O setor agrícola brasileiro vem ganhando cada vez mais relevância em âmbito global. Segundo dados da CONAB (2020) para a safra de grãos 2020/21, a expectativa é que sejam cultivados 66,8 milhões de hectares com culturas de grãos. O milho é uma das principais culturas agrícolas do país, ocupando uma área total de 18,48 milhões de hectares, com produção de 105 milhões de toneladas (CONAB, 2020). Ao longo do tempo, o cultivo do milho vem ganhando cada vez mais expressão na segunda safra.
Durante o ciclo da cultura, ocorre a associação de um complexo de pragas, como por exemplo, insetos, doenças e plantas daninhas, as quais podem comprometer a máxima expressão do potencial de produção. Os insetos-praga que atacam a cultura no início do ciclo têm uma grande relevância, pois podem afetar o estabelecimento de uma população adequada de plantas. Entre os insetos-praga que apresentam dificuldade de controle e causam danos econômicos relevantes à cultura do milho desde o início do seu ciclo de desenvolvimento destacam-se os percevejos Dichelops furcatus (Fabricius, 1775) e Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae).
Ambas as espécies são danosas à cultura, pois injetam toxinas no colo da planta durante sua alimentação. Por serem pragas iniciais, têm causado prejuízos econômicos significativos à cultura, seja na sua instalação, reduzindo o estande de plantas, com redução do porte, provocando o perfilhamento, causando a incidência de plantas dominadas e, em casos extremos de ataque, até mesmo a morte das plantas de milho.
O principal sintoma de injúria do percevejo barriga-verde é a formação do halo amarelo na circunferência do furo, causado pela injeção de toxinas pelo percevejo, no momento da alimentação (Figura 2).
O percevejo barriga-verde pode causar reduções expressivas de produtividade na cultura do milho, como observado no estudo de Fernandes et al. (2020). Nesse estudo, as infestações entre o estádio vegetativo V1 e V5 apresentaram o maior potencial de reduzir a produtividade de grãos, sendo que em V1 a produtividade foi reduzida em aproximadamente 50% (Figura 3).
Dessa forma, é importante que o produtor tenha um constante monitoramento das áreas de produção para evitar que esses prejuízos ocorram. Algumas das medidas importantes a serem tomadas pelo produtor para a eliminação dos percevejos são descritas a seguir.
Eliminar o abrigo dos percevejos
Eliminar plantas daninhas que servem de abrigo ao percevejo antes da instalação da cultura do milho, como por exemplo a trapoeraba, o capim carrapicho e o capim amargoso.
Monitorar a cultura antecessora
O controle efetivo do percevejo barriga-verde passa pelo monitoramento da praga na cultura antecessora ao milho. Na cultura da soja, as aplicações são realizadas com o intuito de reduzir a população de percevejos no início da cultura do milho. O monitoramento é realizado com pano de batida e o controle químico é realizado quando forem detectados um percevejo/m em áreas destinadas à produção de sementes e dois percevejos/m em áreas destinadas à produção de grãos.
Percevejos na palhada
Caso seja constatada população elevada de percevejos na palhada, poderá ser necessária a aplicação de inseticidas. Uma estratégia é a aplicação na semeadura da cultura do milho, intitulada de plante/aplique. De 30 minutos a quatro horas após a semeadura acontece uma grande movimentação dos percevejos na área, o que facilita a contaminação dos mesmos, pois aumenta assim o contato tarsal com o inseticida (GRIGOLLI et al., 2017).
Tratamento de sementes
A utilização do tratamento de sementes constitui mais uma ferramenta para apoiar o produtor no manejo dos percevejos. Para isso, é utilizado o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos (neonicotinoides), o que confere proteção às plantas na fase inicial de desenvolvimento.
Monitoramento no início da emergência do milho
Para evitar que os percevejos causem injúrias nos estádios iniciais da cultura, o monitoramento deve ser conduzido desde a emergência do milho. Quando for encontrado 1 percevejo vivo/10 plantas amostradas na linha da cultura e em sequência, deve-se fazer o controle com a utilização de inseticidas. No entanto, o monitoramento deve continuar e após cinco a sete dias, se for encontrando 1 percevejo vivo/10 plantas amostradas na linha em sequência, o controle com inseticidas novamente deve ser efetuado. O controle químico deve ser realizado com produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para fazer um controle químico adequado dos percevejos, sempre consulte um(a) Engenheiro(a) Agrônomo(a).
REFERÊNCIAS
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: safra 2020/21, Primeiro levantamento, outubro 2020. Disponível em: https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/33637_129c42101c77cfaa4125486252e92e52. Acesso em: 8 de out. 2020.
FERNANDES, P. H. R.; ÁVILA, C. J.; SILVA, I. F.; ZULIN, D. Damage by the green-belly stink bug to corn. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 55, e01131, 2020.
GRIGOLLI, J. F. J.; KUBOTA GRIGOLLI, M. M.; LOURENÇÃO, A. L. F.; GITTI, D. G. Estratégias de controle químico do percevejo barriga-verde Dichelops melacanthus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) no sistema de sucessão soja e milho safrinha. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 31., Bento Gonçalves, 2016. Anais… Bento Gonçalves, 2016, p. 1-4.
TORRES, A. B. A.; OLIVEIRA, N. C. de; OLIVEIRA NETO, A. M. de; GUERREIRO, J. C. Injúrias causadas pelo ataque dos percevejos marrom e barriga verde durante o desenvolvimento inicial do milho. Journal of Agricultural Science, v. 2, p. 169-177, 2013.