A hibridação artificial é dependente de diversos fatores, principalmente daqueles ligados às condições do ambiente de cultivo em que as plantas estão inseridas, sendo que os melhores períodos para realizar os cruzamentos no verão encontram-se entre as 10 e as 12 horas da manhã, quando as temperaturas podem chegar a 38,5 °C e a umidade relativa a 34%. Nas condições do Rio Grande do Sul, os melhores períodos do dia para realizar os cruzamentos e ainda obter sementes F1s viáveis foram expressos entre as 9 e as 15 horas, com 48,84% e 25,58% dos cruzamentos viáveis, respectivamente. Diante desses resultados, analisou-se a proporção do número de sementes F1s formadas nos legumes cruzados. Assim, 41,51% dos cruzamentos obtiveram legumes com apenas uma semente, 32,56% com duas sementes, 16,28% com três sementes, mas apenas 4,65% dos legumes continham quatro sementes F1s viáveis.
Os resultados definem a dificuldade em obter cruzamentos viáveis, mas os mais significativos obstáculos são evidenciados com relação ao número de sementes formadas por legumes oriundos da hibridação. A correlação fenotípica entre a hora de realização do cruzamento e o número de sementes F1s obtidas (r = -0,319*) apresentou-se significativa, com 5% de probabilidade pelo teste t, e ainda expressa associação intermediária e negativa; biologicamente, indica que ao passar das horas do dia, mais frequentemente no período da tarde, os cruzamentos realizados reduzem o número de sementes por legume, devido às dificuldades de fertilização eficiente dos óvulos no ovário do estigma.
Nesse contexto, foi evidenciado o comportamento distinto das viabilidades dos cruzamentos quando estes foram realizados entre genitores contrastantes para os hábitos de crescimento (HC), sendo estes resultados embasados na hora de realização do cruzamento e no número de sementes por cruzamento. Diante disso, nota-se a menor dissimilaridade entre os cruzamentos quando se utiliza o genitor feminino com HC determinado (D) cruzado com um genitor masculino com HC indeterminado (I); da mesma forma, o genitor feminino com HC indeterminado (I) cruzado com um genitor masculino com HC semideterminado (SD). Outras diferenciações foram expressas ao utilizar um genitor feminino cruzado com um masculino de modo que ambos têm HC indeterminado, relacionado à combinação do genitor feminino com HC semideterminado (SD) cruzado com um genitor masculino com HC indeterminado (I).
As hibridações realizadas com sucesso originam legumes e grãos F1s, que poderão ser semeados em ambiente protegido ou em campo, este direcionamento é dependente das condições disponíveis, do número de sementes F1s, e do risco assumido pelo melhorista, onde qualquer ação errônea pode culminar em perdas de indivíduos promissores para o programa de melhoramento. A semeadura da geração F1s deve ocorrer de forma espaçada, e as plantas devem desfrutar das melhores técnicas nutricionais, fitossanitárias e hídricas. Desta maneira, plantas submetidas a condições de cultivo ideais, com menores efeitos da competição intra e interespecífica tendem a expressar seu máximo potencial. Esse comportamento em plantas F1s é desejável devido à maior produção de flores, legumes e, consequentemente, sementes, que potencializarão o tamanho da população F2 subsequente.
Após o cultivo das plantas F1s e a obtenção das sementes da geração F2, os ensaios são definitivamente direcionados a campo, onde cada planta antes considerada F1s é responsável por gerar uma população F2, que será cultivada no sistema de plantas espaçadas com intuito de maximizar a produção de sementes por planta. Conjuntamente ao cultivo destas populações, adiciona-se os respectivos genitores e as testemunhas comerciais, com a finalidade de avaliar possíveis autofecundações ocorridas no momento da hibridação, e também evidenciar os comportamentos fenotípicos das populações segregantes em relação aos seus genitores.
A organização em campo das populações F2 dos genitores e testemunhas comerciais é de extrema responsabilidade do melhorista responsável pelo programa de melhoramento, no entanto, preconiza-se distribuir as populações F2 de forma a intercalá-las com os genitores. Primeiramente utiliza-se o genitor feminino (GF), após emprega-se a população F2 e, posteriormente, o genitor masculino (GM); esse procedimento deve ser procedido de forma padrão para todas as populações F2. Dentre as vantagens dessa organização, podem ser citadas o grande número de linhas de bordadura, que minimiza as influências do ambiente, a possibilidade de verificar mais facilmente os eventos de autofecundação e a presença de segregação, pois de maneira prática evidencia-se um efeito comparativo entre os genitores e as progênies.
Busca-se a obtenção de grandes populações F2 para que seja possível a expressão da máxima variação genética decorrente dos efeitos da recombinação gênica entre as constituições genéticas dos genitores utilizados. Populações com maior número de indivíduos possibilitam a formação de maior número de classes fenotípicas para o caráter de interesse, e assim, probabilidades superiores de obter famílias transgressivas, e que atendam ao interesse agronômico e ao ideótipo da soja. Nesse contexto, busca-se obter a maior magnitude de famílias F3 superiores e oriundas de cada população F2; com isso, as chances de identificar genótipos com elevado potencial serão maiores.
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