1º passo:
Quando foi o momento da primeira aplicação?
A primeira aplicação em soja é um dos fatores que mais influenciam no sucesso ou fracasso dos programas de controle da ferrugem (Phakopsora pachyrhizi). O desempenho do fungicida reduz gradativamente à medida que se atrasa a aplicação em relação ao início da doença na cultura.
Se a primeira aplicação foi preventiva, no vegetativo da soja, sobre planta sadia, folhas verdes, com boa penetração de gotas:
O residual vai ser máximo e dependendo da época de semeadura e da cultivar possibilitará intervalo mais longo até a segunda aplicação. Aplicações preventivas visam atrasar o início das doenças e diminuir a produção de esporos, que poderão causar novas lesões e aumentar a severidade da doença no campo rapidamente.
Se a primeira aplicação foi tardia após o aparecimento dos sintomas:
Nesse caso caracteriza-se ação erradicante para as lesões já existentes, e curativo para muitas lesões que estão latentes, prontas para esporular nos próximos dias.
Esse cenário reduz a eficácia e o residual dos fungicidas, principalmente dos mesostêmicos (estrobilurinas e carboxamidas), devido à baixa mobilidade nos tecidos e os protetores (multissítios), devido à não ser sistêmicos na planta.
Curar lesões e barrar a produção de esporos é uma tarefa árdua para o fungicida quando comparado a tarefa de evitar que o fungo penetre. Nesse cenário poderá haver a necessidade de encurtar os intervalos entre aplicações subsequentes.
Iniciar as aplicações no vegetativo: qual a importância disso?
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Aplicações antecipadas, no vegetativo, visam proporcionar maior deposição de gotas nas folhas inferiores de maneira antecipada ao início das doenças, caracterizando-se como uma aplicação preventiva. A maior deposição garante uma maior concentração do fungicida sobre as folhas.
O fungicida, estando mais concentrado, terá maior funcionamento sobre as doenças que podem incidir cedo na cultura, principalmente sobre o complexo de manchas foliares, antracnose e a própria ferrugem, dependendo da época de semeadura.
Você sabe qual a importância de monitorar a sua lavoura após a primeira aplicação?
Considerando que a nossa primeira aplicação em soja seja feita de maneira preventiva, o monitoramento da lavoura servirá como indicativo para o estabelecimento do intervalo de aplicação. Com o monitoramento podemos avaliar a necessidade de manter o intervalo como planejado, encurtar o intervalo de aplicação ou estendê-lo, baseando-se na eficácia da primeira aplicação.
Por exemplo: “a primeira aplicação atrasou, detectaram-se problemas de deposição de gotas, produto mal selecionado, ocorrência de doenças, principalmente manchas e antracnose”.
Isso poderá ser indicativo da necessidade de reentrada antecipada e encurtamento do intervalo de aplicação, para frear a evolução das doenças. Essa situação, dependendo do clima, pode ser uma realidade em regiões do centro-oeste com forte pressão de manchas.
Clique nos cards abaixo e acompanhe algumas dicas sobre como monitorar sua lavoura:
Dicas para monitorar a sua lavoura: Complexo de manchas foliares
Dicas para monitorar a sua lavoura: Ferrugem
Dicas para monitorar a sua lavoura: Antracnose
2º passo:
O intervalo da primeira para a segunda aplicação
O número de aplicações do programa vai depender da época de semeadura, do ciclo da cultivar e das condições ambientais, sendo determinado em função da maior ou menor pressão de doença e o intervalo utilizado entre as aplicações.
Em soja tem sido preconizado que a floração da cultura é o momento crítico para posicionamento de uma aplicação.
Assim, teremos diferentes cenários: para aqueles que fizeram uma aplicação no vegetativo essa aplicação em reprodutivo (R1-R2) será a segunda aplicação, ou poderá ser a primeira aplicação para aqueles que não entraram com controle no vegetativo.
Fique atento!
Para aqueles que fizeram uma aplicação no vegetativo, de maneira preventiva, é possível a utilização de intervalos entre 15 a 18 dias de residual, desde que utilizados produtos eficientes com adição de produtos de reforço. Assim, a segunda reentrada poderá ser entre R1-R2 sem que haja grandes prejuízos, visto que a primeira camada de folhas foi protegida e está livre de doenças.
