Para começar a falar de pecuária, precisamos voltar no tempo até a origem da domesticação de animais, um marco que se deu na era da revolução neolítica, entre 8.000 e 5.000 a.C.
Esse foi o período em que as primeiras plantas selvagens foram domesticadas, dando início a uma relação simbiótica entre plantas e animais. Os resíduos das plantas domesticadas serviram como alimento para os animais, que, por sua vez, foram domesticados e criados para diversos fins (Alves et al., 2020).
Desde então, a pecuária tem sido um pilar essencial na subsistência e evolução da humanidade. Hoje, essa atividade continua vital, com a produção global de carne atingindo a marca de 362 milhões de toneladas em 2022, segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization).
Neste conteúdo, vamos abordar o contexto da pecuária no Brasil, assim como os sistemas de pastagem, relação planta-animal e dinâmicas de pastejo. Não perca!
A pecuária no Brasil
No Brasil, a bovinocultura de corte se destaca, contribuindo com mais de 70 milhões de toneladas desse total. Com mais de 200 milhões de bovinos e vastas extensões de pastagem, cerca de 90% da produção brasileira de bovinos de corte ocorre em sistemas de pastejo extensivo. Essa prática reduz custos e possibilita uma produção mais sustentável (Malafaia et al., 2021).
Uma das maiores vantagens da produção de carne bovina brasileira está nas áreas disponíveis de pastagens. Apesar de os números de taxa de lotação nacionais não serem satisfatórios, vemos uma crescente oportunidade de melhorar esses números.
A crescente demanda do mercado pela carne brasileira e os custos de produção reduzidos, quando comparados aos sistemas de confinamento praticados fora do país, tornam nossa produção atrativa.
No pasto é mais barato
É importante evidenciar que os sistemas de confinamento não são melhores nem piores que os sistemas extensivos. A definição de quais sistemas se encaixam melhor às realidades produtivas deve ser estudada e moldada a partir das necessidades de cada sistema.
Contudo, é importante ressaltar que a vantagem na redução dos custos e a sustentabilidade de produção dos sistemas de pastagem é um verdadeiro recurso a ser compreendido e valorizado no país. Para bons resultados, as pastagens devem ser tratadas como culturas e manejadas corretamente, visando produzir grandes quantidades de matéria seca digestível por área.
Um bom sistema de pastagem visa fornecer diariamente forragem de alta qualidade aos animais, atendendo suas necessidades nutricionais de maneira econômica. Para isso, ajustes na disponibilidade de forragem e nas exigências nutricionais do rebanho podem (e devem) ser realizados.
Relação planta-animal
Para garantir o bem-estar e a produtividade dos bovinos criados a pasto, é essencial oferecer uma série de recursos e estímulos. A ausência ou baixa disponibilidade desses recursos pode impactar diretamente os animais. Entre os fatores mais importantes estão a oferta e a distribuição de alimentos, como forragens, água e suplementos, além de sombreamento para minimizar os impactos do estresse térmico.
Esses recursos devem ser fornecidos de forma a atender às necessidades de todos os animais, garantindo um ambiente social equilibrado.
Também é importante compreender os mecanismos por trás da distribuição dos animais no pasto. Por exemplo, é necessário entender por que ocorre sobrepastejo em algumas áreas e subpastejo em outras, para desenvolver práticas de manejo efetivas. Além da oferta e distribuição de forragens, a topografia, distância da água e vegetação (árvores e arbustos) também influenciam a distribuição dos rebanhos nas pastagens.
Dessa maneira, para garantir o bom desempenho dos animais, não basta apenas monitorar números, mas também entender a relação entre a planta e o animal. E a estrutura da pastagem desempenha um papel fundamental nesse processo. Imagine a pastagem como um buffet para os animais, onde a forma como as plantas crescem e se distribuem influencia diretamente na qualidade e quantidade da dieta disponível.
Dinâmica de pastejo
A dinâmica entre os animais e o pasto é um complexo processo evolutivo, onde os animais desenvolveram ao longo do tempo estratégias de pastejo para se adaptarem às variações na estrutura da pastagem. Essas estratégias incluem um verdadeiro aparato comportamental para selecionar e consumir alimentos de forma eficiente, refletindo não apenas as preferências individuais de cada espécie, mas também sua adaptação aos recursos disponíveis no ambiente.
Nesse sentido, a relação entre a planta e o animal é verdadeiramente simbiótica, onde ambos se beneficiam dos serviços ecossistêmicos proporcionados um pelo outro. As plantas fornecem alimento e habitat para os animais, enquanto estes auxiliam na dispersão de sementes, na ciclagem de nutrientes e na manutenção da estrutura da vegetação.
Compreender essa dinâmica é importante não apenas para garantir o bem-estar e o pleno desenvolvimento dos animais, mas também para promover a sustentabilidade e a produtividade dos sistemas de pastagem. A qualidade da forragem desempenha um papel fundamental nisso, podendo tanto limitar quanto aumentar o consumo dos animais, a digestibilidade, a oferta de nutrientes e a eficiência de utilização.
Essa interação íntima entre os animais e o pasto não apenas influencia diretamente a produção animal e vegetal, mas também tem importantes implicações para a conservação da biodiversidade, a saúde do solo e a resiliência dos ecossistemas.
Portanto, ao entender e manejar adequadamente essa dinâmica, podemos promover não apenas a produtividade econômica, mas também a sustentabilidade ambiental dos sistemas de pastagem.
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Referências
ALVES, R. B. et al. Uma breve história da origem da agropecuária no mundo sob o ponto de vista do GEHÆ1. Novos desafios da pesquisa em nutrição e produção animal, 2020.
CARVALHO, PC de F. et al. Importância da estrutura da pastagem na ingestão e seleção de dietas pelo animal em pastejo. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 2001, p. 871, 2001.
FAO, Food and Agriculture Organization. Crops and livestock products – FAOSTAT, 2022.
GIACOMET, M.F. et al. Análise dos custos de gado de corte no sistema extensivo em pastagem e campo, para maximizar o lucro. PUBVET, Londrina, V. 7, N. 11, Ed. 234, Art. 1542, Junho, 2013.
MALAFAIA, G. C. et al. Cadeia produtiva da carne bovina: contexto e desafios futuros. 2021.
MALAFAIA, G. C. BISCOLA, PHN. Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina-2023. 2023.