As perdas na produção da beterraba atribuídas aos nematoides podem chegar a 100%, dependendo do nível populacional da espécie presente, da suscetibilidade da cultivar e das condições ambientais do local, como umidade, temperatura e tipo de solo.
No Brasil, os maiores danos são provocados pelos nematoide-das-galhas, Meloidogyne spp., em especial M. incognita e M. javanica, espécies mais distribuidas nas regiões produtoras. A alta incidência destas duas espécies é atribuída à capacidade de reprodução em regiões com ampla variabilidade de temperatura do solo, de 18ºC a 32ºC. Por outro lado, Meloidogyne hapla e M. arenaria ocorrem em áreas isoladas do país e causam maiores problemas em regiões tropicais e subtropicais.
A infecção em beterraba pelo nematoides do gênero Meloidogyne spp. pode estar limitada a áreas localizadas de um campo ou se estender por toda área de cultivo. Os danos causados por fitonematoides não estão associados somente à redução no peso das beterrabas, mas também às alterações fisicoquímicas devido à infecção, com interferência direta na qualidade comercial do produto. Além disso, sua importância se reflete na aplicação de nematicidas de solo por ocasião do plantio, que resulta em custos adicionais de produção e, principalmente, na contaminação ambiental e em riscos à saúde do aplicador e do consumidor.
Os fitonematoides interagem com patógenos de solo de grande importância em áreas de cultivo de beterraba, como Rhizoctonia solani, pois o fungo penetra nas raízes da planta por portas de entradas produzidas pelos nematoides. Também, podem ocorrer simultaneamente com patógenos de parte aérea como a mancha foliar de cercospora e viroses o que pode contribuir para intensificação dos danos causados à cultura.
Sintomas
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Esses nematoides atacam geralmente pequenas raízes, induzindo à formação de galhas (Figuras 1 e 2), que podem ter de um a vários nematoides em seu interior. As galhas se formam ao redor do sítio de infecção devido à hiperplasia (aumento no número de células) e hipertrofia (aumento no tamanho das células) das células do hospedeiro.
A presença de galhas nas raízes reduz a capacidade de absorção de água e de nutrientes pelo sistema radicular, causando o aparecimento de sintomas na parte aérea das plantas como folhas cloróticas ou atrofiadas, ou na semeadura pode afetar a emergência quando altos níveis populacionais do patógeno estão presentes no solo. Em temperaturas elevadas e solos arenosos ou em climas quentes e secos, plantas severamente infectadas podem murchar e pode ocorrer perda total do cultivo.
As infecções podem ser acompanhadas por podridão radicular, resultantes da invasão secundária de bactérias ou fungos.
Medidas gerais de manejo
Em áreas ainda indenes, livres do patógeno, deve se ter o cuidado com a limpeza de maquinários para evitar possíveis restos culturais ou partículas de solo contendo o nematoide. Encanteiradoras, por exemplo, podem carregar partículas de solo com Meloidogyne e fazer a disseminação de uma área infectada para outras áreas. Assim, a utilização de jatos fortes de água para remoção de solo aderido aos maquinários é eficiente para evitar a disseminação desses organismos.
Para áreas que já possuem histórico de ocorrência de Meloidogyne, o manejo deve levar em conta a integração de estratégias de manejo. Dentre essas estratégias, a utilização de nematicidas químicos e biológicos tem apresentado resultados satisfatórios na redução da população de Meloidogyne.
A rotação de cultura com plantas não hospedeiras do Meloidogyne são recomendadas para áreas com a presença deste patógeno. Entretanto, a rotação é bastante difícil, por exemplo, M. incognita apresentam mais de 3000 espécies de plantas hospedeiras, ainda possui quatro diferentes raças (1, 2, 3 e 4) caracterizadas por parasitar diferentes espécies de plantas. Em áreas infestadas por M. incognita tem-se a opção de rotação com amendoim (Arachis spp.), braquiárias (Brachiaria spp.), crotalária (Crotalaria spectabilis) e mamona (Ricinus communis).
Eliminação de plantas daninhas hospedeiras como beldroega (Portulaca oleracea), corda-de-viola (Ipomoea spp.), maria-pretinha (Solanum americanum), melão-de-são-caetano (Momordica charantia), dentre outras.
O manejo bem sucedido dos nematoides-das-galhas depende da integração de diversas estratégias e táticas, envolvendo rotação/sucessão de culturas, uso de cultivares e genótipos resistentes (quando disponíveis), manejo físico e químico do solo. O manejo do Meloidogyne deve ser realizado pensando no sistema de cultivo, evitando um acréscimo populacional.