O míldio na soja é causado pelo oomiceto Peronospora manshurica. Nas últimas safras, tem sido recorrente relatos da ocorrência de elevadas severidades em algumas regiões, principalmente do Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul, o que cria um risco para perdas produtivas e possível necessidade de ajustes no programa fungicida para o controle da doença.
Triângulo para a ocorrência da doença
Casos de elevada severidade tem sido associado a condições de clima chuvoso, intenso molhamento foliar e temperaturas amenas à noite e pela manhã (17 a 22 °C) e calor a tarde. O míldio pode ocorrer em qualquer estágio de desenvolvimento da soja, porém, quando incide ainda cedo nos estágios vegetativos, o risco de dano é maior. Existe variação na suscetibilidade das cultivares e isso se reflete a campo na variação na severidade entre os diferentes materiais.
Desenvolvimento da doença e danos?
O inóculo inicial pode ser oriundo de sementes contaminadas, de esporos vindos de fora da área pelo ar, de esporos produzidos na área em plantas voluntárias ou de oósporos de resistência sobreviventes na área. Após o surgimento das primeiras lesões, haverá produção de esporos e a dispersão desses poderá dar origem a ciclos secundários, caracterizando essa doença como policíclica. O período de tempo entre a infecção e a produção de esporos (período latente) fica em torno de 7 a 10 dias.
As infecções são mais eficientes em folhas jovens, o que torna frequente a ocorrência de lesões nas folhas mais do topo da planta. A medida que as folhas vão envelhecendo, naturalmente vão se tornando mais resistentes ao ataque de míldio.
Em cultivares suscetíveis, elevada severidade da doença pode induzir perdas de área foliar, o que afeta a eficiência fotossintética, podendo causar queda antecipada de folhas. Existe uma dificuldade de quantificar o potencial de dano para míldio devido a ocorrência simultânea a outras doenças no campo. Porém acredita-se que perdas de até 10% na produtividade possam ocorrer em situações de ataques precoces e severos.
Sintomatologia
Os primeiros sintomas de míldio aparecem sobre a face superior das folhas na forma de pequenas pontuações de coloração amarelada. Na face abaxial (de baixo) das folhas surgem as estruturas de frutificação do fungo, de aspecto cotonoso e coloração clara. A medida que a doença evolui, as lesões se tornam maiores, formando lesões amareladas de tamanho maior sobre a superfície das folhas. Essas lesões poderão coalescer e posteriormente formar áreas de tecidos necrosados.
Sintomas iniciais de míldio caracterizado por pontuações amareladas na superfície das folhas de soja.
Detalhe das estruturas de frutificação do míldio na face inferior das folhas.
Evolução da doença
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Área adaxial da folha
Área abaxial da folha
Evolução da doença e crescimento das lesões.
Situações de elevada severidade, lesões coalescendo e formando áreas de tecidos necrosados.
Alternativas para controle do míldio?
Após a soja estabelecida, o uso de fungicidas e a associação de fosfitos ao manejo são opções que poderão ser usadas visando controle de míldio. Quanto aos fungicidas, o único produto com registro junto ao MAPA para controle de míldio na soja é o clorotalonil. Com base em relatos de produtores, o uso de clorotalonil contribuiu para frear a evolução da doença no campo na safra 2017/18. Em relação ao posicionamento, quanto mais inicial for, maior eficácia é esperada. Em áreas de risco e condições favoráveis, ou no máximo no surgimento dos primeiros sintomas, ajustes no programa fungicida poderão ser pensados para contemplar ação sobre míldio. O clorotalonil é um fungicida multissítio não-sistêmico na planta, e dessa forma, possui ação protetora sob tecidos sadios prevenindo a penetração do patógeno.
Associação de fosfitos junto aos fungicidas é uma prática que pode contribuir para o controle de míldio. Diversos trabalhos têm evidenciado que os fosfitos são boas opções no manejo de oomicetos em diversos cultivos. Uma boa vantagem dos fosfitos é que são compostos que são rapidamente absorvidos e possuem elevada mobilidade na planta, tanto ascendente quanto descendente. O mecanismo de ação dos fosfitos pode ser pela toxidade direta ao patógeno ou através da indução de resistência na planta.