No Sul do Brasil, pesquisadores do Instituto Phytus diagnosticaram a ocorrência de virose em lavouras de aveia branca no início do desenvolvimento. As análises indicaram se tratar da virose do mosaico do trigo, em função da presença do fungo Polymyxa graminis nos tecidos da aveia (Figura 1).
Na figura acima podem ser observados esporos do fungo no interior das células da aveia. Por se tratar de um fungo biotrófico, ele precisa da célula viva da planta para sobreviver, e nesse caso, os danos não são oriundos da sua presença nos tecidos, mas sim do vírus que ele transmite.
As áreas relatadas com sintomas ficam localizadas em municípios do Rio Grande do Sul, na região central, todas semeadas no final do mês de maio com a cultivar Taura (Figura 2). São áreas tradicionais de cultivos sucessivos de soja e gramíneas de inverno (trigo e aveia), com ausência de rotação de culturas e presença de solos compactados, o que favorecem a ocorrência desse tipo de doença. Após a emergência da aveia ocorreu um elevado volume de chuvas, e a partir disso, as temperaturas foram bastante frias, inclusive com ocorrência de geadas.
Primeiramente, os sintomas podem ser confundidos com a virose do nanismo amarelo da cevada (BYDV), com ampla ocorrência na cultura da aveia. No entanto, essa virose é transmitida por afídeos, como por exemplo, o Rhopalosiphum padi, considerado atualmente a espécie mais importante na aveia, como praga direta e como transmissor da virose.
Tais sintomas não estavam correlacionados com a virose do nanismo amarelo da cevada, devido aos motivos relacionados abaixo:
- Não existia ataque de pulgões na cultura;
- Os sintomas estavam distribuídos em pequenas reboleiras na lavoura, não comum para virose transmitida por afídeos;
- As reboleiras não aumentaram de tamanho, ou seja, estava ligada a um transmissor localmente distribuído e pouco móvel.
Desenvolvimento da doença
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O inóculo inicial é o fungo Polymyxa graminis que é considerado um parasita obrigatório de raízes de gramíneas. O fungo pode persistir por longos períodos em raízes em decomposição, ou no solo através de estruturas de resistência ou de descanso. A transmissão do vírus ocorre pela colonização dos pêlos radiculares de plantas através dos zoósporos do fungo. Os zoósporos no solo requerem umidade elevada para sua locomoção até as raízes, sendo que as infecções são mais evidentes após períodos chuvosos e em áreas compactadas que prejudicam a infiltração de água.
O fungo pode se desenvolver internamente nos tecidos da aveia, pois precisa de células vivas para se desenvolver. Internamente na planta, irá desenvolver esporos de resistência, em aglomerados chamados de cistosoros. Plantas infectadas servem de reservatório de multiplicação, tanto do fungo como do vírus, e servem como fonte de inóculo para a safra seguinte.
Sob condições favoráveis, os sintomas comumente se manifestam já nas fases iniciais de desenvolvimento da aveia, com plantas bastante jovens. Geralmente períodos com temperaturas mais baixas, associados a alta umidade do solo, são favoráveis a transmissão do vírus e manifestação dos sintomas. Em lavouras, os sintomas ocorrem normalmente em reboleiras ou faixas (Figura 3). A severidade dos sintomas pode variar conforme a estreita relação entre a estirpe do vírus, cultivar, idade das plantas e condições ambientais. As plantas apresentam uma coloração amarela nas folhas, tem seu desenvolvimento interrompido, e posteriormente podem ser levadas à morte.
Estratégias de Manejo
O longo período de sobrevivência do vetor no solo e a ampla gama de plantas hospedeiras dificultam o controle da virose. Após o aparecimento dos sintomas não há muito o que ser feito. Pesquisadores afirmam que elevar a adubação nitrogenada pode estimular o trigo a se desenvolver mais rapidamente e responder melhor ao ataque do vírus. Não existem produtos químicos registrados para o controle do fungo transmissor da virose, assim como do vírus.
O manejo eficiente da virose em áreas com presença do vetor deverá ser com medidas preventivas, utilizando as seguintes estratégias:
- Manejo da compactação do solo para melhorar a infiltração de água;
- Utilizar cultivares resistentes ou tolerantes;
- Rotação de culturas com espécies não-hospedeiras;
- Adubação verde com plantas de cobertura para favorecer a diversificação da microbiota do solo, criando supressão biológica;
Há relatos que o tratamento de sementes com fungicidas pode contribuir para redução do ataque do vetor às raízes, mas não garante ausência da doença. Além disso, é fundamental a preocupação com medidas que visam evitar a disseminação do vetor de áreas atacadas para áreas não infestadas, principalmente através da lavagem de plantadeiras e maquinários que transitaram na área.