Na sessão anterior (disponível em: https://elevagro.com/materiais-didaticos/por-que-avaliar-a-qualidade-do-solo/) foi discutida a definição de qualidade do solo e a importância da sua avaliação. Nessa sessão será abordado algumas questões que tornam essa avaliação ainda mais relevante.
Processos de degradação
O solo é um ambiente complexo, constituído de uma mistura de componentes vivos e não vivos que variam no espaço e no tempo (BURNS et al., 2006). O solo, por estar exposto às variações do meio, sofre uma série de perturbações que resultam em processos de degradação, como pode ser observado na Tabela 1. Esse cenário pode ser originado a partir da intensificação do uso do solo.
Tabela 1. Perturbações e processos de degradação do solo.
Como avançar?
Como se sabe, o rápido crescimento demográfico demandou aumento na produção mundial de alimentos. No entanto, um efeito indireto desse processo foi a perda de matéria orgânica e a diminuição da biodiversidade do solo devido a intensificação do uso das terras agrícolas. Aliado a isso, por muito tempo, as análises de solo eram direcionadas somente para a avaliação dos teores dos nutrientes, com o único objetivo de obter uma recomendação para o manejo químico do solo. Nessa perspectiva, acreditava-se que as demandas nutricionais das plantas para atingirem altas produtividades seriam atendidas somente com a aplicação de fertilizantes químicos, conforme as recomendações obtidas para cada análise de solo.
Contudo, esse cenário pode resultar nas perturbações e nos processos de degradação, como demonstrado na Tabela 1. Por isso, se faz necessário uma visão holística do sistema solo, onde as avaliações das propriedades físicas e biológicas também devem ser consideradas para que o aumento da produtividade das culturas esteja aliado à preservação do solo. Nesse sentido, podemos considerar que ao analisar as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, estaremos avaliando a qualidade do solo em sua totalidade (SIMON et al., 2022).
Uma prática que está relacionada à construção da fertilidade do solo e com a manutenção da qualidade do solo é a utilização de plantas de cobertura. Por exemplo, a utilização de plantas de cobertura, principalmente no período da entressafra (soja-trigo), pode ser uma saída para trazer melhorias ao sistema e minimizar os processos de degradação. A inclusão de plantas de cobertura auxilia na diversificação de resíduos vegetais retornados ao solo, na exploração do solo pelas raízes que resultaram em melhorias nas propriedades físicas, como melhorias na estrutura e menor densidade, por exemplo, e biológicas através da ativação da microbiota do solo devido à maior disponibilidade e diversidade de substrato.
REFERÊNCIAS
BURNS, Richard G et al. Defining soil quality. In: BLOEM, Jaap; HOPKINS, David W; BENEDETTI, Anna (org.). Microbiological Methods for Assessing Soil Quality. [S. l.]: CABI Publishing, 2006. p. 15–22. E-book.
SAHA, Niharendu; MANDAL, Biswapati. Soil health – A precondition for crop production. In: MICROBIAL STRATEGIES FOR CROP IMPROVEMENT. [S. l.]: Springer-Verlag Berlin Heidelberg, 2009. p. 161–184. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-642-01979-1_8/COVER/. Acesso em: 5 jul. 2022.
SIMON, Carla da Penha et al. Soil quality literature in Brazil: A systematic review. Revista Brasileira de Ciência do Solo, [s. l.], v. 46, p. e0210103, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.36783/18069657RBCS20210103
Lisiane Sobucki, Engenheira Agrônoma, Me. em Ciência do Solo.
Rodrigo Ferraz Ramos, Engenheiro Agrônomo, Me. em Ciência do Sol