Neste material vamos abordar:
- A doença;
- Epidemiologia;
- Sintomatologia;
- Controle.
O Brasil é o segundo maior produtor e exportador de mamão. O País contribui com cerca de 13% da produção mundial, o que equivale a uma produção de aproximadamente 1,6 milhões de toneladas da fruta (PADUÁ, 2019). Alguns estados se destacam como importantes produtores, entre eles a Bahia, o Espírito Santo, o Ceará e o Rio Grande do Norte.
A doença
A varíola ou pinta-preta, causada pelo fungo Asperisporium caricae, é conhecida como a principal doença da cultura do mamoeiro. A ocorrência desse patógeno afeta principalmente frutos e folhas da cultura. Os danos provocados pela ocorrência de pinta-preta em folhas afetam diretamente a superfície fotossintética ativa (VIVAS et al., 2015). Além disso, a ocorrência dessa doença provoca o amarelecimento e a queda prematura das folhas, retardamento no crescimento e o consequente definhamento da planta (FARIA et al., 2009). As lesões nos frutos prejudicam a sua comercialização e a exportação de frutos in natura, devido a aparência. Entretanto esses danos ficam limitados a superfície dos frutos. Assim, não causa muitos prejuízos se comparado a outras podridões, como a antracnose (FARIA et al., 2009).
Epidemiologia
A pinta-preta ocorre com maior intensidade em locais com temperatura ao redor de 25°C, ventos fortes, chuvas e alta umidade relativa do, condições que favorecem o desenvolvimento das lesões e a dispersão dos esporos (conídios) das folhas mais velhas para as mais novas e frutos. O patógeno é considerado um parasita obrigatório, que depende de hospedeiro vivo para infectar, se desenvolver e reproduzir, completando o seu ciclo de vida (Figura 1). Por se tratar de um parasita obrigatório, a sobrevivência e a viabilidade de conídios A. caricae em folhas, frutos presos à planta ou restos de cultura devem ser considerados como atributos epidemiológicos, pois representam o inóculo inicial para desencadear e aumentar a epidemia da doença. Embora se saiba que sua germinação ocorre através dos conídios, ainda não se tem conhecimento da forma de sobrevivência desse fungo em restos de cultura (folhas caídas no chão) (LIMA et al., 2012).
A disseminação do fungo ocorre a curtas distâncias, e é através de respingos de chuva ou água de irrigação e, a longas distâncias, pelo vento (REZENDE; MARTINS, 2005).
Sintomatologia
A correta identificação da doença através dos sintomas é fundamental para a realização do manejo. Faria et al. (2009) destacam que na parte inferior da folha, surgem pequenas lesões circulares, levemente angulosas, com esporos escuros do fungo (Figura 2) e, na parte superior, lesões arredondadas, pardo-claras, cercadas por halo amarelo (Figura 3). Lima et al. (2012) descrevem que os sintomas mais evidentes ocorrem na página inferior das folhas pela formação de pústulas negras que refletem como um amarelecimento na região correspondente da página superior das folhas, seguido de lesões necróticas arredondadas de coloração cinza clara sobre a folha (Figura 4).
Vivas et al., (2015) descreveu os sintomas nos frutos, observando inicialmente o aparecimento de áreas circulares encharcadas, que evoluem para pústulas marrons e salientes, causando o endurecimento da casca, na parte afetada (Figura 5). Nos frutos, inicialmente ocorrem manchas aquosas que, com a evolução da doença, tornam-se escuras e, por vezes, coalescem tomando grande parte da superfície (Lima et al., 2012).
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Controle químico
O controle químico com fungicida representa uma estratégia importante dentro do manejo integrado da pinta-preta. O monitoramento da doença no campo, como base para a tomada de decisão sobre o uso de fungicidas tem se mostrado uma ferramenta efetiva (OLIVEIRA et al., 2009; SANTOS FILHO et al., 2009, 2007). Baseados na incidência da doença em folhas e frutos, Santos Filho et al. (2009, 2007) e Martins et al. (2012) demonstraram que as aplicações de fungicidas foram reduzidas quando comparadas ao sistema de “calendário”. Os fungicidas recomendados para a doença são a base de oxicloreto de cobre, mancozebe, clorotalonil, estrobilurinas e triazóis. As pulverizações com fungicidas à base de cobre devem começar quando a lesão inicial ainda está com a coloração pardacenta (FILHO et al., 2013).
Controle biológico
Novas alternativas de controle são pesquisadas. A utilização de fungos hiperparasitas também pode ser uma importante alternativa de controle da doença na cultura. Vivas (2014) em testes com isolados observou que todos os isolados testados dos quatro gêneros Hansfordia, Acremonium, Lecanicillium e Simplicillium, foram capazes de hiperparasitar lesões de pinta-preta, com destaque para os isolados pertencentes a Hansfordia pulvinata, os quais foram os mais eficientes no controle da doença, tendo a possibilidade de utilização no campo. Vale ressaltar que o ambiente, especialmente a temperatura, apresenta efeito negativo no parasitismo. Durante estudo Vivas et al., (2020) estudou o comportamento de produtos associados à utilização de fungos hiperparasitas. Os pesquisadores evidenciaram que alguns produtos apresentaram compatibilidade com os isolados dos fungos testados, podendo ser utilizados em conjunto com os isolados de Acremonium spp. e Hansfordia pulvinata para controlar a pinta-preta do mamoeiro.
Controle cultural
Cuidados culturais também devem ser levados em considerações, como escolha de mudas saudáveis, cuidados na irrigação, monitoramento e retirada de restos culturais, folhas e frutos infectados pelo patógeno. Caso o plantio seja em pequena área, para consumo próprio, recomenda-se monitorar a planta periodicamente, arrancando as primeiras folhas contaminadas de baixo para cima. As folhas devem ser arrancadas das plantas, colocadas em sacos plásticos e levadas para fora da área (FILHO et al., 2013). Como os conídios podem ser disseminados pelo vento ou por água da chuva ou de irrigação, sua redução dentro do plantio, através dos métodos culturais, torna-se uma estratégia importante para a diminuição da doença no campo.
Referências
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LIMA, F.A. et al. Aprimoramento da germinação e avaliação da viabilidade de Asperisporium caricae, extraídos de folhas de mamoeiro como fonte de inóculo – Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2012. 22p.
MARTINS, M.V.V. et al. Manejo Integrado da Pinta-Preta do Mamoeiro no Ceará. Fortaleza : Embrapa Agroindústria Tropical, 2012. 27p.
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VIVAS, J. M. S. Identificação e caracterização de fungos hiperparasitas de Asperisporium caricae. Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. 2014, 68f.
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