Porém, para aqueles que não fizeram a aplicação no vegetativo e decidiram entrar mais tarde, o R1 é o limite e praticamente mandatório para uma primeira aplicação.
Veja o que o professor e pesquisador Ph.D. Ricardo Balardin tem a dizer no vídeo abaixo.
3º passo:
O intervalo da segunda para a terceira aplicação
O intervalo da segunda para a terceira aplicação é um momento crucial no programa fungicida, visto que, historicamente, coincide com o período de aumento significativo da pressão de ferrugem no campo. Assim, flexibilizar esse intervalo pode comprometer significativamente o desempenho do programa e das últimas aplicações.
Veja no vídeo abaixo o que a pesquisadora do Instituto Phytus, Dra. Mônica Debortoli realça sobre esse aspecto.
No II Seminário Phytus, ocorrido em Porto Alegre em julho de 2017, a Dra. Mônica apresentou dados referentes a utilização de 14 ou 21 dias entre a segunda e a terceira aplicação, período que coincidiu com a evolução da ferrugem no campo.
Foram obtidos dados em nove cultivares de soja, sendo que em todas houve ganho produtivo significativo através do uso do intervalo mais seguro de 14 dias em relação a 21 dias.
Fique atento!
Precisamos assumir que a fisiologia da planta a partir do estádio reprodutivo sofre mudanças que afetam o desempenho dos fungicidas e fazem com que os residuais sejam menores, criando-se a necessidade de intervalos mais seguros entre aplicações.
- A formação de flores e legumes demanda a energia produzida e estocada no período vegetativo. Assim, a disponibilidade de energia da planta para defesas diminui e acaba se tornando mais suscetível às doenças.
- A medida em que as plantas se tornam mais velhas a taxa de absorção de fungicidas torna-se dificultada. Além da menor penetração de gotas pelo fechamento da entrelinha, a absorção em folhas mais velhas também é menor.
A figura abaixo ilustra dados que mostram esse comportamento:
Acompanhe abaixo a opinião do pesquisador Ph.D. Ricardo Balardin sobre os fatores que afetam a absorção dos fungicidas:
Períodos chuvosos favorecem a doença e podem reduzir o residual dos fungicidas e demandar ajustes no intervalo de aplicação
Chuvas frequentes podem remover o ingrediente ativo das folhas antes que ele seja absorvido, o que pode afetar o residual. Além disso, sob adequada umidade no solo as plantas mantêm seu metabolismo acelerado e a persistência e meia vida dos ativos na planta podem ser menores. Nesse caso, considerando que chuvas também favorecem a doença, pode haver a necessidade de ajustar e encurtar os intervalos de aplicação, afim de aumentar proteção.
Cuidado com os períodos secos: eles podem desfavorecer a evolução das doenças, porém o programa deve ser mantido
Mesmo em períodos secos as infecções de ferrugem podem ocorrer. Durante a noite as condições de molhamento foliar são ideais para a infecção, e devido à ausência de luz caracteriza-se como o período preferencial para infecção.
O período seco faz com que o número de dias entre a chegada do esporo e a manifestação dos sintomas seja maior em comparação a períodos úmidos, ficando as infecções em fase latente. Isso faz com que o aumento da severidade da ferrugem no campo diminua.
No entanto quando a condição climática propicia chuvas frequentes, as infecções latentes tornam-se ativas. Assim, caso deixemos de aplicar o fungicida no período seco, podemos favorecer a rápida evolução da doença quando o clima volta a ser favorável e assim, com atraso criamos uma situação de difícil controle.
Veja no vídeo abaixo a análise feita pelo pesquisador Dr. Leandro Marques sobre a ocorrência de períodos secos.
4º passo:
Como fica o programa de controle quando se inicia corretamente as aplicações?
E quando atrasamos demais o início?
Atrasos na época de semeadura e a não realização de uma aplicação no vegetativo poderá implicar na redução dos residuais de controle a partir de R1 fazendo com que os intervalos das demais aplicações tenham que ser encurtados em função do aumento da pressão da doença.
Isso poderá refletir na necessidade de maior número de aplicações no final para complementar o programa, dependendo do ciclo da cultivar. Porém, é importante de considerar que mesmo com maior número de aplicações, a eficácia de controle do programa como um todo será menor em função do atraso do início permitir que as doenças iniciem e evoluam quando deveriam ser controladas.