Relações ecológicas que se estabelecem em pastagens cultivadas e nativas
Você já parou para pensar sobre as diferenças entre uma pastagem cultivada em sistema de monocultivo e a pastagem nativa? Quais impactos cada sistema tem sobre as características químicas, físicas e biológicas do solo? E as relações ecológicas que ali ocorrem, será que são as mesmas?
Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- as características da pastagem cultivada;
- as características da pastagem nativa;
- a comparação entre esses dois sistemas.
PASTAGENS CULTIVADAS
As pastagens implantadas com espécies forrageiras cultivadas compreendem uma grande área territorial, com muitos tipos de solos e condições climáticas, onde se emprega, geralmente, um monocultivo que se caracteriza por ser mais produtivo, porém com maior incidência de plantas daninhas devido à exposição do banco de sementes do solo, apresentando-se como um ecossistema pastoril simples, incapaz de ser autossuficiente, pois é dependente da ação antrópica para manejá-lo.
Estas pastagens podem resultar em alterações químicas do pH, adição e extração do cálcio, fósforo, magnésio, potássio, redução da saturação por alumínio, menores proporções de carbono, nitrogênio e matéria orgânica. Nestas condições há elevada extração de forragem, perdas por lixiviação, erosão, rápida decomposição dos resíduos vegetais e excrementos dos animais.
Algumas alterações físicas são obtidas devido ao incremento da densidade do solo, à redução da porosidade e aeração, ao incremento da compactação e aos baixos efeitos da erosão laminar. Obtém-se maiores temperaturas do solo devido à incidência direta da radiação, à menor umidade, à percolação, à retenção e à disponibilidade de água no solo.
Ocorrem ainda alterações biológicas devido às modificações na atividade biológica dos microrganismos, sendo estes dependentes das condições químicas e físicas do solo. Busca-se, nessas situações, um incremento da atividade biológica, pois indiretamente obtém-se maiores ciclagens e disponibilidade de nutrientes às plantas forrageiras.
Na pastagem cultivada, verifica-se menor diversidade de espécies vegetais e biológicas, e o decréscimo da microfauna, número de espécies de microrganismos e magnitude de indivíduos em cada população. As espécies forrageiras introduzidas em um determinado ambiente são consideradas exóticas e possuem menor capacidade de manter o equilíbrio dinâmico do clímax da pastagem. No entanto, minimizam o pastejo seletivo dos animais, possibilitam o incremento da taxa de lotação, ganhos econômicos por unidade de área, produtividades de biomassa em menor espaço de tempo, requerem melhores condições de fertilidade do solo e podem resultar na melhor qualidade bromatológica da forragem obtida.
PASTAGENS NATIVAS
Define-se a pastagem nativa como uma cobertura vegetal formada predominantemente por gramíneas e algumas leguminosas, plantas herbáceas subarbustivas e poucas árvores, apresentam-se geralmente em clímax pastoril e submetidas a poucas ações antrópicas. Perante as características limitantes para a manutenção da pastagem nativa, elencam-se:
- lotações excessivas com manejos inadequados;
- baixa consorciação com gramíneas e leguminosas;
- presença de plantas daninhas;
- subdivisões inadequadas das áreas de pastejos;
- condições do solo e vegetação;
- uso indiscriminado do fogo;
- excesso ou baixa carga animal.
Em contrapartida, os campos nativos sulinos expressam grande biodiversidade natural com mais de 400 espécies de gramíneas e 150 espécies de leguminosas forrageiras. Nestas condições, é possível a associação natural de espécies com metabolismo C3 (hibernal) e C4 (estival), que revelam elevada plasticidade fenotípica por meio das modificações impostas por latitude, altitude, fertilidade do solo e manejo na área da pastagem.
A pastagem nativa apresenta variabilidade espacial e temporal, influenciando a produtividade de biomassa. Temporalmente, os efeitos são causados pelas estações do ano, pelo clima, pela coexistência de espécies C3 e C4 que é caracterizada pela capacidade da pastagem nativa de produzir forragem o ano todo, em contrapartida, a variação espacial se refere à produtividade diferenciada devido às características físicas e químicas do solo, às condições do relevo, à continentalidade, aos manejos, à carga animal, ao diferimento, à limpeza da pastagem, aos fertilizantes e à sobressemeadura.
No Rio Grande Sul cerca de 60 % das pastagens são nativas, evidenciando algumas peculiaridades, como baixa produtividade de forragem, tecnologias de manejo, carga animal e retorno econômico, com a presença de algumas áreas degradadas, outras que serão transformadas em lavoura com monocultivo ou pastagens artificiais.
Os campos, no estado, são subdivididos em: a) campos de altitude, localizados no alto da serra de Vacaria, proporcionando um pastejo durante seis meses (setembro a fevereiro), altitudes superiores a 700 metros, alta capacidade de suporte e qualidade forrageira com menor variabilidade de espécies forrageiras; b) campos mistos, que se localizam próximos a São Gabriel e ofertam forragem de qualidade durante oito meses (setembro a abril); e c) campos finos, que são pertencentes às condições de Uruguaiana, e possibilitam até 11 meses (agosto a junho) de oferta de forragem. Apresentam geralmente baixa oferta de forragem; dossel uniforme, com plantas que revelam folhas novas ao longo do período de pastejo; rebrote ativo e intenso – quando submetido a altas lotações o rebrote apresenta-se lento e a lucratividade depende da produtividade de forragem; oferta de alimentos que atendam às necessidades dos animais.
SISTEMAS NATURAIS x SISTEMAS MANEJADOS
Os sistemas naturais apresentam-se dependentes das condições climáticas para a produtividade da espécie forrageira (primária) e produtividade secundária (animais), que pode ser influenciada pela migração dos animais para as áreas com melhor oferta de forragem. Os sistemas manejados apresentam produção primária (plantas forrageiras) influenciada pela produção secundária (animais), isto ocorre devido à ausência de equilíbrio entre a oferta forrageira e o desempenho animal, resultando em uma maior pressão de pastejo, ausência de migração, maior degradação do sistema pastoril, oscilação no número de animais devido à sazonalidade climática e à seletividade dos animais.
REFERÊNCIAS
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CARVALHO, I. R.; NARDINO, M.; SOUZA, V. Q. Melhoramento e cultivo da soja. Porto Alegre: Cidadela, 2017. v. 100. 366p.