O webinar Perspectivas da safra de inverno teve como principal tema as expectativas para a safra de inverno de 2022 e o andamento da safra de verão, e contou com a participação da Dr.ª Mônica Debortoli, diretora técnica sul do Instituto Phytus; da Eng. Agrônoma Fernanda Falcão, produtora rural e gerente técnica da Sementes Falcão; e da Dr.ª Vladirene Macedo Vieira, que atua na Embrapa Trigo na área de Produção de Sementes.
Veja a seguir os principais pontos abordados durante a conversa:
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Estiagem e seus efeitos sobre a safra de verão
Salvo algumas localidades em que a quantidade de chuva foi mais expressiva, a estiagem esteve presente na maioria das regiões do sul do Brasil. Na propriedade da produtora rural Fernanda Falcão, por exemplo, desde 1988, ano em que se iniciou o controle da quantidade de precipitação observada, nunca houve uma estiagem tão severa e prolongada como a registrada nessa safra.
Os efeitos sobre as culturas de verão são significativos, comprometendo tanto em quantidade como em qualidade os grãos de soja. O noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, principal região produtora de sementes, também foi fortemente afetado pela estiagem, ficando um alerta sobre a qualidade e a quantidade de sementes produzidas e disponíveis para a próxima safra de verão.
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Previsões climáticas para a safra de inverno
Para a safra de inverno, as projeções meteorológicas indicam que o fenômeno La Niña vai persistir até o outono, quando então passamos para um ano neutro, em que não temos influência nem de La Niña e nem de El Niño, trazendo esperança para uma safra de inverno melhor, ainda que seu início possa ser ainda um pouco prejudicado.
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Safra de inverno: planejamento e expectativas para o mercado e preço do trigo
A etapa de planejamento é extremamente relevante para o sucesso da atividade agrícola e deve estender-se à propriedade como um todo, e não somente a uma cultura específica ou safra.
O planejamento da safra de inverno já está acontecendo em muitas propriedades e a grande pergunta a ser feita é: qual o nível tecnológico que será empregado nas lavouras de trigo? Essa pergunta justifica-se pelos prejuízos que os produtores já sofreram com a estiagem, que reduziu em muito a safra de verão.
Nesse cenário, todos os investimentos e gastos passam a ser mais controlados para a otimização dos recursos, buscando a redução nos custos de produção sem o comprometimento do potencial produtivo, para se obter a maior produtividade ao menor custo possível.
Por outro lado, para o preço do trigo há grande expectativa de alta, o que estimula os produtores a aumentarem a área cultivada e embasa os números que vêm sendo lançados como expectativa de total de área semeada com trigo nesta safra.
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Importância do investimento na nutrição para o trigo
Vindo de uma safra de verão ruim, pode-se pensar em reduzir a adubação da cultura subsequente, com a justificativa de que esta pode aproveitar o fertilizante que ficou no solo da cultura anterior, como uma alternativa de minimizar as perdas obtidas. Será que é o melhor a ser feito?
O trigo é uma cultura extremamente dependente do investimento realizado na nutrição de base, sendo então a adubação um limitante do potencial produtivo. O pouco investimento pode também comprometer o desenvolvimento inicial do trigo, gerando desuniformidade na lavoura, que gera maior dificuldade em manejos posteriores da cultura, como o controle da giberela mais adiante no ciclo da cultura. De forma que é preciso olhar para a safra de inverno como uma nova oportunidade de produzir bem e gerar renda para minimizar os impactos da safra de verão malsucedida.
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Principais doenças que podem ocorrer na cultura do trigo
Como as previsões climáticas indicam uma ocorrência um pouco maior de chuvas após o outono, espera-se que a semeadura do trigo possa ser realizada dentro da época mais recomendada. Porém, com esta maior disponibilidade hídrica, espera-se que o oídio seja a doença que demande maior atenção na fase inicial, principalmente porque os materiais genéticos mais modernos são mais suscetíveis a essa doença, demandando fungicidas que apresentam maior residual.
Em áreas de trigo sobre trigo, a preocupação maior vai para a mancha-amarela, que pode se tornar o maior problema com doenças após o fechamento da entrelinha. Esse fechamento dificulta a penetração do produto, ou seja, a sua chegada onde a doença está iniciando, e gera um microclima favorável ao patógeno: maior molhamento foliar e temperaturas um pouco mais elevadas, fazendo com que a doença progrida e atinja a folha bandeira, causando danos. Outra doença que pode ter impactos negativos na próxima safra é a giberela, que também reduz a qualidade da produção em função das micotoxinas, e deve receber a devida atenção pelo produtor.
Autoria:
Dr.ª Mônica Debortoli;
Eng. Agrônoma Fernanda Falcão
Dr.ª Vladirene Macedo Vieira