO, HO Pirapó IPRO, M5947 IPRO. As aplicações de fungicida foram realizadas aos 65 e 80 dias após a emergência (DAE) para o tratamento com duas aplicações e aos 35, 50, 65 e 80 DAE para o tratamento com quatro aplicações de fungicida. Para ambos os tratamentos, foram utilizados o fungicida picoxistrobina + ciproconazol (Aproach Prima, 0,3 L ha-1) acrescido de 0,5% de óleo mineral (Nimbus) nas aplicações realizadas aos 65 e 80 DAE. Para o tratamento com quatro aplicações, o fungicida usado nas aplicações realizadas aos 35 e 50 DAE foi picoxistrobina + benzovindiflupir (Vessarya, 0,6 L ha-1). Em todas as aplicações foi adicionado o fungicida protetor multissítio mancozebe (Unizeb Gold, 1,5 kg ha-1). As aplicações foram realizadas com um pulverizador costal pressurizado a CO2 com seis pontas de pulverização ADI 110 015 (Jacto) espaçadas 0,5 m entre si, pulverizando numa vazão de 100 L ha-1. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com quatro repetições. Cada unidade experimental consistiu em seis linhas de semeadura espaçadas em 0,45 m, com cinco metros de comprimento. Para as avaliações de produtividade foram consideradas apenas as quatro linhas centrais, descartando-se 0,5 m de cada cabeceira.
A mancha alvo (Corynespora cassiicola) (Figura 1) foi a principal doença que ocorreu no experimento. Embora a mancha alvo tenha sido relatada pela primeira vez no Brasil em 1976, ela foi considerada de importância limitada por muito tempo. Contudo, a ampla adoção do sistema de semeadura direta, o uso de cultivares suscetíveis e a menor sensibilidade do fungo a fungicidas, tem tornado a mancha alvo uma das