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O manejo de plantas daninhas infestantes envolve a associação de diversas práticas de manejo que visam reduzir a infestação e multiplicação nas áreas agrícolas, reduzindo a competição e interferência na cultura de interesse econômico. O controle químico é a principal estratégia utilizada, em função da praticidade e rápida resposta em controle, porém vem perdendo eficácia ao longo do tempo pela seleção de plantas resistentes e tolerantes a alguns mecanismos de ação, dificultando ainda mais o manejo. Diante do cenário atual, tem-se a necessidade da integração com as demais estratégias de manejo, dentre as quais está a adoção de plantas de cobertura com objetivo principal de “pousio zero”, ou seja, após a safra ou safrinha não deixar a lavoura sem a presença de cobertura vegetal, reduzindo a germinação e multiplicação das plantas daninhas na entressafra.
A utilização de plantas de cobertura nos diferentes sistemas de produção, além dos benefícios a fertilidade do solo, redução de erosão e ao sistema como um todo, é uma excelente estratégia no manejo das plantas daninhas. A germinação das plantas daninhas é dependente da interação de fatores como temperatura, umidade e luz (presença ou ausência), variando de acordo com a espécie. As plantas de cobertura formam uma barreira física reduzindo a quantidade de luz que incide sobre o solo e a amplitude térmica, influenciando negativamente na germinação das plantas daninhas que necessitam de luz para iniciar o processo de germinação (fotoblásticas positivas), as quais podem ser observadas na tabela 1.
Tabela 1. Descrição da característica de germinação em resposta a exposição à luz para algumas espécies de plantas invasoras.
A cultura implantada ou a palha sobre o solo exercem efeitos diretos a curto e médio prazo na supressão do fluxo de emergência do banco de sementes das plantas daninhas que necessitam de luz para a germinação, além de efeitos indiretos como supressão biológica sobre o banco de sementes (fotoblásticas positivas, negativas e neutras), reduzindo a longevidade e viabilidade dos propágulos presentes no solo. Com o atraso na emergência das plantas daninhas a cultura de interesse econômico tem uma vantagem competitiva, ou seja, “frente competitiva”, emergindo e desenvolvendo sem interferência e competição inicial com a cultura.
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Alguns exemplos de plantas daninhas de difícil controle como a Buva (Conyza spp.), presente em quase todo o território nacional e com confirmação de resistência a alguns herbicidas como o glifosato, e a Vassourinha-de-botão (Spermacoce spp.) planta tolerante ao glifosato e de difícil controle com os demais mecanismos de ação disponíveis quando fora de estádio, são exemplos práticos de sucesso no controle com a utilização de plantas de cobertura, reduzindo a germinação, infestação e facilitando o manejo integrado com as demais estratégias.
Figura 2. Lavoura de soja implantada sobre palha de braquiária mal estabelecida, com presença de plantas daninhas. (Foto: Renan Teston).
A escolha da planta de cobertura (espécie) a ser implantada visando controle de plantas daninhas deve levar em consideração alguns fatores, dentre eles o rápido crescimento inicial, boa produção de massa seca, produção de substancias alelopáticas, uniformidade na cobertura do solo, decomposição lenta dos resíduos culturais (relação C/N maior) com isso se tem um maior tempo de cobertura do solo, além de custo de implantação e demais benefícios ao sistema.
O rápido crescimento é desejado para que a cobertura se estabeleça antes da germinação das plantas infestantes e bloqueie a incidência de luz sobre o solo, e a alta produção de massa seca associado a maior relação C/N faz com que a cobertura do solo seja mais uniforme e espeça, além de permanecer por mais tempo sobre o solo retardando o fluxo de emergência das plantas invasoras.
Dentre as espécies de cobertura cultivadas atualmente temos algumas que atendem melhor aos requisitos para manejo de plantas daninhas, dentre elas a Aveia-Preta (Avena sativa), Centeio (Secale cereale) e a associação de diferentes espécies (mix de coberturas) para regiões de clima ameno e frio, e para regiões de cerrado principalmente as gramíneas como as Braquiárias (Brachiaria spp.), Mombaça (Panicum maximum), Milheto (Pennisetum glaucum) e Capim-Sudão (Sorghum sudanense).
É importante que sejam respeitadas as recomendações de plantio para cada cultura de cobertura a fim de obter máxima performance em produção de biomassa e supressão sobre as plantas daninhas.
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