Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
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O que é vermicompostagem
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Tipos de materiais orgânicos utilizados
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Papel das minhocas e microrganismos
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Tipos de minhocas utilizadas
O que é a vermicompostagem?
A vermicompostagem pode ser definida como um processo biotecnológico em que os resíduos orgânicos são convertidos em um material rico em nutrientes pela atividade conjunta de minhocas e microrganismos. Ou seja, as minhocas e seus microrganismos associados atuam conjuntamente no processo de decomposição e estabilização da matéria orgânica.
A vermicompostagem ocorre sob condições controladas de temperatura e umidade, resultando em um produto estável, denominado de vermicomposto. Esse material é o resultado da transformação química, física e biológica do material orgânico vermicompostado. Após o processo, o vermicomposto produzido apresenta um aspecto semelhante à turfa (Figura 1), com baixa relação C/N (geralmente inferior a 20), alta capacidade de retenção de água e porosidade, além de conter diversos nutrientes em formas facilmente assimiláveis pelas plantas e com potencial de aplicação em cultivos agrícolas.
Figura 1. Vermicomposto produzido a partir da atividade das minhocas e seus microrganismos associados.
Qual é o papel das minhocas e dos microrganismos durante a vermicompostagem?
Durante a vermicompostagem, as minhocas possuem papel central, acelerando o processo de decomposição pela fragmentação dos resíduos e alteração da composição e da atividade da comunidade microbiana. Após a ingestão dos resíduos, as minhocas exercem uma atividade mecânica que resulta na fragmentação do material orgânico.
Os microrganismos presentes no vermicomposto são responsáveis pela degradação bioquímica da matéria orgânica através da produção de enzimas extracelulares. Durante a vermicompostagem ocorre uma modificação da comunidade microbiana, em que parte dos novos microrganismos presentes na comunidade foram inoculados pelas próprias minhocas.
Quais materiais orgânicos podem ser vermicompostados?
As minhocas dependem de um ambiente adequado para seu crescimento e reprodução. Assim, a qualidade e a natureza do material orgânico são condições que determinam a reprodução e o crescimento delas durante o processo de vermicompostagem. Diversos materiais orgânicos já foram testados como substrato para o desenvolvimento das minhocas, entre eles, esterco de animais (bovinos, suínos, aves, ovelhas, cavalos, elefantes, etc.), resíduos vegetais (bagaço de uva, folhas de bananeira, palha de trigo, palha de arroz, bagaço de cana, etc.), lodo de esgoto e outros resíduos agroindustriais. Em geral, os materiais orgânicos com teores de umidade próximos a 80%, pH entre 7,7 e 8,0 e baixos teores de metais pesados são favoráveis para o processo de vermicompostagem.
Os materiais orgânicos utilizados na vermicompostagem diferem na qualidade e influenciam diretamente na taxa de crescimento e reprodução das minhocas e na qualidade do vermicomposto. Assim, nem todos os materiais orgânicos são adequados para o crescimento das minhocas. Esterco de gado é considerado um excelente substrato orgânico. Já esterco de ovelha e dejetos suínos podem ser prejudiciais para o desenvolvimento das minhocas, caso utilizados como único substrato, pois podem conter altos níveis de metais pesados, relação C/N e pH inadequados para o desenvolvimento delas. Resíduos domésticos também podem ser utilizados, contudo deve-se evitar o uso de resíduos de frutas cítricas e excesso de resíduos de alimentos com temperos (sal, vinagre, etc.).
Quais minhocas utilizar?
As minhocas são consideradas engenheiras de ecossistema em muitos habitats, por fornecerem uma variedade de funções e serviços vitais, como construção de estruturas biogênicas (agregados e galerias) no solo, ingestão, fragmentação e transformação de resíduos vegetais, entre outras. A diversidade conhecida de minhocas terrestres é superior a sete mil espécies. Apesar de uma grande diversidade, a maioria das espécies não são adequadas para serem utilizadas na vermicompostagem.
Uma vez que a vermicompostagem objetiva realizar a conversão de um resíduo orgânico em um material estável e útil, e as condições do processo ocorrem em ambiente protegido e controlado, somente espécies adaptadas a essas condições apresentam sucesso de criação. Entre as características biológicas das minhocas desejadas para a vermicompostagem destaca-se:
a) capacidade de crescer e reproduzir-se em um ambiente rico em material orgânico e na ausência de solo;
b) alta capacidade de ingestão e fragmentação desses resíduos;
c) capacidade de reproduzir-se em cativeiro;
d) alta taxa de reprodução e
e) atingir rapidamente a fase adulta sexual. (ANJOS et al., 2015).
As minhocas epigeicas, as transformadoras da serapilheira, são o único grupo que possuem espécies que reúnem todas essas características.
No grupo das minhocas epigeicas, as espécies Eisenia fetida e E. andrei são as mais utilizadas na vermicompostagem. Em geral, as espécies E. fetida e E. andrei são consideradas modelos nos estudos sobre vermicompostagem, apresentando boa adaptação a substratos orgânicos de origem vegetal (resíduos de vassoura escocesa, bagaço de uva, resíduos florais, palha de arroz, folhas e caule de bananeira) e de origem animal (estercos de gado, elefante), além de resíduos agroindustriais como o lodo de esgoto. Contudo, além dessas espécies, há outras que podem ser utilizadas na vermicompostagem e que já foram testadas para diferentes resíduos orgânicos: Eudrilus eugeniae e Perionyx excavatus, por exemplo.
Referências:
ANJOS, J. L.; AQUINO, A. M.; SCHIEDECK, G. Minhocultura e vermicompostagem: interface com sistemas de produção, meio ambiente e agricultura de base familiar. Brasília, DF: Embrapa, 2015.
Autores:
Rodrigo Ferraz Ramos, Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciência do Solo
Lisiane Sobucki, Engenheira Agrônoma, Mestre em Ciência do Solo