Histórico
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Uma primeira solicitação de avaliação toxicológica do benzoato de emamectina no Brasil para fins de registro ocorreu em 2003, no qual a Helicoverpa armigera ainda não se enquadrava como praga alvo. A avaliação revelou alguns efeitos tóxicos e em função da existência de outros inseticidas eficientes no mercado menos tóxicos, a Anvisa indeferiu o pedido em 2010. Porém, em 2013 em função dos ataques de Helicoverpa armigera no Brasil, o MAPA concedeu a liberação em caráter emergencial para uso do produto em algumas regiões de maior risco da praga.
A partir disso, foi dado entrada a um novo pedido de registro do referido produto pela empresa detentora. Com isso, o MAPA incluiu o benzoato de emamectina na lista de produtos prioritários para análise. Após novos estudos toxicológicos, a Anvisa obteve novas evidências que não se repetiram com os dados até então protocolados das análises anteriores, indicando um menor risco do produto. Assim, em novembro de 2017 a Anvisa publicou a conclusão da avaliação toxicológica desse inseticida liberando o produto para fins de registro junto ao MAPA. O ingrediente ativo foi enquadrado na Classe Toxicológica I, extremamente tóxico, devido ao resultado do estudo de irritação ocular.
Assim, para safras futuras teremos disponível no mercado mais essa opção de inseticida para manejo de pragas. Seu uso terá incialmente registro para aplicação foliar nas culturas de algodão, feijão e soja para controle de lagartas.
Principais pragas alvos e seletividade
O benzoato de emamectina é altamente potente contra um amplo espectro de lepidópteros, ou seja, lagartas que atacam as grandes culturas. Esse inseticida se mostrou altamente potente contra um grande número de espécies de lagartas, incluindo principalmente as do gênero Helicoverpa, Spodoptera, Chrysodeixis e Tricloplusia.
O benzoato é marcadamente menos tóxico a maioria dos artrópodes não-lepidópteros e com isso apresenta uma boa seletividade. Não possui alta toxicidade contra ácaros como Tetrancychus urticae mesmo sendo do mesmo grupo químico das abamectinas (Dybas et al., 1989). Benzoato também se mostrou pouco tóxico para alguns artrópodes benéficos, como por exemplo as abelhas, parasitoides e predadores, principalmente quando a exposição se deu um dia após a aplicação (Lasota & Dybas, 1991). Essa menor toxicidade pode ser relacionada a sua ação translaminar na folha e a curta meia-vida dos resíduos que ficam na superfície das folhas, já que esse inseticida é altamente suscetível a fotodegradação (Feely et al., 1992).
Como se dá o mecanismo de ação do benzoato de emamectina?
O benzoato de emamectina é um inseticida pertencente ao grupo químico das avermectinas e enquadrado ao modo de ação 6 (MoA 6) pela classificação do Insecticide Resistance Action Committee (IRAC, 2017).
O GABA (ácido gama-aminobutírico) é um neurotransmissor com efeito inibitório no sistema nervoso central e junções neuromusculares. Ao se ligar ao receptor pós-sináptico, o GABA estimula a abertura dos canais de cloro induzindo o fluxo de cloro para dentro da célula nervosa o que é responsável pelo efeito inibitório no sistema nervoso.
O benzoato por ser um agonista de GABA imita esse efeito e assim induz o fluxo de cloro para dentro da célula, o que resulta na ruptura dos impulsos nervosos, perda da função celular e efeito super calmante ao inseto.
Com o efeito do benzoato de emamectina, os insetos ficam paralisados irreversivelmente e param de se alimentar. A mortalidade máxima dos insetos é alcançada dentro de 4 dias. Embora o benzoato de emamectina não exiba uma rápida mortalidade dos insetos, a paralisia da alimentação é rápida e consequentemente o dano a cultura é cessado, porque as pragas deixam de se alimentar logo após a ingestão.
Qual a forma de absorção do inseticida pelos insetos?
O benzoato de emamectina pode intoxicar os insetos por contato e ingestão, no entanto a ingestão é considerada a principal via pela qual os insetos acumulam uma dose letal. Esse inseticida pode penetrar a cutícula e apresentar movimento translaminar na folha. Essa penetração nos tecidos permite a manutenção do ativo por mais tempo na folha sendo isso responsável por proporcionar um efeito residual no controle de lepidópteros que ao consumirem a folha ingerem juntamente o produto (Jansson & Dybas, 1996).
Praticas anti-resistência
Para minimizar os riscos com resistência e prolongar a vida útil do inseticida no mercado, esse produto deverá ser utilizado em momentos corretos, não deverá ser utilizado em repetidas aplicações de maneira sequencial, deverá ser rotacionado com outros inseticidas com diferentes mecanismos de ação, utilizar associação com estratégias de controle biológico e ainda limitar em até duas aplicações por ciclo das culturas.
Literatura consultada
Lasota JA; Dybas RA. Avermectins, a novel class of compounds: implications for use in arthropod pest control. Annual Review of Entomology. 1991; 36: 91–117.
Jansson RK, Dybas RA. Avermectins, biochemical mode of action, biological activity, and agricultural importance. In: Insecticides with Novel Modes of Action: Mechanism and Application (ed. I. Ishaaya) Springer, New York. 1996.
Feely WF. Crouch LS, Arison BH, Vanden Heuvel WJA, Colwell LF and Wislocki PG. Photodegradation of 4″-(epimethylamino)-4″- deoxyavermectin B1a thin films on glass. Journal of Agricultural and Food Chemistry. 1992; 40: 691–696.
Dybas RA. Abamectin use in crop protection. In: Ivermectin and Abamectin (ed. W.C. Campbell) pp. 287–310. Springer, New York. 1989.
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