Neste conteúdo você vai aprender sobre:
- Plantas daninhas e sua interferência na agricultura;
- Nematoides que podem estar associados a plantas daninhas;
- Quais plantas daninhas hospedam quais nematoides.
Plantas daninhas na agricultura
Plantas daninhas são aquelas que crescem de forma indesejada em determinada área e de alguma forma causam prejuízo para as atividades humanas desenvolvidas. Na agricultura, as plantas daninhas são reconhecidas por promover interferência no crescimento de culturas comerciais. Os principais mecanismos de interferência entre plantas daninhas e as culturas agrícolas são: competição, parasitismo e alopatia.
Em geral, as plantas daninhas interferem no crescimento e desenvolvimento das culturas agrícolas principalmente através da competição por recursos como água, luz e nutrientes. Além disso, estas espécies produzem grande número de sementes e/ou propágulos vegetativos, que podem ficar viáveis no ambiente por vários anos, garantindo disseminação e reinfestações futuras. Espécies de caruru (Amaranthus spp.) apresentam relatos de produção de mais de um milhão de sementes por uma única planta, enquanto plantas de tiririca (Cyperus sp.) são capazes de se multiplicar por sementes e partes vegetativas, facilitando ainda mais sua perpetuação em ambientes agrícolas (Tabela 1).
As plantas daninhas, de modo geral, apresentam um rápido crescimento inicial, ocupando espaço entre as culturas e competindo pelos recursos do meio. Essa disputa por espaço e nutrientes pode comprometer o crescimento inicial das culturas agrícolas e, consequentemente, reduzir seu desenvolvimento e produtividade em até 90 %, dependendo da espécie daninha e cultura afetada.
Os problemas da presença de plantas daninhas em lavouras
O manejo destas espécies é realizado basicamente de forma química, pela utilização de herbicidas. Entretanto, o uso repetido por vários anos de um ou poucos mecanismos de ação herbicida selecionou, em diversas espécies de plantas daninhas, a resistência a um ou mais herbicidas, dificultando o controle, aumentando os custos de manejo e reduzindo o potencial produtivo dos cultivos comerciais. Além disso, as plantas daninhas vêm ganhando importância pelos seus efeitos negativos indiretos, quando servem como hospedeiras alternativas de pragas e doenças de relevância aos cultivos agrícolas e florestais. Dentre os patógenos hospedados por plantas daninhas e de grande importância agrícola, destacam-se várias espécies de nematoides fitoparasistas, especialmente dos gêneros Meloidogyne sp. e Pratylenchus sp., conhecidos popularmente por nematoides-das-galhas e das lesões, respectivamente.
Plantas daninhas como hospedeiras de nematoides
A relevância das plantas daninhas hospedeiras de nematoides ocorre principalmente durante períodos em que as culturas comerciais não estão presentes, tornando-se as plantas daninhas fonte de alimento, permitindo a sobrevivência e reprodução desses fitoparasitas. Portanto, a densidade de nematoides em áreas agrícolas pode aumentar mesmo na ausência das culturas agrícolas, tornando-se fonte de inóculo para os cultivos seguintes.
Esse é o caso dos nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp), gênero que compreende várias espécies com comportamento polífago e cosmopolita, sendo relatado parasitando centenas de espécies de plantas em diversas regiões agrícolas do mundo e reportado como o gênero com maior importância agrícola, devido aos elevados prejuízos gerados aos cultivos que são parasitados.
A espécie M. graminicola parasita culturas e pastagens como arroz, trigo, aveia, cevada, centeio e azevém. Enquanto as espécies M. incognita, M. javanica, M. arenaria, M. paranaenses, M. morocciensis e M. ethiopica são mais frequentes em culturas como soja, feijão, tabaco, milho, cana-de-açúcar, pessegueiros, videiras, além de poder estar presente em espécies arbóreas destinadas a cultivos florestais e plantas ornamentais. Esse mesmo gênero de nematoides já foi reportado parasitando e se reproduzindo em diversas espécies de plantas daninhas de grande disseminação em áreas agrícolas brasileiras, como caruru (Amaranthus sp.), corda-de-viola (Ipomoea sp.), maria-pretinha (Solanum americanum), capim-arroz (Echinochloa spp.), Ciperaceas (Cyperus sp.), picão-preto (Bidens sp.), entre outras (Tabela 1).
