A mancha-de-ramulária do algodoeiro, causada pelo fungo Ramulariopsis gossypii (sin. Ramularia areola), é a doença mais importante da cultura do algodoeiro na atualidade. A doença pode causar reduções de produtividade de até 75%, dependendo da suscetibilidade da cultivar, inóculo inicial, condições de ambiente e das práticas de manejo empregadas para o seu controle.
Os sintomas da mancha-de-ramulária são bem característicos e aparecem em ambas as faces da folha, inicialmente como manchas branco-azuladas na face adaxial e presença de micélio branco na face abaxial, devido à esporulação abundante. A doença pode causar danos às células do mesófilo, às membranas, ao funcionamento da maquinaria enzimática, na abertura e fechamento dos estômatos, afetando a transpiração, o influxo do CO2 e a taxa fotossintética.
O início do processo infeccioso ocorre a partir de conídios ou ascósporos produzidos sobre restos culturais de algodão ou em plantas de algodão perenizadas, constituindo-se no inóculo primário. O inóculo secundário é formado a partir da infecção das primeiras folhas e então se dissemina através de chuva, irrigação, vento, pessoas e máquinas. Desse modo, áreas com histórico de cultivo com algodão tendem a ter maior severidade da mancha-de-ramulária.
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Os efeitos dessa doença sobre a produtividade do algodoeiro são bem conhecidos por cotonicultores e pesquisadores, entretanto, além de reduzir a quantidade, a mancha-de-ramulária pode prejudicar também a qualidade da fibra de algodão, afetando características tecnológicas como micronaire, comprimento e resistência. Essas características, juntamente com outras determinadas através da análise de HVI (High Volume Instrument), são utilizadas para definir a qualidade do lote de algodão e, consequentemente, se haverá ágio ou deságio sobre o valor da venda.
A análise e classificação das fibras são indispensáveis no mercado do algodão, auxiliando produtores e compradores nas tomadas de decisão a respeito do comércio da pluma. Atualmente, o padrão de classificação oficial do algodão no Brasil é determinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio da Instrução Normativa n° 24, de 14 de julho de 2016.
A fibra produzida nas lavouras precisa atender aos padrões mínimos estabelecidos pela indústria têxtil e exigidos pelo consumidor final para que o algodão produzido possa ser comercializado e industrializado. A obtenção de uma fibra de qualidade depende de diversos fatores de ordem biótica e abiótica, dentre os quais se incluem a genética da cultivar, tipo de solo, nutrição, condições de ambiente e ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas.
Experimentos de Campo
Foi realizado experimento de campo com a cultivar BRS 336 em Cristalina-GO com o objetivo de determinar os danos causados pela mancha-de-ramulária sobre a produtividade e qualidade da fibra do algodão. Foram avaliados tratamentos com e sem a aplicação de fungicidas e as variáveis mensuradas foram a severidade da doença, produtividade de algodão em caroço e as características tecnológicas da fibra micronaire, comprimento e resistência.
Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que a severidade da mancha-de-ramulária foi maior nas parcelas que não receberam aplicação de fungicida, que por consequência obtiveram menor produtividade (Figura 1). A diferença de produtividade entre a testemunha e o tratamento com aplicação de fungicidas foi de 76 @/ha (24,5%).
A qualidade da fibra obtida, representada no presente trabalho pelas características tecnológicas micronaire, comprimento e resistência, foi afetada negativamente pela mancha-de-ramulária. Os valores obtidos para cada uma dessas características foram menores nas parcelas que não receberam aplicação de fungicida (Figura 2).
A fibra de algodão é constituída principalmente por celulose, que representa aproximadamente 90% do seu peso seco. O processo de deposição de celulose, responsável pela formação da fibra, é afetado diretamente pela disponibilidade de carboidratos produzidos através da fotossíntese. A mancha-de-ramulária afeta a capacidade fotossintética da planta e consequentemente as características de qualidade da fibra.