O manejo das doenças do arroz deve ser estruturado em torno do manejo da cultura, características genéticas varietais, estratégias voltadas à redução no inóculo disponível para infecção e práticas de proteção química.
Cada cultivar responde de uma maneira aos tratamentos fungicidas. O diferencial de rendimento entre cultivares tratadas e não tratadas pode ser observado na figura abaixo:
O manejo cultural
O manejo cultural da lavoura associado às características genéticas das cultivares constituem-se na base para o controle da maioria das doenças na cultura do arroz, apresentando influência decisiva sobre a incidência e severidade das doenças na cultura.
Sementes sadias
A utilização de sementes sadias livres do patógeno evita a infecção das plântulas mantendo um estande de plantas compatível com altos rendimentos. Como muitas doenças são disseminadas pelas sementes e qualidade das sementes nem sempre atinge níveis compatíveis é indicada a utilização do tratamento com fungicidas para reduzir o potencial de inóculo.
Manejo de adubação
Neste particular, diversos fatores interagem, afetando a estabilidade da lavoura. Variações significativas na nutrição da planta, como adubação nitrogenada excessiva, atraso na colocação de água após a adubação de cobertura ou mesmo parcelamento da mesma, provocam um desbalanço nutricional na planta em parte devido à redução na absorção de nutrientes como potássio, essencial na estruturação da parece celular e, juntamente ao cálcio e fósforo, atuarem em diversas rotas metabólicas de defesa das plantas. Este conjunto de mecanismos acaba por favorecer a progressão mais rápida das doenças exigindo uma antecipação do controle químico, ou, em situações extremas, reduzindo a resposta obtida pela adoção do mesmo.
Época de semeadura
A época de semeadura é outro fator importante no manejo de doenças. A antecipação da semeadura favorece que o estádio reprodutivo do arroz ocorra sob condições climáticas menos favoráveis aos patógenos. Amplitude térmica e umidade relativa do ar elevadas, nebulosidade e precipitação freqüentes, comuns a partir do mês de fevereiro, favorecem progressão mais rápida e mais antecipada das doenças. No caso de cultivares de ciclo médio tardio ou tardio, a propensão ao ataque de doenças torna-se maior.
Manejo de irrigação e preparo do solo
A desuniformidade da irrigação pode causar estresse nas plantas favorecendo a infecção tanto por patógenos de parte aérea como radiculares.O mau preparo do solo, que proporciona a formação de micro relevos, não completamente cobertos pela lâmina de irrigação, favorece a ocorrência de doenças. Deve ser destacado que sob condições de irrigação restrita ou mesmo sob sequeiro prolongado, observa-se maior sensibilidade das plantas ao ataque dos patógenos. Esta situação também pode ser observada em lavouras onde é realizada a semeadura nas taipas que não são atingidas pela lâmina de irrigação, onde a incidência das doenças é maior e mais antecipada. Nestes casos, cria-se ao longo das taipas uma região capaz de produzir uma quantidade, não raro, muito elevada de inóculo, podendo comprometer faixas extensas da lavoura em anos com chuvas freqüentes ou em períodos do ano mais favoráveis às doenças.
Ainda com respeito ao preparo do solo, logo após a colheita o solo deve ser uniformizado para que os depósitos de água sejam eliminados, evitando a sobrevivência de patógenos principalmente de Rhyzoctonia spp. A preparação antecipada do solo, normalmente realizada no período do verão, pode propiciar destruição significativa dos restos culturais, favorecendo a destruição de estruturas de sobrevivência dos fungos. Em adição ao preparo do solo, a eliminação de hospedeiros intermediários tais como plantas daninhas de ocorrência espontânea na área reduzem o inóculo presente na lavoura tanto na safra quanto na entressafra.
Densidade de semeadura
O aumento da densidade de semeadura promove a criação na planta de uma região com maior sombreamento. A ausência de luz em parte do dossel da planta provoca uma redução no acúmulo de compostos carbonados essenciais para que processos fisiológicos constitutivos operem normalmente. No caso de luminosidade restrita, compostos relacionados à senescência tendem a se acumular e, em consequência, patógenos necrotróficos iniciem um processo de infecção que resulta na morte antecipada da porção inferior da planta favorecido ainda mais pelo microclima formado nesta região da planta, como alta umidade relativa do ar, redução de luminosidade incidente, diminuição da aeração, aumento de temperatura e aumenta o molhamento foliar que estimula a geminação do esporo e infecção da planta. Com a morte dos tecidos, tanto a penetração dos fungicidas como sua mobilidade nos tecidos sombreados torna-se reduzida, resultando em uma redução na eficácia dos mesmos.
O manejo químico
O controle químico do complexo de doenças da parte aérea da cultura arroz está intimamente relacionado à época de aplicação. A aplicação de fungicidas, quando realizada preventivamente, é altamente econômica (Figura 4).
O momento da aplicação é influenciado por todos os fatores até o momento enumerados, fazendo com que o controle seja utilizado de forma mais antecipada ou mais atrasada na medida em que as condições favorecerem epidemias entre o perfilhamento e o emborrachamento, ou no caso de epidemias serem favorecidas a partir da emissão de panículas. Nestas condições, o aumento de produtividade tem sido obtido na faixa de 5 a 50% sobre as áreas não protegidas.
O número de aplicações depende basicamente do momento em que a primeira aplicação foi realizada e das condições climáticas em que a doença se estabelece. Ambas condições mostram-se relacionadas à época de semeadura e ao local onde a lavoura está sendo conduzida. Lavouras implantadas a partir da segunda quinzena de novembro na Depressão Central ou Litoral Norte mostram-se mais atacadas e sujeitas a uma segunda aplicação do que lavouras implantadas na época recomendada nestes mesmos locais.
O controle químico das doenças de parte aérea do arroz é uma ferramenta que proporciona estabilidade de produção, eficiência técnica e retorno econômico, desde que acompanhada de um conjunto de medidas de produção e manejo cultural que propiciem à cultura adaptação e desempenho compatíveis com altos rendimentos.