Outro importante gênero de nematoides polífagos é o Pratylenchus, capaz de parasitar cultivos agrícolas e plantas daninhas gramíneas e dicotiledôneas. P. zeae é um importante fitoparasita nas culturas do milho, arroz, cana-de-açúcar, sorgo e inúmeras forrageiras gramíneas, podendo atingir perdas de produtividade de 20 a 50%, em função da espécie parasitada. Enquanto P. brachyurus apresenta impacto principalmente nas culturas do café, algodão e soja, sendo que a redução da produtividade pode alcançar mais de 30% para esta última cultura. Da mesma forma como relatado para o gênero Meloidogyne, muitas espécies de plantas daninhas são hospedeiras alternativas de nematoides P. zeae e P. brachyurus, destacando a presença em milhã (Digitaria sp.), azevém (Lolium multiflorum), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), papuã (Urochloa plantaginea), picão-preto (Bidens sp), cyperus (Cyperus sp.), entre outras (Tabela 1).
Impacto causado pela associação entre plantas daninhas e nematoides
O comportamento de hospedeiras alternativas apresentado por inúmeras plantas daninhas, aliado à sua ampla distribuição geográfica, agrava o impacto negativo provocado por essas espécies, gerando elevadas perdas em produtividade e qualidade das mais diversas culturas, culminando em importantes perdas econômicas.
É importante considerar que o manejo de plantas daninhas já se apresenta como o principal custo quando se refere a manejo fitossanitário, mas a ausência de controle das mesmas acarreta prejuízos ainda mais severos. Os gêneros de plantas daninhas Amaranthus, Ipomoea, Cyperus, Digitaria e Echinochloa contemplam atualmente as principais daninhas do sistema produtivo brasileiro e mundial, apresentando inúmeros casos de resistência a herbicidas, fato que torna muito complexo seu manejo.
Este cenário é ainda mais preocupante quando as plantas daninhas agregam o agravante de serem hospedeiras e multiplicadoras de fitonematoides. Entretanto, o controle de plantas daninhas, além de reduzir os prejuízos aos cultivos agrícolas provocados por competição, torna-se de vital importância para reduzir os danos e prejuízos causados por fitonematoides.
Esse fato é decorrente da necessidade deste patógeno ter um hospedeiro vivo para sobreviver e multiplicar-se, sendo que a ausência de plantas daninhas reduz a capacidade dos mesmos em permanecer no solo por muitos anos. Nesse contexto, o conhecimento da ocorrência e distribuição de plantas daninhas hospedeiras de fitonematoides em áreas agrícolas, em conjunto com a determinação do hábito polífago dos nematoides, tornam-se ferramentas importantes para delimitar estratégias de manejo desses dois graves problemas da agricultura atual.
É importante ressaltar que o manejo de fitonematoides é um processo oneroso em tempo e recursos, ou seja, dependerá de esforço contínuo para reduzir sua população em níveis que não gerem perdas significativas nas culturas de interesse econômico. A estratégia de manejo deverá estar baseada em uso de cultivares tolerantes, rotações de culturas com plantas com baixo fator de reprodução, uso de nematicidas químicos e biológicos, e contínuo monitoramento e controle de plantas daninhas, especialmente nos períodos em que os cultivos não estão presentes, tornando estas a única fonte de alimento para os fitonematoides. Deste modo, o manejo integrado de fitonematoides está atrelado ao manejo de plantas daninhas hospedeiras desses parasitas, devendo ser planejado de forma conjunta, contínua e persistente para alcançar resultados significativos.
Tabela 1. Comportamento de diferentes plantas daninhas a nematoides parasitas de plantas
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